A deficiência hídrica é o principal fator limitante de produtividade da soja. Dependendo da cultivar, o requerimento hídrico durante o ciclo da soja pode chegar a quase 800 mm, com evapotranspiração podendo chegar a 8 mm dia-1 durante o período reprodutivo da cultura (Neumaier et al., 2020).
Culturas de sequeiro como a soja dependem da água armazenada no solo para o crescimento e desenvolvimento vegetal. O baixo acúmulo e armazenamento de água no solo, em conjunto com o limitado crescimento e distribuição de raízes no perfil, restringe a absorção de água e nutrientes pela soja, reduzindo a tolerância da planta a períodos de estiagem, impactando diretamente a produtividade da cultura.
Distribuição de raízes no perfil do solo
Uma alternativa para mitigar os efeitos da seca é melhorar a distribuição das raízes no perfil do solo. Plantas com raízes pouco profundas ou concentradas próximo à superfície exploram camadas superficiais do solo, mais propensas a perda de água por evaporação, e, portanto, são mais susceptíveis ao déficit hídrico.
De acordo com Battisti & Sentelhas (2017) plantas de soja com mais de 50% do sistema radicular alocado em profundidades maiores que 30 cm são capazes de atingir produtividade superior a 7000 kg ha-1, enquanto plantas que concentram 70% das raízes até os primeiros 30 cm do solo não produzem mais de 4000 kg ha-1 (Equipe FieldCrops).
Figura 1. Relação entre a produtividade da soja e a distribuição das raízes da planta no perfil do solo.
Com isso em vista, promover condições adequadas para que a planta possa aprofundar raízes no perfil do solo é fundamental não só para reduzir os estresses abióticos como também aumentar a produtividade da cultura. No entanto, para que haja uma boa distribuição de raízes no perfil do solo, é fundamental que não haja restrições químicas ou físicas no solo para o crescimento radicular.
Qualidade do solo e infiltração de água
Além disso, é fundamental adotar estratégias de manejo que permitam a melhoria da qualidade estrutural do solo, e com ela o aumento a taxa de infiltração de água no solo. Mesmo com a boa distribuição de raízes no perfil do solo, é essencial garantir a máxima infiltração e armazenamento de água no solo, não apenas para mitigar o efeito do déficit hídrico nos períodos de veranico, como também para reduzir o escoamento superficial nos períodos chuvosos.
De acordo com Debiasi et al. (2023), quanto maior a qualidade estrutural do solo, maior a taxa de infiltração de água nele, e, portanto, maior absorção de água no perfil do solo. O índice de qualidade estrutural do solo (IQES) é avaliado com base na observação de tamanho e forma dos agregados e torrões, presença ou não de feições de compactação ou outra modalidade de degradação do solo, forma e orientação das fissurações, rugosidade das faces de ruptura, resistência à ruptura, distribuição e aspecto do sistema radicular, e evidências de atividade biológica.
Figura 2. Relação entre a Taxa de Infiltração Estável (TIE), determinada pelo método do Infiltrômetro de Cornell, e o Índice de Qualidade Estrutural do Solo (IQES), determinado pela aplicação do Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES). Londrina, PR, 2020.
Em suma, a capacidade das plantas em acessarem água e nutrientes do solo está relacionada a distribuição das raízes no perfil do solo. Quanto maior a distribuição das raízes no perfil do solo, maior a tolerância da planta a períodos de estiagem e maior a produtividade da cultura.
No entanto, além da boa distribuição das raízes no solo, é fundamental que o solo apresente bons atributos físicos, químicos e biológicos, sem impedimentos ao crescimento e desenvolvimento radicular, e com boa capacidade de infiltração de água, o que está diretamente relacionado a sua qualidade de agregados.
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Referências:
BATTISTI, R.; SENTELHAS, P. C. IMPROVEMENT OF SOYBEAN RESILIENCE TO DROUGHTTHROUGH DEEP ROOT SYSTEM IN BRAZIL. Agronomy Journal, 2017. Disponível em: < https://acsess.onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.2134/agronj2017.01.0023 >, acesso em: 17/09/2024.
DEBIASI, H. et al. QUALIDADE ESTRUTURAL DO SOLO E TAXA DE INFILTRAÇÃO ESTÁVEL INFLUENCIADAS POR CULTURAS DE ENTRESSAFRA DA SOJA. Embrapa Soja, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 30, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1152981/1/BPD-30.pdf >, acesso em: 18/09/2024.
NEUMAIER, N. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA. Embrapa, Sistemas de Produção, n. 17. Tecnologias de Produção de Soja, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 17/09/2024.
Foto de capa: Embrapa