Quais os efeitos de diferentes inoculantes nos métodos de inoculação via tratamento de semente e sulco de semeadora no desenvolvimento da cultura da soja?
Autores: Junior Santana Girardi¹; Anderson Elias Menegaz¹; David Peres da Rosa², Anderson Pegoraro³, Idroilson V. de Oliveira³, Artur N. Müller³, Fabiano D. Rizzi³
Exigindo aproximadamente 80 kg de nitrogênio (N) para produzir uma tonelada de grãos a
cultura da soja apresenta alta demanda deste nutriente (Hungria & Nogueira, 2011), tornando-se assim, fundamental o processo de fixação biológica do nitrogênio (FBN) no fornecimento deste macronutriente. Este processo é auxiliado pela aplicação de bactérias inoculadoras, as quais podem ser aplicadas através do método tradicional, via tratamento de semente ou, pela aplicação no sulco de semeadura (Correia, 2015).
A FBN na cultura da soja pode ser feita através das bactérias do gênero Bradyrhizobium, Azospirillum e/ou Trichoderma, a primeira auxilia na nodulação de raízes, possibilitando aumento no rendimento de grãos. As do gênero Azospirillum, promovem crescimento de plantas, auxiliando no incremento do sistema radicular e, consequentemente, no volume de solo explorado (Gitti, 2015). Já do gênero trichoderma, são usados como estimulador de crescimento por meio de interações com fatores bioquímicos e, produção de diversas enzimas e compostos benéficos para os vegetais (Baugh & Escobar, 2007).
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos de diferentes inoculantes nos métodos de inoculação via tratamento de semente e sulco de semeadora no desenvolvimento da cultura da soja.
O experimento foi conduzido num solo classificado como Nitossolo Vermelho (Embrapa, 2018), localizado na área experimental do Núcleo de estudos em solos e máquinas agrícolas (NESMA) do IFRS – Campus Sertão, implantado na safra 2019/2020, com a cultura da soja (Glycine max L.). Segundo classificação de Köppen, o clima da região pertence à classe Cfa, subtropical úmido, com chuvas bem distribuídas em todos os meses do ano e temperaturas médias em torno de 17,8 °C.
A cultivar utilizada foi Brasmax Ativa RR, de ciclo médio e hábito determinado, semeada na densidade de 380.000 sementes ha-1, com uma semeadora Kuhn® modelo PG PLUS 700, de 7,0 (sete) linhas espaçadas em 0,45 m, equipada com haste sulcadora de fertilizante do tipo facão afastado e disco de corte liso, sistema de acionamento dos dosadores via motores elétricos, o modelo Fertisystem® TXF MB e o controlador VRA PRO, tracionada por um trator New Holland®, modelo TL95Exitus, com potência nominal de 95 cv e tração 4×2 TDA (tração dianteira assistida).
O experimento foi realizado em delineamento de blocos ao acaso, com quatro blocos (parcelas de 3,5 x 7 m), possuindo os seguintes tratamentos: sem inoculação (testemunha), com inoculação de Azospirillum brasilense via semente, Azospirillum brasilense via sulco, Bradyrhizobium japonicum via semente, Bradyrhizobium japonicum via sulco, Trichoderma spp. via semente e Trichoderma spp. via sulco. Utilizou-se inoculantes de formulação líquida, Grap Nod L®, com Bradyrhizobium japonicum contendo 5 x 109 UFC* mL-1 (*unidades formadoras de colônia) de estipes SEMIA 5079 e SEMIA 5080, Grap Nod A® com Azospirillum brasilense, contendo 2 x 108 UFC mL-1 de estipes AbV5 e AbV6, e BLINDAGE Trichoderma® com propágulos de Trichoderma harzianum, Trichoderma asperellum e Trichoderma koningiopsis na concentração de 1×10¹¹ UFC mL-1.
As doses utilizadas foram de acordo com recomendações dos fabricantes, dessa forma, para inoculação com Grap Nod L® e Grap Nod A® via semente, foi de 100 mL para 50 kg de sementes, e para BLINDAGE Trichoderma® de 100 mL ha-1, e ainda, na inoculação via sulco, 600 mL ha-1 para todos inoculantes. A inoculação via sulco de semeadura, foi realizada através da aspersão do inoculante via microaspersores dispostos atrás do sulcador de semente, distante 20 cm do solo, estes ligados a um pulverizador costal de bomba elétrica, com uma taxa de aplicação de 38 L ha-1.
