Embora as doenças fúngicas sejam de maior destaque em termos de infecção e incidência na cultura da soja, algumas bactérias também são responsáveis por provocar doenças na cultura. As fitobactérias, são consideradas agentes causadores de doenças em plantas, no entanto, sua ocorrência é, muitas vezes, negligenciada por afetar hospedeiros de pouca importância econômica ou ocorrerem de forma esporádica (Lanna Filho, 2015).

O crestamento bacteriano caudado pela bactéria Pseudomonas savastanoi pv. glycinea, manifesta-se principalmente nas folhas, mas também pode atacar haste, pecíolo e vagem. Os sintomas iniciam com manhas aquosas, semitransparentes quando observadas contra a luz, que necrosam e se unem, formando áreas de tecido morto (Henning et al., 2014). Geralmente, essas lesões apresentam halos amarelados circundando as áreas necrosadas. Ferreira (2015) destaca que a largura do halo está diretamente relacionada à temperatura do ambiente. Em ambientes com temperaturas amenas, o halo tende a ser mais largo. Em contrapartida, sob temperaturas mais altas, o halo é estreito ou quase inexistente.

De acordo com Henning et al. (2014), a observação das manchas de cor negra com bordas irregulares na página inferior da folha permite diagnose da doença nas horas úmidas da manhã, pela presença de uma película brilhante, que é o exsudato da bactéria. Ataques severos provocam o rasgamento dos espaços internervais da folha e queda.

Figura 1. Sintomas do crestamento bacteriano em soja.

Fonte: Henning et al. (2014).

A entrada da bactéria Pseudomonas savastanoi nas plantas pode ocorrer através dos estômatos ou de lesões, sendo que a infecção primária pode ser originada tanto de sementes infectadas como de resíduos culturais da soja anterior. Durante o ciclo de desenvolvimento da cultura, também podem ocorrer infecções e disseminações secundárias, especialmente em condições de umidade elevada, principalmente durante chuvas em dias de vento e temperaturas em torno de 20 a 26 °C.

Em dias mais secos, finas escamas dos exsudatos da bactéria podem se dispersar dentro da lavoura, das plantas infectadas para as sadias. Contudo, para que ocorra a infecção, é necessário o molhamento foliar, o que ocorre em manhãs com orvalho ou durante períodos de chuva (Ferreira, 2015).

Figura 2. Ciclo do crestamento bacteriano causado por P. savastanoi pv. glycinea.

Fonte: Lanna Filho (2015).

A pústula bacteriana, causada pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. glycines, é considerada uma das doenças bacterianas mais importantes na cultura da soja, ocasionando danos que podem variar entre 11% e 40% (Acco et al., 2020). Os sintomas iniciais, conforme Costamilan (2003), ocorrem através da formação de manchas pequenas, de coloração verde-claras, com centros elevados, chamados pústulas, geralmente na face inferior das folhas. Essas manchas podem ocupar pequenas a grandes áreas, irregulares, com vários tons de marrom.



De acordo com Ito (2013), os sintomas podem manifestar-se em toda a parte aérea da planta, sendo mais prevalentes nas folhas durante o período de florescimento. Em situações mais severas, a infecção pode se estender às vagens e às sementes, resultando em sementes de menor tamanho, peso reduzido e potencial para a transmissão da bactéria. Ferreira (2015) destaca que nas condições climáticas da região sul do país, o patógeno pode sobreviver em plantas daninhas comuns nas lavouras. Quando a infecção é intensa, a união das lesões resulta na ruptura do limbo foliar e na queda precoce dos folíolos.

Figura 3. Sintomas de pústula bacteriana em soja.

Fonte: Henning et al. (2014).

O patógeno (Xanthomonas axonopodis) pode ser transmitido através de sementes que não apresentam sintomas visíveis. Além disso, os resíduos das culturas anteriores também servem como fonte de inóculo. As infecções secundárias são facilitadas por chuva e vento, especialmente em condições de umidade elevada e temperatura alta (superior a 28 °C). A bactéria pode permanecer na rizosfera da cultura do trigo, mantendo-se como fonte de inóculo para a próxima safra de soja.

A doença possui sintomas semelhantes ao do crestamento bacteriano, podendo causar confusões, contudo, as pequenas lesões de coloração verde-clara (não translúcidas) com centros elevados presentes nas duas faces da folha os diferenciam. A seguir, podemos observar as características das doenças bacteriana (Lanna Filho, 2015).

Figura 4. Comparação entre as características das doenças bacterianas que acometem a cultura da soja no Brasil.

Fonte: Lanna Filho (2015).

Normalmente, não são necessárias medidas de controle específica para o crestamento bacteriano, pois raramente a doença resulta em perda de rendimento. No entanto, em casos severos, recomenda-se o uso de cultivares menos suscetível, uso de sementes livres de patógenos e rotação de culturas.

Por outro lado, o controle da pústula bacteriana é preferencialmente realizado através do uso de cultivares resistentes. As cultivares utilizadas atualmente, oferecem boa resistência à doença. Além disso, as demais medidas de controle gerais, recomendadas para o crestamento bacteriano, também se mostram eficientes no controle da pústula bacteriana.


Veja mais: DFC’s na cultura da soja



Referências:

ACCO, L. F. et al. ELABORAÇÃO E VALIDAÇÃO DE ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA AVALIAÇÃO DA PÚSTULA BACTERIANA EM SOJA. Summa Phytopathologica v. 46, n. 2, p. 145-149. Botucatu – SP, 2020. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/sp/a/GtGLGdsr7b9WXRfRmNVJZSf/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 06/02/2024.

COSTAMILAN, L. M. MANCHAS FOLIARES MAIS COMUNS EM SOJA. Embrapa, circular técnica, 12. Passo Fundo –   RS, 2003. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/121371/1/FL-07389.pdf >, acesso em: 06/02/2024.

FERREIRA, L. P. BACTERIAS ATACAM A SOJA. Revista Cultivar, Grandes Culturas, 2015. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/bacterias-atacam-a-soja >, acesso em: 06/02/2024.

HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇASDE SOJA. Embrapa Soja, documentos, 256, ed. 5. Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 06/02/2024.

ITO, M. F. PRINCIPAIS DOENÇAS DA CULTURA DA SOJA E MANEJO INTEGRADO. 1° Encontro técnico sobre as culturas da soja e do milho no noroeste paulista, 2013. Disponível em: < https://www.nucleus.feituverava.com.br/index.php/nucleus/article/view/908/1041 >, acesso em: 06/02/2024.

LANNA FILHO, R. FITOBACTÉRIAS NA CULTURA DA SOJA. Doenças da Soja: Melhoramento Genético e Técnicas de Manejo, cap. 6, 2015. Disponível em: < https://www.researchgate.net/publication/281848800_Fitobacterias_na_cultura_da_soja/download?_tp=eyJjb250ZXh0Ijp7ImZpcnN0UGFnZSI6Il9kaXJlY3QiLCJwYWdlIjoiX2RpcmVjdCJ9fQ >, acesso em: 06/02/2024.

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