A produção agrícola do Brasil ainda vem sendo influenciada pelas altas das cotações dos fertilizantes, que, por sua vez, subiram em decorrência da valorização internacional da matéria-prima e da intensificação desse movimento por conta da guerra no Leste Europeu. Assim, por praticamente 18 meses (entre janeiro/21 e julho/22), os preços dos adubos subiram de forma consecutiva, passando a se enfraquecer apenas em agosto de 2022. Apesar disso, os patamares atuais ainda são significativamente mais elevados que os vistos até 2020.
Neste contexto, o ritmo de comercialização de insumos para a temporada 2023/24, em especial de nutrição das plantas, está distinto dentre as regiões acompanhadas pelo Projeto Campo Futuro (CNA/Senar) em parceria com o Cepea, e também com padrão diferente do registrado em safras anteriores. Até a temporada atual (2022/23), o movimento de antecipação se mostrava mais intenso, com uma grande parcela dos produtores adquirindo os adubos já no fim de 2021 para serem usados apenas a partir de setembro de 2022. Contudo, em 2022, as aquisições estão lentas, seja pelos preços ainda alto dos adubos, seja pela incerteza sobre os valores de negociação da soja.
No início do quarto trimestre de 2021, produtores da região de Sorriso (MT) já haviam adquirido 30% dos fertilizantes para a safra 2022/23. Já para a temporada 2023/24, menos de 10% havia sido comprado até outubro/22. Em outros estados, agricultores nem sequer iniciaram as aquisições de insumos para 2023/24.
O poder de compra do produtor rural para adquirir uma tonelada de fertilizantes intermediário seguiu dois comportamentos ao longo do ano de 2022. Em um primeiro momento, o mesmo esteve reduzido até julho, quando iniciou um movimento de recuperação – verificado até outubro. Para a aquisição de uma tonelada de cloreto de potássio, em outubro, produtores precisavam de 30,5 sacas de soja em Sorriso e de 29 sacas de soja em Cascavel (PR), contra 43,6 sacas e 40,6 sacas, respectivamente, em julho/22.
Em ambas regiões, o poder de compra voltou para o patamar de agosto/21. Quanto ao fertilizante fosfatado MAP (Fosfato monoamônico), sojicultores de Sorriso precisavam, em outubro, de 31,1 sacas da oleaginosa e os de Cascavel, de 28,4 sacas, mesmo patamar observado em maio de 2021.
Além dos fertilizantes, os defensivos agrícolas e, especialmente, combustíveis estão mais caros para a temporada 2023/24, impulsionado o Custo Operacional Efetivo (COE). O orçamento médio para produção de soja no mês outubro/22, ou seja, considerando que o produtor compra todos os insumos neste mês, aponta que ele precisa de 10 sacas a mais que no mês de outubro de 2020 (quando o produtor comprava para usar na safra 2021/22) e 1 saca a mais que em outubro de 2021 (comprando insumos para a safra 2022/23).
Com este cenário, em termos monetários os custos de produção de soja se mostram
acima de R$ 5.000/ha nas praças avaliadas – vale lembrar que em caráter orçamentário esse mesmo índice chegou a superar os R$ 6.000/ha em julho de 2022. Como comparação, avaliando um período pré-pandemia (dados de 2020), os desembolsos para o cultivo da oleaginosa giravam em torno de R$ 3.000/ha na maior parte das praças avaliadas pelo Projeto Campo Futuro.Como a demanda mundial por soja e derivados segue firme e, apesar da recuperação dos estoques, a relação com o consumo ainda está nos menores níveis dos últimos oito anos, a pressão sobre preços ainda é limitada. Assim em um cenário de custos mais elevados e preços mais contidos, as margens podem se tornar menos favoráveis para o produtor.
Fonte: CNA