Foi avaliado o índice de velocidade de emergência (IVE), altura de planta, índice de área foliar (IAF), massa de 100 grãos e produtividade. O IVE foi empregado a metodologia de Maguire (1962), isto em 3,0 m em cada parcela. Para altura de planta, utilizou-se uma trena graduada, medindo desde a base até o ápice da planta, juntamente com a mensuração do IAF, seguindo metodologia proposta por Gassen (2002), ambas realizadas com a soja em estádio fenológico R5.3. A massa de 100 grãos, obteve-se através da coleta ao acaso e pesagem de duas amostras de 100 grãos por parcela, calculando-se a média. Para obtenção da produtividade as plantas dispostas em duas linhas em 2,0 m (linha central) foram seccionadas na base, e encaminhadas para a debulha mecânica, e após, estimado a produtividade e corrigidas para 13% de umidade.
Para a análise da variância (teste F) foi aplicado o teste de comparação de médias de Tukey
à 5% de probabilidade de erro, por intermédio do software estatístico Sisvar 5.7®.
Resultados e Discussões
Os resultados de IVE, altura de planta, IAF, massa de 100 grãos e produtividade encontra-se na tabela 1. Os diferentes tipos de inoculantes, em ambos os métodos via semente e sulco, não apresentaram diferença significativa, nas variáveis IVE, altura de planta, massa de 100 grãos e produtividade, fato esperado em virtude das condições climáticas adversas na região. Dessa forma, o período de estiagem comprometeu a produtividade, provavelmente devido aos fotoassimilados fornecerem energia insuficiente para FBN, assim comprometendo a disponibilidade de N para as plantas, e consequentemente, a produtividade. Salienta-se que, em razão do baixo volume de precipitação pluviométrica total registrada durante o ciclo da cultura (490 mm), a cultivar não expressou todo seu potencial genético, além de prejudicar a sobrevivência das bactérias no solo.
Houve efeito significado no IAF, com maiores valores nos tratamentos de inoculação com B. japonicum diretamente na semente e Trichoderma spp. via sulco, com 4,29 e 4,37, respectivamente. De acordo com Zhou et al. (2011), valores de IAF entre 3,5 a 4,0 maximizam a produtividade da soja, chegando até 3 a 4 Mg ha-1 , fato que, como já abordado anteriormente, foi limitado pela estiagem.
Conclusão
A inoculação com Azospirillum brasilense, Bradyrhizobium japonicum e Trichoderma spp. na forma de aplicação via tratamento de semente e sulco de semeadora não influenciaram no desenvolvimento e produtividade da cultura da soja, resultado da interferência da estiagem ocorrida na região norte do Rio Grande do Sul.
Referências
BAUGH, C.L. & ESCOBAR, B. The genus Bacillus and genus Trichoderma for agricultural bio-augmentation. Rice Farm Magazine, 1:1-4, 2007.
CORREIA, T. P. S. Eficiência operacional, econômica e agronômica da inoculação de soja via sulco de semeadura. 2015. Tese (Doutorado em Agronomia), Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Botucatu. 95p.
EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação de solos. 5.ed. Brasília: Embrapa, 2018. 780 p.
GASSEN, D. N. O Índice de Área foliar. AGROLINK, 2002. Disponível em <https://www.agrolink.com.br/colunistas/coluna/o-indice-de-area-foliar-em soja_383603.html> 07 Jul. 2020.
GITTI, D. de C. Inoculação e coinoculação na cultura da soja. Tecnologia e Produção: Soja 2014/2015. 28p.
HUNGRIA, M. & NOGUEIRA, M. A. Co-inoculation of soybeans and common beans with rhizobia and azospirilla: strategies to improve sustainability. Biol Fertil Soil, 49:791-801, 2011.
MAGUIRE, J. D. Speed germination-aid in selection and evaluation for seedling emergence and vigor. CropScience, 2:176-177, 1962.
ZHOU, X. B.; CHEN, Y. H. & OUYANG, Z. Row spacing effect on leaf area development, light interception, crop growth and grain yield of summer soybean crops in Northern China. African Journal of Agricultural Research, 6:1430-1437, 2011.
Informações sobre os autores:
¹ Acadêmico do Curso de Agronomia, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Sertão, Núcleo de Estudos em Solo e Máquinas Agrícolas (NESMA), Sertão – RS, juniorgirardi99@gmail.com
² Eng. Agrícola, Prof. Doutor do IFRS-Campus Sertão, NESMA, Sertão – RS, david.darosa@sertao.ifrs.edu.br
³ Acadêmico do curso de Agronomia, IFRS – Campus Sertão, Sertão – RS.