Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações da soja, em Chicago, voltaram a despencar nesta semana. O primeiro mês cotado fechou a quinta-feira (21) em US$ 14,18/bushel, contra US$ 14,71 uma semana antes (considerando agosto como o primeiro mês cotado). O valor deste dia 21/07 é o menor desde o dia 25 de janeiro, para o primeiro mês cotado.

E isso, mesmo com o USDA reduzindo para 61% o índice de lavouras estadunidenses, de soja, entre boas a excelentes, até o dia 17/07, contra 62% na semana anterior, sendo que outros 29% permaneciam regulares e 10% entre ruins a muito ruins. Na safra anterior, nesta data, havia 60% de lavouras entre boas a excelentes. Por sua vez, 48% das lavouras estavam em fase de florescimento naquela data, naquele país, contra 55% na média histórica.

Por outro lado, em termos de exportação, a demanda continua muito fraca, com a soja caindo muito em relação ao normal para esta época. Assim, na semana encerrada em 14/07, os EUA venderam 203.500 toneladas relativas a safra 2021/22. Com isso, o total exportado no atual ano comercial atingiu a 59,6 milhões de toneladas, superando de pouco os 59,1 milhões que o USDA esperava para todo o ano comercial. Para a safra 2022/23 foram vendidas 254.700 toneladas. Como se nota, os volumes foram bastante baixos.

Paralelamente, a Associação Nacional das Processadoras de Oleaginosas, dos EUA, informou que o esmagamento de soja naquele país, em junho, atingiu 4,48 milhões de toneladas, contra 4,66 milhões em maio. Todavia, o volume de junho foi 8% superior ao volume registrado em junho do ano passado, sendo o segundo melhor volume da história para o mês de junho.

Enquanto isso, na China, a demanda continua mais fraca, com o país asiático tendo importado 46,29 milhões de toneladas de soja no primeiro semestre do corrente ano. Este volume representa um recuo de 5,5% sobre igual período do ano anterior. Mas o mercado espera que os chineses recuperem esse atraso no segundo semestre, porém, não há garantias para isso, pois ninguém sabe como os chineses irão se organizar diante da continuidade de margens de esmagamento ainda negativas. Além disso, os lockdowns continuam no país, diante de novos avanços da Covid-19.

Nesse contexto, o Brasil vem perdendo espaço de mercado. O recuo das cotações da soja, em Chicago, tornaram o produto estadunidense mais competitivo do que o brasileiro no momento. Isso está fazendo com que os prêmios nos portos brasileiros comecem a recuar, enquanto as exportações de soja norte-americana crescem na direção da China. Em junho, a China importou 7,24 milhões de toneladas de soja do Brasil, contra 10,48 milhões um ano antes. Enquanto isso, os embarques de soja dos Estados Unidos chegaram a 773.114 toneladas em junho, ante 54.806 toneladas no mesmo mês do ano passado. Todavia, enquanto suas importações totais de soja recuaram 23% na comparação mensal, em junho, no acumulado do primeiro semestre, a China trouxe 27,71 milhões de toneladas de soja brasileira, ante 26,13 milhões de toneladas no mesmo período de 2021. Já as importações dos Estados Unidos somaram 17,54 milhões de toneladas de janeiro a junho, contra 21,57 milhões de toneladas no ano anterior.

Enquanto isso, no Brasil, os preços se mantiveram relativamente estáveis, com o câmbio sustentando os mesmos, já que Chicago e os prêmios recuaram. Assim, a média gaúcha, no balcão, fechou a semana em R$ 178,08/saco, enquanto as principais praças do Estado trabalharam com R$ 172,00. Já nas demais regiões brasileiras o preço da soja oscilou entre R$ 157,00 e R$ 170,00/saco.

Dito isso, espera-se um aumento de 2,6% na área a ser semeada com soja na nova safra nacional, o que elevaria a mesma para 42,9 milhões de hectares. Espera-se uma produtividade média, em clima normal, de 3.550 quilos/hectare, o que levaria a produção total para um recorde de 151 milhões de toneladas, ou seja, 20,3% superior à frustrada colheita da última safra. (cf. Safras & Mercado)

Por outro lado, diante do recuo nos preços da oleaginosa, a comercialização nacional do produto travou. Em relação à colheita 2021/22 cerca de 75% da soja já teria sido comercializada. Já em relação a safra futura os negócios estão mais lentos, com cerca de 20% apenas negociado antecipadamente, contra a média de 30% a 35% nos anos anteriores.

Enfim, os vendedores brasileiros possuem ainda muita soja disponível, diante da fraca demanda externa e mesmo com a frustração relativa da última safra. O volume disponível estaria ao redor de 39 milhões de toneladas, diante de uma demanda interna que ainda deverá, para o resto do ano, ser de 15 a 17 milhões de toneladas. Diante disso, mesmo com um câmbio se aproximando dos R$ 5,50 por dólar, o forte recuo em Chicago está limitando os ganhos dos produtores brasileiros. Agora, é esperar as próximas semanas e o comportamento climático sobre as regiões produtoras dos EUA. Entretanto, por enquanto está claro que as cotações em Chicago entraram em um patamar bem mais baixo do que estavam em boa parte do primeiro semestre do corrente ano.


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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