A rotação de culturas com a inserção de espécies de cobertura do solo em áreas de lavoura, traz diversos benefícios ao sistema de produção, estimulando a fauna edáfica do solo, atuando na quebra do ciclo de pragas e patógenos, ciclando nutrientes do solo e suprimindo o desenvolvimento de plantas daninhas, além de contribuir para uma melhor conservação do solo e melhoria de atributos físicos, químicos e biológicos do solo.

Conforme observado por Yamashita & Guimarães (2015), o aumento da palhada em cobertura do solo contribui diretamente para a redução da emergência de espécies daninhas fotoblásticas positivas como a buva (Conyza spp.), reduzindo consequentemente os fluxos de emergência dessas plantas daninhas e possibilitando uma menor matocompetição com a cultura comercial. Estudos demonstram que em sistemas de produção em que prevalece a cobertura do solo, há uma redução acentuada das populações de planta daninhas, contribuindo para um melhor estabelecimento inicial da cultura no campo.

Figura 1.  Densidade de plantas daninhas. A) Com pousio; e, B) Sem pousio (com palhada da cultura anterior).
Fonte: Skora Neto (2022)

Além de restringir a passagem de luz, a biomassa de algumas espécies vegetais utilizadas como plantas de cobertura pode conter substancias alelopáticas que afetam a germinação de sementes de plantas daninhas. Não menos importante, a palhada das espécies daninhas reduz o impacto da gota da chuva, diminuindo a erosão superficial em áreas agrícolas.

Em conjunto com os benefícios supracitados, algumas espécies de plantas de cobertura apresentam elevada capacidade em ciclar nutrientes do solo, absorvendo esses nutrientes para seu crescimento e desenvolvimento, e disponibilizando-os para as culturas sucessoras, através da decomposição e mineralização dos resíduos culturais. A capacidade da planta em acumular nutrientes varia de acordo com a espécie. Em alguns casos, o nitrogênio acumulado por espécies com capacidade em realizar a fixação biológica de nitrogênio pode ser superior a 200 kg ha-1 (Carlos; Costa; Costa, 2006).



A liberação dos nutrientes fixados e ciclados ocorre de forma gradual, sendo influenciada pela relação Carbono/Nitrogênio (C/N) das espécies utilizadas, bem como pela velocidade de decomposição e mineralização de seus resíduos culturais. Conforme descrito por Ziech et al. (2014), leguminosas como ervilhaca e tremoço-branco podem disponibilizar mais de 40% do nitrogênio acumulado em até 45 dias após o manejo (dessecação), evidenciando sua elevada taxa de liberação, característica típica desse grupo botânico. Em contraste, gramíneas (Poaceae) como azevém, aveia-preta e centeio apresentam decomposição mais lenta e, consequentemente, uma liberação gradual de nitrogênio ao longo do tempo.

Figura 2. Liberação de nitrogênio (N) pelas plantas de cobertura de inverno em sistema de cultivo antecedendo a cultura do milho. A + E + N = Aveia + Ervilhaca + Nabo; A + E = Aveia + Ervilhaca.
Fonte: Ziech et al. (2014)

A supressão das plantas daninhas, atrelado e melhoria da qualidade do solo, ciclagem de nutrientes e demais benefícios da rotação de cultura e cultivo de plantas de cobertura nos períodos do outono e inverto, contribuem para a melhoria da produtividade das culturas sucessoras, além de otimizar o uso da terra e reduzir os custos de produção.

Um estudo conduzido pela Embrapa Trigo na entressafra outono/inverno na região Sul, analisou o impacto econômico do uso de culturas de cobertura no controle de plantas daninhas e a produtividade das culturas do trigo e da soja. Os pesquisadores constataram incrementos nos rendimentos de trigo e soja cultivados em sucessão a plantas de cobertura, principalmente em função da menor competição com plantas daninhas (Antunes, 2025).

