Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

As cotações do milho em Chicago, após subirem levemente nesta semana, fecharam nos mesmos níveis da semana anterior, com o primeiro mês cotado fechando a quinta-feira (03) em US$ 3,44/bushel, contra os mesmos US$ 3,44 uma semana antes.

Mesmo com as condições das lavouras estadunidenses diminuindo de qualidade, em função dos recentes problemas climáticos no Meio Oeste dos EUA, as cotações têm se movimentado pouco se comparadas com a soja.

Dito isso, 62% das lavouras de milho nos EUA estavam então entre boas a excelentes até o dia 30/08, contra 64% na semana anterior. Outros 24% estavam regulares e 14% em condições entre ruins a muito ruins. Cerca de 63% das lavouras locais de milho estavam em fase de maturação no final de agosto, contra a média histórica de 56% para esta data.

Paralelamente, a consultoria privada StoneX, antiga INTL FCStone, reduziu a produtividade média esperada para esta safra, passando o milho para 11.276 quilos/hectare, ou seja, uma queda de quase três sacos/hectare em relação ao que havia sido indicado em agosto. Com isso, reduziu igualmente o volume estimado para a safra total de milho nos EUA, passando a mesma para 383,3 milhões de toneladas ante 389,3 milhões em agosto.

Por outro lado, os embarques estadunidenses de milho na semana anterior atingiram a 402.216 toneladas, ficando abaixo das projeções do mercado. Com isso, o acumulado no atual ano comercial que se encerrou em 31/08 atingia a 41,7 milhões de toneladas.

Diante da retomada de alta nos preços internacionais dos grãos, países como a China demonstram preocupação com a volta da inflação dos alimentos. A retomada de um consumo mais sustentado, após a Covid-19 estar mais controlada, é um dos motivos do atual movimento internacional.

No caso do milho especialmente, a China, depois de muitos anos, estaria na iminência de registrar escassez do produto em 2020/21 (ano comercial que se iniciou em 1º de setembro), a qual poderá gerar um déficit de 30 milhões de toneladas ou 10% da safra total do país. Isto explicaria a forte demanda chinesa igualmente pelo milho no mercado mundial nas últimas semanas. Na principal região produtora de grãos na China os preços do milho atingiram os melhores níveis dos últimos cinco anos no final de agosto (o equivalente a US$ 297,00/tonelada, ou seja, uma alta de 27% desde o início do ano).

Aqui no Brasil, os preços do cereal continuaram firmes e com viés de alta. A média gaúcha no balcão fechou esta primeira semana de setembro em R$ 50,44/saco, enquanto nas demais praças nacionais o milho registrou os seguintes valores: R$ 52,00 no centro de Santa Catarina e na região oeste do Paraná; R$ 48,00 na região de Londrina (PR); R$ 47,00 em Campo Novo do Parecis (MT); R$ 51,00 em Maracaju (MS); R$ 58,00 em Itapetininga (SP) e R$ 61,00 no CIF Campinas (SP); além de R$ 50,00/saco em Rio Verde e Jataí (GO). Neste quadro, vale destacar que o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (região de Campinas/SP) acumula um aumento de 20,8% em agosto (até o dia 28), fechando a R$ 60,97/saco naquela data. Este é o maior valor nominal da série histórica do Cepea, iniciada em 2004.



A tendência, por enquanto, é de preços firmes já que os produtores da safrinha estão segurando as vendas do cereal, ao mesmo tempo em que o câmbio, apesar da valorização recente do Real, ainda estimula as exportações.

Todavia, se o Real continuar a se valorizar e romper o piso dos R$ 5,00 por dólar, as exportações perdem competitividade e haverá mais oferta de milho no mercado interno. Isso tenderá a frear os preços, podendo trazê-los para níveis mais baixos no final do ano. Especialmente se a próxima safra de verão se mostrar positiva.

Além disso, um componente novo se faz presente no mercado nos últimos 10 dias. Com as geadas ocorridas nas regiões de produção de trigo, haverá um volume significativo de triguilho disponível para ração animal a partir deste mês de setembro, e pelo restante do ano já que a colheita do trigo se inicia no Paraná e logo mais avançará pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Esta concorrência do triguilho na ração animal forçará para baixo os preços do milho caso a exportação não der conta de escoar volumes acima de 30 milhões de toneladas no total do ano.

Neste sentido, nos 21 dias úteis do mês de agosto o Brasil exportou 6,5 milhões de toneladas de milho, com um aumento de 56% sobre o total embarcado em julho. Com isso, a média diária de embarques ficou em 308.815 toneladas, patamar 71% maior do que a média do mês passado. Entretanto, em comparação com o mesmo período do ano passado, a média de exportações diárias ficou 7,2% menor. O preço da tonelada de milho está 4,9% abaixo da média obtida na exportação em agosto do ano passado. Será preciso manter este volume exportado nos próximos meses para segurar os preços internos do cereal nos atuais níveis.

Quanto à colheita da safrinha 2020, segundo Safras & Mercado, a mesma chegava a 94% da área no dia 28/08, contra 96% na média histórica para esta data. O Paraná teria colhido 88% até aquela data; São Paulo 86%; Mato Grosso do Sul 80% (a Famasul local aponta colheita de apenas 64% da área); e Minas Gerais 81%. Goiáis e Mato Grosso já haviam encerrado a mesma.

No Mato Grosso, registra-se a segunda maior produtividade de milho safrinha da história do Estado, com 6.290 quilos/hectare ou 104,8 sacos/hectare. Lembrando que o Mato Grosso é o maior produtor de milho safrinha, colhendo cerca de 34 milhões de toneladas neste ano, sobre 5,4 milhões de hectares semeados (+11,2% sobre o plantio anterior).

No Paraná, enquanto a colheita da safrinha avança para o final, o plantio do milho de verão avançou para 9% da área esperada, esperando-se uma colheita de 3,4 milhões de toneladas, contra 11,8 milhões estimadas na atual segunda safra do cereal.

Enfim, no Mato Grosso do Sul a comercialização da safrinha chegava a 56% do volume total esperado. O preço médio deste milho em agosto ficou em R$ 44,16/saco naquele Estado, representando um ganho nominal de 63,3% sobre igual momento do ano passado.


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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ

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