Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum

Em uma semana com dois feriados (dia 31/05 nos EUA e dia 03/06 no Brasil), o mercado da soja assistiu a uma recuperação das cotações em Chicago, porém, também viu um recuo nos preços brasileiros.

Em Chicago, o bushel da oleaginosa fechou a quinta-feira (03) em US$ 15,49, contra US$ 15,37 uma semana antes. A média de maio ficou em US$ 15,73, com 7,4% de aumento em relação a média de abril. A título de comparação, a média de maio de 2020 havia sido de US$ 8,42/bushel. Ou seja, Chicago hoje opera com cotações médias, para o primeiro mês cotado, superiores em 86,8% às de um ano atrás. Algo que está longe de ser normal, indicando, mais dia menos dia, para um ajuste importante. Vale destacar que, enquanto o farelo de soja se manteve abaixo dos US$ 400,00/tonelada curta naquela Bolsa, o óleo de soja, no dia 02/06, atingiu a cotação histórica de 70,38 centavos de dólar por libra-peso, algo somente visto, para o primeiro mês cotado, em 03 de março de 2008, quando a libra-peso bateu em 70,40 centavos. Esta elevação do óleo está ajudando a sustentar as cotações do grão, além da especulação sobre o clima nos EUA e também os baixos estoques neste país.

E tudo isso ocorre com o plantio da nova safra transcorrendo muito bem, tendo chegado a 84% da área esperada em 30/05, contra 67% na média histórica para esta época. Deste total semeado, 62% já havia germinado, contra 42% na média histórica.

Por outro lado, os embarques de soja estadunidense, na semana encerrada em 20/05, atingiram a 192.221 toneladas, ficando dentro das expectativas do mercado. No acumulado do ano comercial 2020/21 os embarques somam 56,4 milhões de toneladas, ou seja, 91% acima do registrado no ano anterior nesta época.

Por sua vez, na Argentina, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires reviu para cima a última colheita de soja naquele país, elevando a mesma para 43,5 milhões de toneladas. Lembrando que em 2019/20 o volume colhido foi de 49 milhões. Até o dia 26/05 a colheita desta safra de soja chegava a 91,4% da área total, com produtividade média de 2.720 quilos/hectare, ou seja, 45,3 sacos/ha. Lembrando que a Argentina sofreu severas perdas regionais em função do clima.

De forma geral, no mercado externo o clima nos EUA continua sendo o elemento central das oscilações em Chicago, a partir da constatação de estoques historicamente baixos no momento. Com isso, o mercado espera com atenção o novo relatório de oferta e demanda do USDA, previsto para o dia 10/06.



É preciso também considerar que o Brasil ainda possui cerca de 40 milhões de toneladas disponíveis da recente safra 2020/21, produto que poderá ser escoado no segundo semestre diante da boa competitividade da soja brasileira perante a dos EUA. A maior e mais longa participação brasileira no mercado da soja, neste ano, já se reflete nos negócios dos EUA. Fazem cinco semanas que praticamente a China não surge no mercado estadunidense para comprar soja da nova safra, que está sendo semeada no momento.

Enquanto isso, o Brasil atingia a marca de 16,4 milhões de toneladas em maio, contra pouco mais de 14 milhões em maio do ano passado. Portanto, são 16,3% acima do exportado no mesmo mês de 2020, segundo a Secex. No acumulado do ano, até a terceira semana de maio, o país havia exportado 46,5 milhões de toneladas de soja, contra 41,5 milhões no mesmo período do ano passado, atingindo um recorde exportado. Somando todo o complexo soja (grão, farelo e óleo) o Brasil já exportou 53,2 milhões de toneladas, contra 48,5 milhões no mesmo período do ano anterior.

Dito isso, o mercado internacional segue com atenção o comportamento da China no lado comprador de soja. Após adquirir muito produto, ajudando a puxar as cotações em Chicago para cima, o ritmo das compras chinesas diminuiu a partir do ressurgimento da peste suína africana. Além disso, como já comentado aqui em diversas oportunidades, diante dos altos preços mundiais da oleaginosa, os chineses realizam um consistente movimento de substituir a oleaginosa nas suas rações animais. Neste contexto, as vendas locais de farelo de soja são baixas, mantendo estoques de soja interessantes, além de reduzir o esmagamento do grão. Isso significa que a China pode buscar o que ainda precisa, em soja, no Brasil, deixando de lado o produto dos EUA. Esta realidade poderá causar uma reversão importante nas cotações em Chicago a partir da colheita estadunidense, em setembro/outubro, caso a nova safra venha normal.

Neste contexto, e diante de um câmbio que voltou a assistir uma forte valorização do Real, com a moeda brasileira batendo em R$ 5,08 por dólar durante a semana, os preços da oleaginosa no país voltaram a recuar. A média gaúcha ainda se manteve próxima da registrada na semana anterior, com R$ 161,51/saco, porém, o patamar de preços nas demais praças nacionais oscilou para baixo, ficando entre R$ 153,00 e R$ 164,00/saco, sendo que foram raras as praças com preços médios acima de R$ 160,00/saco. Por enquanto, os preços nacionais da soja estão sustentados apenas por Chicago, que ainda se mantém muito elevado, já que o câmbio recuou e os prêmios em nossos portos continuam negativos ou em torno de zero na maioria dos locais. Paranaguá, por exemplo, trabalhava, neste início de junho, com menos US$ 0,25/bushel. Nestas condições, caso Chicago recue para US$ 12,00/bushel em novembro, sob pressão da colheita nos EUA, e o câmbio e o prêmio permanecendo nos atuais níveis no Brasil, o preço da soja no balcão gaúcho pode recuar para algo entre R$ 110,00 e R$ 115,00/saco. Ou seja, um recuo de quase 32% sobre a média praticada no Estado nesta semana.


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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