O cultivo de plantas de cobertura na entressafra de culturas comerciais é de extrema importância para a manutenção e melhoria das condições de solo do sistema plantio direto, servindo também como ferramenta de manejo para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas.

Uma das plantas de cobertura mais benéficas ao sistema é a crotalária, embora haja uma variedade de espécies, a Crotalaria spectabilis; C. ochroleuca; C. breviflora e C. juncea são aos mais comumente empregadas. A data de semeadura da crotalária pode variar de acordo com a espécie e região de cultivo, sendo que a Crotalaria spectabilis normalmente é semeada de outubro a fevereiro, enquanto a C. ochroleuca e C. juncea geralmente são semeadas de setembro a março (Calegari, 2016).



Em média, a produção de matéria seca resultante do cultivo da crotalária solteira gira em torno de aproximadamente 2,3 t.ha-1, mais especificamente para a C. juncea. Entretanto essa quantidade pode variar de acordo com a espécie e sistema de cultivo, podendo alcançar quantidades de até 13t.ha-1 de matéria seca (Silveira & Rava., 2004). Embora se trate de uma leguminosa, seus resíduos culturais apresentam elevado tempo de decomposição, possibilitando com que sirvam como fonte de cobertura para o solo por um longo período de tempo (Carvalho et al., 2018).

Tabela 1. Produção de matéria seca e classificação das plantas de cobertura quanto ao potencial de decomposição com base no tempo de reciclagem.

Fonte: Carvalho et al. (2018).

A crotalária pode ser semeada de forma isolada (solteira), em sistema de consórcio ou até mesmo em forma de mix de plantas de cobertura, fato facilita a adequação do cultivo a finalidade desejada. Além de servir como plantas de cobertura, algumas espécies de crotalária apresenta considerável habilidade em reduzir e de nematoides fitopatogênicos do solo, pragas essas de difícil controle pelo local em que se encontram. Características de espécies de crotalária, bem como as espécies de nematóides controladas por elas podem ser observadas no quadro 1.


Veja também: Seletividade de herbicidas em crotalária


Quadro 1. Características de plantas de cobertura com potencial de uso no sistema de semeadura direta do algodoeiro.

Fonte: Ferreira et al. (2012), Apud Ferreira et al. (2016).

O efeito do cultivo de diferentes espécies de crotalária sobre a população de nematoides do solo foi avaliada por Schwan (2003). Os resultados obtidos pelo autor demonstram que quando inserida no sistema de rotação de culturas, a crotalaria diminui consideravelmente de fêmeas, ovos, cistos, e juvenis no sistema radicular e solo.

Tabela 2. Sistemas de cultivo, presença de fêmeas, cistos e ovos de nematoide de cisto em raízes soja e presença de cistos, ovos e juvenis em amostras de solo.

Adaptado: Schwan (2003)

A redução da população de nematóides do solo com o uso de crotalária também foi observada por Silveira & Rava (2004) para a cultura do feijoeiro. Conforme destacado pelos autores, é possível observar o grande efeito da palhada de C. spectabilis na redução do número de nematóides, especialmente do gênero Pratylenchus.

Tabela 3. Nematóides dos gêneros Pratylenchus e Pseudhalenchus por grama de raiz de plantas de feijoeiro da cultivar Pérola, em solo com e sem adição de palhada de Crotalaria spectabilis.

Fonte: Silveira & Rava (2004)

Sendo assim os autores recomendam a adição de palhada de C. spectabilis, 60 dias antes do plantio do feijoeiro comum, para o controle de nematóides dos gêneros Pratylenchus e Pseudhalenchus.

Tendo em vista os aspectos observados, é possível afirmar que a crotalária é uma planta de cobertura que extremamente benéfica ao sistema de produção, especialmente quando cultivada em áreas infestadas com nematóides fitopatogênicos, apresentando significativo papel na redução dessas pragas. Além disso, seus resíduos são uma excelente fonte de cobertura do solo para o sistema plantio direto, principalmente quando cultivada a crotalaria em consórcio com gramíneas ou em mix de plantas de cobertura.



Referências:

CALEGARI, A. MANUAL TÉCNICO DE PLANTAS DE COBERTURA. WEBBIO ACADEMY®: PROJETO SOLO VIVO, 2016. DISPONÍVEL EM: < HTTP://WWW.ECOAGRI.COM.BR/WEB/WP-CONTENT/UPLOADS/PLANTAS-DE-COBERTURA-%E2%80%93-MANUAL-T%C3%A9CNICO.PDF >, ACESSO EM: 11/03/2021.

CARVALHO, A. M. PLANTAS DE COBERTURA DO SOLO RECOMENDADAS PARA A ENTRESSAFRA DE MILHO EM SISTEMA PLANTIO DIRETO NO CERRADO. EMBRAPA, COMUNICADO TÉCNICO, N. 181, 2018. DISPONÍVEL EM: < HTTPS://AINFO.CNPTIA.EMBRAPA.BR/DIGITAL/BITSTREAM/ITEM/184756/1/CT-181.PDF >, ACESSO EM: 11/03/2021.

FERREIRA, A. C. B. ET AL. SISTEMAS DE CULTIVO DE PLANTAS DE COBERTURA PARA A SEMEADURA DIRETA DO ALGODOEIRO. EMBRAPA, COMUNICADO TÉCNICO, N. 377, 2016. DISPONÍVEL EM: < HTTPS://WWW.INFOTECA.CNPTIA.EMBRAPA.BR/INFOTECA/BITSTREAM/DOC/1066067/1/SISTEMASDECULTIVODEPLANTASDECOBERTURA.PDF >, ACESSO EM: 11/03/2021.

SCHWAN, A. V. ANTAGONISMO DE ESPÉCIES DE CROTALÁRIA AO NEMATÓIDE DE CISTO DA SOJA (HETERODERA GLYCINES). UFMS, DISSERTAÇÃO DE MESTRADO, 2003. DISPONÍVEL EM: < HTTPS://FILES.UFGD.EDU.BR/ARQUIVOS/ARQUIVOS/78/MESTRADO-DOUTORADO-AGRONOMIA/DISSERTA%C3%A7%C3%A3O%20ADRIANA%20VIANA%20SCHWAN.PDF >, ACESSO EM: 11/03/2021.

SILVEIRA, P. M.; RAVA, C. A. UTILIZAÇÃO DE CROTALÁRIA NO CONTROLE DE NEMATÓIDES DA RAIZ DO FEIJOEIRO. EMBRAPA, COMUNICADO TÉCNICO, N. 74, 2004. DISPONÍVEL EM: < HTTPS://AINFO.CNPTIA.EMBRAPA.BR/DIGITAL/BITSTREAM/CNPAF/22189/1/COMT_74.PDF >, ACESSO EM: 11/03/2021.

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