O crestamento foliar, causado por fungos do gênero Cercospora, sendo o mais comum o fungo Cercospora kikuchii, é uma conhecida doença do complexo de doenças de final de ciclo da soja (DFCs), que normalmente manifestar seus sintomas no final do ciclo da cultura. O fungo ataca todas as partes da planta, podendo atingir as sementes através dos legumes, causando a mancha púrpura nas sementes (figura 2). Nas folhas, os principais sintomas incluem pontuações escurar, castanho-avermelhadas, com bordas difusas, que coalescem e resultando grandes manchas escuras nas folhas dando aspecto de crestamento nas folhas, podendo ocorrer a desfolha prematura da planta (Henning et al., 2014).

Figura 1. Sintomas típicos de crestamento foliar em soja.

Foto: AK Chanda, Univ. de Minesota

Figura 2. Mancha púrpura em sementes de soja.

Foto: INTA Informa

Embora normalmente o crestamento esteja relacionada ao final do ciclo da soja, o fungo pode infectar a soja ainda nos estádios iniciais do desenvolvimento da cultura. O uso de sementes infectadas constitui uma das principais portas de entrada da doença na lavoura, sendo assim, o uso de sementes sadias (livre da mancha púrpura) constitui uma das principais medidas de manejo da doença.

Outra estratégia de manejo é o tratamento de sementes com fungicidas registrados para a cultura. Avaliando o tratamento de sementes com fungicida no controle de Cercospora kikuchii, Malescki (2018) observou que a prática contribui para o manejo da doença, possibilitando aumento da produtividade em comparação às sementes não tratadas, além de melhores índices de germinação das sementes de soja tratadas.

Conforme resultados obtidos por  Malescki (2018), o tratamento TS1 (Carboxina – Tiram + Fipronil) se sobressaiu aos demais, TS2 (Fipronil + Piraclostrobina + Tiofanato – metílico) e a testemunha (TS0), tanto em resultados produtivos, quanto qualitativos, considerando os índices de germinação das sementes com mancha purpura, sem mancha purpura e inoculadas com o fungo Cercospora kikuchii.

Tabela 1. Tabela 1. Germinação total (%) de sementes de soja sem manchas, com sintomas de mancha púrpura e sementes inoculadas com C. kikuchii, submetidas aos tratamentos de sementes com diferentes produtos ou sem tratamento, avaliadas no 7° dia (Malescki, 2018).

*TS0: sem tratamento; TS1: Carboxina – Tiram + Fipronil; TS2: Fipronil + Piraclostrobina + Tiofanato – metílico. **Médias não seguidas pela mesma letra diferem entre si, maiúscula na linha e minúscula na coluna, pelo Teste de Tukey com 5% de probabilidade de erro. *** CV: Coeficiente de Variação. Fonte: Malescki (2018)

Em alguns casos, o controle químico com o emprego de fungicidas na parte aérea da soja ainda é necessário. Normalmente, as medidas de manejo relacionadas ao controle químico do crestamento são empregadas mais para o final do ciclo da soja, onde os primeiros sintomas foliares da doença começas a surgir.

Além da produção de sementes infectadas (com mancha púrpura), em casos mais severos, onde as condições ambientais favorecem o desenvolvimento da doença, danos significativos na produtividade podem ser observados. A doença pode progredir, afetando a área fotossintéticamente ativa da planta (figura 3), reduzindo a produção de fotoassimilados e consequentemente a translocação deles para os grãos, afetando a produtividade da cultura.

Figura 3. Escala diagramática das doenças de final de ciclo da soja (Glycine max) causadas por Septoria glycines e Cercospora kikuchii. Painel superior: Sintomas agregados. Painel inferior: Sintomas aleatoriamente distribuídos.

Fonte: Martins et al. (2004)

Em situações mais severas, em que as devidas medidas de manejo não são adotadas, perdas de produtividade superiores a 40% podem ser observadas em soja, se tratando de cultivares mais sensíveis Malescki (2018). Sendo assim, estratégias como o uso de sementes certificadas, o tratamento de sementes e o controle químico com fungicidas são essenciais para reduzir os danos em decorrência do crestamento foliar, evitando também a produção de sementes com mancha púrpura.


Veja mais: Eficiência de Fungicidas para o Controle das Doenças de Final de Ciclo da Soja, na Safra 2022/2023



Referências:

HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Documentos 256, ed. 5. Embrapa Soja, Londrina -PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 22/01/2024.

 MALESCKI, J. TRATAMENTO DE SEMENTES DE SOJA COM FUNGICIDA NO CONTROLE DO FUNGO Cercospora kikuchii. Universidade Federal da Fronteira Sul, Trabalho de Conclusão de Curso, 2018. Disponível em: < https://rd.uffs.edu.br/bitstream/prefix/2384/1/MALESCKI.pdf >, acesso em: 22/01/2024.

MARTINS, M. C. et al. ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA A QUANTIFICAÇÃO DO COMPLEXO DE DOENÇAS FOLIARES DE FINAL DE CICLO EM SOJA. Fitopatologia Brasileira 29:179-184. 2004. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/fb/a/3p7phY7rWkKJRcFPkcMwmTq/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 22/01/2024.

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