Como visto na safra 2021/22 em várias regiões do Sul do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, a ocorrência de déficit hídricos, e baixa disponibilidade hídrica durante o ciclo de desenvolvimento da soja pode causar sérias perdas produtivas, especialmente quando o requerimento hídrico da cultura não é suprido durante o período reprodutivo do desenvolvimento da soja.

Conforme destacado por Seixas et al. (2020), quando ocorrem déficits hídrico durante o período reprodutivo do desenvolvimento da soja, as perdas de rendimento são maiores do que quando o déficit ocorre durante o período vegetativo da cultura. Nos estádios reprodutivos, ocorre a queda prematura de flores, o abortamento de vagens e “chochamento” de grãos, com a consequente diminuição do número de vagens e o aparecimento de vagens vazias (Seixas et al., 2020).

Contudo, independente do momento de ocorrência do déficit, se esse for prolongado pode resultar em perdas significativas de produtividade em comparação a lavoura com boa disponibilidade hídrica, seja em sistema irrigado ou de sequeiro (sem irrigação).

Figura 1. Rendimento de grãos de soja em função do aporte de água durante a fase mais crítica à falta de água (R1-R6), em diversas safras, sob condições: irrigada, não irrigada e com déficit hídrico (DH) durante as fases reprodutiva (Rep) e vegetativa (Veg).

Fonte: Farias et al. (2009), Apud. Seixas et al. (2020)

Tendo em vista o impacto causado pela deficiência hídrica na cultura da soja, práticas de manejo necessitam ser melhoradas a fim de mitigar o efeito dos períodos de estiagem, especialmente em lavouras de sequeiro. Levando em consideração que o solo é o principal meio responsável por armazenar a água da chuva e deixa-la disponível para absorção pelas plantas, um dos primeiros pontos a se melhorar é a capacidade de infiltração de água do solo.



Lavouras compactadas tendem a apresentar uma baixa taxa de infiltração de água no solo, o que reflete em um pequeno volume de água infiltrado e um grande volume escoado. Conforme observado por Cardoso et al. (2006), quando maior a resistência do solo à penetração, menor o volume de raízes da soja e consequentemente menor o volume de solo explorado e menor a absorção de água e nutrientes do solo.

Figura 2. Correlação entre o volume de raízes de soja (cm.cm-3) e a resistência do solo à penetração (MPa), na profundidade de 5–15 cm no sistema de plantio direto compactado para as cultivares Embrapa-4 ( ∆ ) e BR-16 ( ● ).

Fonte: Cardoso et al. (2006)

Dentre as principais prática de manejo alternativas para contornar esse problema, podemos destacar o cultivo de plantas de cobertura com vasto sistema radicular, a boa cobertura do solo, seja com palhada residual ou culturas de cobertura e em casos mais extremos a escarificação ou subsolagem do solo. Além da produção de exsudatos pelas raízes, melhorando a atividade biológica do solo, as plantas de cobertura com vasto sistema radicular possibilitam a ciclagem de nutrientes, a descompactação do solo e a melhora da taxa de infiltração de água no solo.

A cobertura do solo por sua vez, mais especificamente a palhada, reduz a temperatura máxima da superfície do solo, e consequentemente a evaporação de água do solo, contribuindo para a manutenção da umidade. Aliado a isso, prática de manejo como o uso de corretivos condicionadores de solo, assim como a rotação de culturas e o uso de microrganismos promotores do crescimento do sistema radicular da soja, podem contribuir significativamente para conferir maior resistência da soja a períodos de déficit hídrico.

Não menos importante, o adequado posicionamento de cultivares seguindo as orientações pré-estabelecidas no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) pode contribuir significativamente para reduzir os riscos referentes a perdas produtivas decorrentes da ocorrência de déficits hídrico. Contudo, de maneira geral, para lavouras de sequeiro não existe uma prática para solucionar o problema da baixa disponibilidade hídrica, mas sim um conjunto de práticas que quanto realizadas de forma correta e conjunta, podem mitigar os efeitos do déficit hídrico.


Veja mais: Gesso Agrícola e seu uso


Referências:

CARDOSO, E. G. et al. SISTEMA RADICULAR DA SOJA EM FUNÇÃO DA COMPACTAÇÃO DO SOLO NO SISTEMA DE PLANTIO DIRETO. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.41, n.3, p.493-501, mar. 2006. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/pab/v41n3/29122.pdf >, acesso em: 04/03/2021.

SEIXAS, C. D. S. et al. TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DA SOJA. Embrapa Soja, Sistemas de Produção, n. 17, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1123928/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 24/03/2022.

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