Visando maximizar a produtividade do trigo, algumas estratégias de manejo podem contribuir para o aumento do rendimento da cultura, trabalhando apenas com respostas fisiológicas da planta ao posicionamento da cultivar. Embora pouco se tenha discutido sobre a influência da duração do período entre a espigueta terminal (ET) a antese (AN), conforme destacado por Rodrigues; Teixeira; Costenaro et al. (2011), sob condições adequadas ao desenvolvimento vegetal, a duração desse período pode exercer influência sobre componentes de produtividade e produtividade do trigo.
Cabe destacar que o período de Espigueta Terminal (ET), corresponde aproximadamente ao início do período de alongamento do colmo, e a Antese (AN) refere-se ao período de desenvolvimento em que 50% das espigas estiverem com as anteras extrusadas (Rodrigues; Teixeira; Costenaro, 2011). Conforme observado por De Bona; De Mori; Wiethölter (2016), o período da antese também corresponde ao período de máxima absorção de Nitrogênio (N) pela cultura do trigo, com acentuado aumento da absorção de N na matéria seca da cultura, destacando a importância do período, uma vez que o N é o nutriente mais requerido pelo trigo.
Figura 1. Marcha de absorção de nitrogênio na cultura do trigo.
Rodrigues; Teixeira; Costenaro et al. (2011) enfatizam que embora poucos estudos tenham avaliado o feito da duração do período ET – AN, dando ênfase para a existência de efeito ou não desse período, alguns resultados de pesquisa evidenciam haver relação entre o aumento do período de ET – AN, com a produtividade e componentes de produtividade do trigo, sendo observado que sob condições adequadas, o aumento da duração desse período pode representar o aumento do rendimento do trigo.
Figura 2. Associação entre a duração do período entre os estádios de espigueta terminal e antese, na evolução do rendimento de grãos de trigo.
De maneira geral, como analisado na marcha de absorção de Nitrogênio pela cultura do trigo, durante o período de ET – AN, tem-se um significativo aumento da absorção do N pela cultura do trigo, comportamento que se assemelha a absorção dos demais nutrientes. Sendo assim, o aumento do período entre ET – AN, pode representar maior absorção de nutrientes pela planta e consequentemente maior acúmulo de matéria seca e rendimento da cultura, desde que haja condições ambientais e nutricionais adequadas ao bom crescimento e desenvolvimento do trigo.
Uma das estratégias para maximizar o período entre ET – AN, consiste no aumento da duração do período ET – AN, com a distribuição temporal da cultura. A melhor distribuição da cultura do tempo com o posicionamento de cultivares visa maximizar o aproveitamento de recursos ambientais, durante essa fase, buscando oportunizar o maior acúmulo de biomassa pela espiga, em virtude do aumento do número de grãos e rendimento. O maior aproveitamento de condições ambientais adequadas como temperatura e radiação solar durante o período de ET – AN, pode contribuir para o aumento da produtividade do trigo.
Conforme relatado por Rodrigues; Teixeira; Costenaro et al. (2011), em um estudo realizado pela Embrapa observou-se que dependendo da cultivar e região de cultivo, a antecipação da semeadura do trigo de junho para maio onde as temperaturas médias são mais elevadas, pode provocar redução significativa no período entre semeadura e duplo anel (Sem-DA), contribuindo para o desenvolvimento dos períodos de duplo anel a espigueta terminal (DA-ET) e ET – AN, em períodos com temperaturas mais amenas, proporcionando significativo alongamento e maior acúmulo de reservas, impactando número de espiguetas e consequentemente número de grãos por metro quadrado.
Figura 3. Relação do tempo de duração (dias) entre a Sem-AN com sub-períodos (Sem=semeadura; DA=duplo anel; ET=espigueta terminal e AN=antese) nas cultivares de trigo BR 23 e BR 35 (1992, 1993 e 1994) semeadas em diferentes épocas. As setas referenciais na parte superior da figura indicam as épocas de semeadura. Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS.
Entretanto, cabe destacar que embora esse manejo constitua uma estratégia para maximizar o período de ET – NA, as respostas produtivas a essa prática podem variar em função da cultivar e ambiente de cultivo, sendo necessário ainda, analisar a possibilidade de inserção de estratégias como essa dentro das recomendações técnicas presentes no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para a cultura do trigo, não sendo recomendada a semeadura da cultura fora do período pré-estabelecido no ZARC, para cada região e ambiente de cultivo.
Veja mais: Lagartas em trigo – principais espécies e níveis de ação
Referências:
DE BONA, F. D.; DE MORI, C.; WIETHÖLTER, S. MANEJO NUTRICIONAL DA CULTURA DO TRIGO. International Palnt Nutrition Institute, Informações Agronômicas, n.154, 2016. Disponível em: < http://www.ipni.net/publication/ia-brasil.nsf/0/47520FE3CAA3AEF183257FE70048CC16/$FILE/Page1-16-154.pdf >, acesso em: 18/07/2022.
RODRIGUES, O.; TEIXEIRA, M. C. C.; COSTENARO, E. R. MANEJO DE TRIGO PARA ALTA PRODUTIVIDADE. Plantio Direto, 2011. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355291/17775548/Trigo-Manejo+para+alta+Produtividade.pdf/9ba37362-19a5-4e9d-91e8-432f7a1f31ec?version=1.0 >, acesso em: 18/07/2022.