Autores: Luiz Eduardo Braga¹, Eduardo Argenta Steinhaus¹ e Marcelo Gripa Madalosso².

A canola (Brassica napus L. var oleífera) é uma cultura oleaginosa da família das crucíferas que possui importância mundial por ser uma fonte de óleo e proteína para a alimentação humana e animal. Além dos desafios operacionais e ecofisiológicos no cultivo da canola, outro fator importante a se considerar são os problemas fitossanitários que podem comprometer a produtividade da cultura, como as pragas, plantas daninhas e doenças.

A mancha de alternária é uma doença de importância econômica na cultura da canola, tendo como agente etiológico os fungos Alternaria brassicae, A. raphani e A. alternata. O fungo é caracterizado como necrotrófico, ou seja, não necessita de uma planta viva para completar o seu ciclo, o que viabiliza a manutenção de micélios, clamidósporos ou esporos na palhada e no solo, servindo de inóculo inicial (TÖFOLI et al., 2015).

A outra fonte de inóculo inicial são as sementes de canola infectadas, que disseminam o patógeno para áreas onde a doença ainda não foi relatada e auxiliam na manutenção de altos níveis de inóculo em áreas onde o cultivo de canola é comumente realizado (KOLTE, 1985). Alternaria brassicae, A. raphani e A. alternata possuem a capacidade de infectar a grande maioria de espécies crucíferas cultivadas, tendo importância no sistema de cultivo da canola o nabo-forrageiro (Raphanus sativus), entretanto, A. alternata pode infectar espécies de plantas de outras famílias, como o algodão (Gossypium hirsutum), a ervilha (Lens culinaris) e o girassol (Helianthus annus) (ROTEM, 1994).

A infecção de Alternaria spp. em plantas de canola a partir do inóculo presente nas sementes e/ou restos culturais pode ocorrer desde a emergência das plântulas (Figura 1), onde temperaturas superiores a 25ºC e alta umidade do ambiente favorecem a ocorrência da infecção e aumentam a severidade da doença (AMARAD & NARAIN, 2000; KIMATI et al., 2005). Após a infecção inicial, diversos ciclos secundários ocorrem, sendo que os conídios podem ser dispersados pelo impacto da gota da chuva em uma mesma planta e para plantas vizinhas, sendo dispersados também pela ação do vento, que desloca os conídios em média até 1,5 metros de distância, entretanto, já foram relatados movimentações de esporos a uma distância maior que 1000 metros (HUMPHERSON-JONES & MAUDE, 1982).

Figura 1. Ciclo de Alternaria spp. em crucíferas. Adaptado de: CANOLA COUNCIL OF CANADA.

Os sintomas podem ocorrer em cotilédones, folhas, caules e síliquas. As lesões em cotilédones e folhas são caracterizadas por manchas marrom-escuras, de circunferência concêntrica, com a presença de halo amarelado ao redor da lesão. No caule, as manchas tomam formato alongado, deprimido, que pode formar ou não halos concêntricos, assim como nas síliquas, que geralmente apresentam lesões circulares deprimidas (NOWAKOWSKA et al., 2019) (Figura 2). As lesões em folhas reduzem drasticamente a área foliar, em caules a presença de sintomas podem dificultar a translocação de nutrientes, assim como, causar a quebra ou a seca de ramificações, e a presença de lesões nas síliquas pode causar o abortamento das estruturas, abertura prematura ou levar a má formação dos grãos, impactando diretamente a qualidade e quantidade de grãos produzidos (MARCHIORI et al., 2002).

Figura 2. Lesões de Alternaria spp. em síliquas de canola. Fonte: CANOLA COUNCIL OF CANADA.

Os principais métodos de manejo de Alternaria spp. em canola caracterizam-se pelo uso de sementes livres do patógeno, escolha da época de semeadura, não coincidindo a época de floração com ocorrência de altas temperaturas e umidade, ajuste da população de plantas para favorecer a entrada de radiação solar no baixeiro das plantas e conferir maior arejamento, controle de plantas que servem de hospedeiro para a doença, como o nabo-forrageiro e a rotação de culturas com plantas não hospedeiras por pelo menos duas safras.

Informações sobre os autores:

  • ¹ = Estudante do curso de agronomia URI Campus Santo Ângelo e membro do Grupo de Proteção de Plantas URI Santo Ângelo.
  • ² = Professor Dr. da URI Campus Santo Ângelo e Santiago e coordenador do grupo de proteção de plantas URI Santo Ângelo e Santiago.

Referências

AHAMAD, S. AND U. NARAIN, 2000. Effect of temperature, relative humidity and rainfall on development of leaf spot of bittergourd. Ann. Plant Prot. Sci., 8: 114-115.

HUMPHERSON-JONES, F.M.; MAUDE, R. B. Studies on the epidemiology of Alternaria brassicicola in Brassica oleracea seed production crops. Annals of Applied Biology 100: 61-71. 1982.

KOLTE, S.J. Diseases of Annual Edible Oilseed Crops Vol. II. Rapeseed-Mustard and Sesame Diseases. CRC Press Inc., Boca Raton, Florida, pp: 135-137. 1985.

MARCHIORI.JR., O, INOUE, M.H, BRACCINI, A.L, OLIVEIRA JR., R.S, AVILA, M.R, LAWDER, M, CONSTANTIN, J. Qualidade e produtividade de sementes de canola (Brassica napus) após aplicação de dessecantes em pré-colheita; Planta Daninha, Viçosa-MG, v.20, n.2, p.253-261, 2002.

NOWAKOWSKA, M.; WRZESIŃSKA, M.; KAMIŃSKI, P.; SZCZECHURA, W.; LICHOCKA, M.; TARTANUS, M.; KOZIK, E. U.; NOWICKI, M. Alternaria brassicicola – Brassicaceae pathosystem: insights into the infection process and resistance mechanisms under optimized artificial bio-assay. European Journal of Plant Pathology, 153(1), 131–151. 2019.

TÖFOLI, J. G.; DOMINGUES, R. J.; FERRARI, J. T. Alternaria spp. em oleráceas: sintomas, etiologia, manejo e fungicidas. Biológico, São Paulo, v.77, n.1, p.21-34, 2015.

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