A ferrugem-asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é uma das doenças de maior importância da cultura da soja na atualidade, pelo grande potencial de perdas que é capaz de causar.
O fungo causador da doença pode ser encontrado em todas as regiões produtoras de soja do Brasil. Devido à facilidade de dispersão dos esporos do fungo. Essa doença não respeita a fronteira agrícola, ou seja, regiões que tem a epidemia ocorrendo mais cedo podem influenciar regiões que cultivam soja mais tarde.
Recentemente, o Consórcio Antiferrugem registrou o primeiro foco da ferrugem-asiática da soja em lavoura comercial, na safra 2019/20, em Ubiratã (Paraná). Por isso, os cuidados devem ser redobrados e o produtor deve estar atento, saber como manejar sua lavoura, evitando que a doença acabe reduzindo sua produtividade.
No webinar da safra 2019/2020, a Embrapa Soja divulgou um vídeo no canal do Youtube Embrapa – Radar da Tecnologia Soja, onde a pesquisadora da área de Fitopatologia da Embrapa Soja, Cláudia Vieira Godoy comentou sobre os principais desafios que temos no manejo da ferrugem.
No vídeo, a pesquisadora comenta que os primeiros sintomas da ferrugem são bastante discretos na folha, caracterizados por pequenas pontuações, conforme a imagem abaixo.
A doença é classificada como policíclica, dessa forma, a partir do momento em que são disseminados pelo vento, os esporos encontrarão as folhas de soja, e na presença de umidade se dá o início do processo de infecção. Em ocorrendo a infecção, cerca de 6 a 7 dias as estruturas de reprodução são produzidas, sendo que uma única estrutura (urédia) pode produzir esporos por cerca de três semanas.
Após serem levadas pelo vento, essas estruturas serão novamente disseminadas e o processo de infecção ocorre novamente, caracterizando a doença como policíclica pois o fungo pode realizar vários ciclos em um único ciclo do hospedeiro.
Veja na imagem abaixo, como se dá o processo de infecção na cultura da soja.
O principal dano causado pela doença é a desfolha precoce, o que antecipa o ciclo da cultura, causando uma redução no peso de grãos e consequentemente redução de produtividade.
Conforme destacado pela pesquisadora, quanto mais cedo a doença surgir na lavoura, maior será o potencial de dano que a mesma poderá atingir, por isso a semeadura mais tardia é considerada arriscada sob o ponto de vista de ocorrência da doença.
Estratégias de manejo:
- Vazio sanitário: Período de 60 a 90 dias na entressafra em que não se pode semear, nem manter plantas vivas de soja no campo. Essa prática tem o objetivo de reduzir a quantidade de esporos do fungo na entressafra, para atrasar a ocorrência da doença na safra;
- Escape: utilização de cultivares precoces semeadas no início da época recomendada;
- Monitoramento da lavoura: é importante sabermos onde procurar a doença na lavoura, lembrando que os primeiros sintomas ocorrem sempre na parte de baixo das plantas, em virtude do fechamento do dossel, do sombreamento e do orvalho, que são condições mais favoráveis à doença. Ao observar as folhas, deve-se sempre olhá-las contra a luz para uma melhor observação dos aglomerados do fungo;
- Resistência genética: já existem algumas cultivares comerciais com gene de resistência, lembrando que nos genes que conferem imunidade, essa característica é facilmente quebrada, e a cultivar com gene de resistência não dispensa o uso de fungicidas, pois o fungo consegue quebrar essa resistência, onde a cultivar não for bem manejada;
- Controle químico: quando a ferrugem começa a aparecer no campo essa alternativa se torna indispensável no manejo. Tem-se hoje para o controle da ferrugem da soja dois principais modos de ação disponíveis, que são os multissítios e sítio-específicos.
Multissítios x sítio-específicos
Uma das desvantagens dos fungicidas sítio-específicos é o alto risco de causar resistência, por serem altamente específicos, uma simples mudança na base nitrogenada do fungo já pode trazer uma menor sensibilidade ao produto.
Desde 2001, quando a ferrugem entrou no país, já ocorreram uma série de mudanças no próprio fungo, onde aquele de 2001 já é bem distinto do fungo que temos atualmente nas lavouras.
Isso se deu em virtude de uma série de mutações no genoma desse fungo que conferiram a ele uma menor sensibilidade a alguns fungicidas.
Veja na figura abaixo quais foram os fungicidas que já tiveram relatadas as mutações, reduzindo a eficiência de controle.
Atualmente, os fungicidas utilizados para o controle da ferrugem são misturas duplas ou triplas dos seguintes produtos listados abaixo, sendo que a coloração azul indica que ainda estão em fase de registro.
Em experimentos realizados pela Embrapa Soja, com a aplicação de multissítios isolados, em aplicações com intervalos de 14 dias, obteve-se que somente os multissítios não possuem uma boa eficiência de controle, onde o máximo de controle obtido foi de 48%. Veja os resultados no gráfico abaixo.
Já, quando foram realizadas misturas de multissítios e sítio-específicos, os resultados foram positivos e o controle mais eficiente. Veja esses resultados abaixo.
Por fim, a pesquisadora ressalta que é importante protegermos a lavoura contra a ferrugem, porém, essa não é a única doença que afeta a cultura da soja, e o produtor deve sempre realizar o monitoramento, protegendo sua lavoura para evitar possíveis perdas de produtividade.
Veja a palestra completa da pesquisadora Cláudia Vieira Godoy abaixo.
https://youtu.be/hvyz0RmdzHY?t=78
Elaboração: Engenheira Agrônoma Andréia Procedi – Equipe Mais Soja.