Dependendo da cultivar de soja, até 800 mm podem ser necessários durante o ciclo, para que a cultura expresse boa produtividade (Neumaier et al., 2020). Considerando o requerimento hídrico da soja, que pode chegar a 8 mm/dia durante os períodos críticos, a disponibilidade hídrica pode ser o fator mais limitante da produtividade da soja.
Perdas em função da seca
Estima-se que as perdas de produtividade da soja em função da ocorrência de secas possa chegar a 40%, entretanto, dependendo da cultivar e severidade do déficit hídrico, em alguns casos as perdas de produtividade podem ser superiores (Franchini et al., 2024).
Um estudo desenvolvimento pelo MAPA avaliando o histórico de perdas na agricultura brasileira, demonstrou que, dentre as principais culturas agrícolas, a soja é a cultura que mais apresenta eventos de quebra relacionados a estresses abióticos (figura 1).
Figura 1. Frequência de quebras nas culturas agrícolas. Resultados de 2000 a 2021.
Dentre as principais causas relacionadas as perdas de produtividade e quebra de safra, a seca, destaca-se como fenômeno de maior ocorrência nas últimas safras.
Figura 2. Frequência dos eventos climáticos causadores de perdas.
Cultivos de entressafra como estratégia
Considerando a frequência dos eventos de seca e o impacto do déficit hídrico sobre a produtividade da soja, cabe a nós adotar estratégias que permitam à planta, tolerar a ocorrência dos déficits hídrico, mitigando os efeitos da seca para assegurar a manutenção da produtividade da soja.
Além do posicionamento das cultivares, da definição das épocas de semeadura e do uso de bioinsumos para mitigar os efeitos da seca, um fator determinante é melhorar a qualidade estrutural do solo, e com ela, aumentar a taxa de infiltração de água no perfil, possibilitando maior acúmulo e posterior disponibilidade de água para as plantas.
Um estudo conduzido por Debiasi e colaboradores (2023), avaliando a qualidade estrutural do solo e a taxa de infiltração de água, influenciados por culturas na entressafra; demonstrou que o pousio é o pior cenário para melhorar a qualidade estrutural do solo e aumentar a infiltração de água no perfil.
Conforme resultados observados pelos autores, o cultivo de espécies de vasto sistema radicular, em especial gramíneas, na entressafra da soja, contribui efetivamente para a melhoria da taxa de infiltração de água no solo em comparação ao pousio (figura 3), demonstrando a necessidade de se cultivar o solo na entressafra para melhorar a absorção de água.
Figura 3. Taxa de Infiltração Estável (TIE) determinada pelo método do Infiltrômetro de Cornell, conforme o sistema de manejo adotado na área. Londrina. PR, 2020.
Considerando que o solo é a “grande caixa d`água” de onde a planta absorve água e nutrientes para o seu desenvolvimento, aumentar a taxa de infiltração de água no solo representa não só aumentar o volume de água armazenado, como também a redução das erosões superficiais por escoamento.
O aumento da “caixa d`água”, reflete na tolerância da planta a períodos de déficit hídrico, contribuindo para a manutenção do potencial produtivo. Contudo, embora o aumento da taxa de infiltração de água no solo contribuía efetivamente para a melhoria das condições hídricas do solo, o combate a seca depende de uma séria de fatores, os quais interagem entre si para e melhoria do sistema de produção, dentre eles, a “construção” do perfil do solo, proporcionando uma maior camada de solo explorada pelas raízes.