O estudo analisou os custos de implantação (sementes, operações e herbicidas) de diferentes culturas de cobertura, como aveia-preta, centeio, nabo e ervilhaca, e seu impacto no balanço econômico da produção de trigo e soja (veja na figura abaixo). Para efeito de avaliação dos resultados, considerou-se o preço médio regional praticado em maio de 2025, fixado em R$ 70,00 por saca de trigo e R$ 120,00 por saca de soja (Antunes, 2025).

Os resultados obtidos demonstram que o cultivo de plantas de cobertura promoveu  aumento da produtividade e retorno econômico positivo em comparação ao cultivo de trigo e soja em sucessão ao pousio, demonstrando a importante contribuição do cultivo de plantas de cobertura para a rentabilidade do sistema de produção (tabela 1).

Tabela 1. Produtividade de trigo e soja após cultivados após plantas de cobertura.
Fonte: Antunes (2025)

Os resultados apresentados por Antunes (2025) indicam que, entre as culturas de cobertura avaliadas no Sul do Brasil, os maiores benefícios às culturas sucessoras ocorreram com o uso de misturas de espécies (mix), especialmente a combinação de nabo com cereais de inverno, como aveia ou centeio. Essa estratégia proporcionou os maiores incrementos de produtividade em relação ao pousio, alcançando ganhos de até 9 sacas por hectare. Do ponto de vista econômico, o balanço variou de aproximadamente R$ 600,00 no trigo a R$ 1.000,00 na soja. Esses resultados são atribuídos principalmente à formação de uma palhada densa e uniforme, que favorece o estabelecimento e o desenvolvimento das culturas subsequentes, além de melhorar o controle de plantas daninhas, refletindo em maior produtividade e melhor retorno econômico.

Assim, além de ampliar o uso da terra e contribuir para a redução das populações de plantas daninhas nas áreas agrícolas, o cultivo de espécies de cobertura atua indiretamente no aumento da produtividade das culturas sucessoras, elevando a rentabilidade do sistema de produção. A formação de palhada melhora o crescimento e o desenvolvimento das culturas agrícolas e, simultaneamente, reduz a necessidade de intervenções para o controle de plantas daninhas.

Referências:

ANTUNES, J. M. COBERTURA DO SOLO NO MANEJO DE PLANTAS DANINHAS. Embrapa News, 2025. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/102984643/cobertura-do-solo-no-manejo-de-plantas-daninhas#:~:text=00%20por%20hectare.-,O%20trigo%20cultivado%20ap%C3%B3s%20o%20nabo%20apresentou%20incremento%2C%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o,ressalta%20o%20pesquisador%20Leandro%20Vargas. >, acesso em: 09/12/2025.

CARLOS, J. A. D.; COSTA, J. A.; COSTA, M. B. ADUBAÇÃO VERDE: DO CONCEITO À PRÁTICA. Série Produtor Rural – nº 30, Piracicaba, 2006. Disponível em: < https://ciorganicos.com.br/wp-content/uploads/2017/10/Adubacao-Verde-do-conceito-a-pratica-USP-CI-Organicos-OrganicsNet.pdf >, acesso em: 09/12/2025.

SKORA NETO, F. MANEJO SUSTENTÁVEL DE PLANTAS DANINHAS: FUNDAMENTOS PARA UM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO SEM HERBICIDA. IDR-Paraná, 2022. Disponível em: < https://www.idrparana.pr.gov.br/Pagina/L18 >, acesso em: 09/12/2025.

YAMASHITA, O. M.; GUIMARÃES, S. C. EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS DE CONYZA CANADENSIS E Conyza Bonariensis EM SOLO COBERTO COM PALHA DA CULTURA DE MILHO. Evidência, 2015. Disponível em: < https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/8814611.pdf  >, acesso em: 09/12/2025.

ZIECH, A. R. D. et al. PLANTAS DE COBERTURA DO SOLO NA MELHORIA DO SISTEMA PLANTIO DIRETO. Revista Plantio Direto, Ed. 141, 2014. Disponível em: < https://plantiodireto.com.br/edicoes?page=5 >, acesso em: 09/12/2025.

 

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