No sistema de produção de milho, algumas pragas podem acometer a cultura ainda no estabelecimento da lavoura, causando entre outros danos, a redução do estande de plantas e a queda da produtividade da cultura. Algumas dessas pragas são provenientes da cultura antecessora, estando presentes na área antes mesmo da semeadura do milho. Outras por sua vez, são atraídas pela cultura, após o estabelecimento da lavoura.

Figura 1. Período de ocorrência das principais pragas na cultura do milho.

Dentre as principais pragas iniciais do milho, talvez uma das mais complexas e preocupantes é a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis; Leptodelphax maculigera), capaz de causar perdas  superiores a 70% (Lobato, 2021) em lavouras afetadas. Contudo, além da temida cigarrinha-do-milho, pragas iniciais como percevejos e lagartas podem acometer o milho, causando injúrias à cultura, e até mesmo, comprometendo o estabelecimento da lavoura em alguns casos.

Figura 2. Cigarrinha-do-milho, espécie Dalbulus maidis.

Sendo assim, para o sucesso da produção, é essencial promover a proteção da lavoura por meio do controle inicial dessas pragas. Uma das principais estratégias utilizadas para isso é o tratamento de sementes com inseticidas específicos para o controle de pragas iniciais do milho e registrados para uso na cultura. Essa técnica é indispensável, especialmente se tratando de semeaduras tardias e/ou no milho safrinha (segunda safra), quando a incidência de pragas iniciais é  geralmente é maior (Eicholz et al., 2024).

Normalmente os inseticidas utilizados no tratamento de sementes do milho são associados a fungicidas para o controle de doenças iniciais e também, bioestimulantes e microrganismos benéficos na forma de inoculação das sementes, proporcionando o estímulo ao crescimento e desenvolvimento inicial das plântulas. No entanto, ainda que possibilite a proteção inicial contra pragas, o tratamento de sementes com inseticidas apresenta suas limitações.

Uma das principais limitações está relacionada à residualidade do inseticida (efeito residual). Embora os produtos atualmente utilizados no tratamento de sementes de milho apresentem alta eficiência, o efeito residual no campo (período de proteção efetiva) é fortemente influenciado pelas condições climáticas e ambientais. Em geral, essa proteção é limitada a cerca de 10 a 15 dias após a semeadura.

Isso ocorre porque fatores como umidade e textura do solo, bem como a ocorrência de chuvas; interferem na distribuição e na permanência do inseticida próximo à semente. Chuvas intensas podem acelerar a lixiviação do produto, reduzindo sua concentração na zona de ação. Normalmente, solos arenosos tendem a apresentar menor capacidade de retenção, diminuindo ainda mais a duração do efeito residual (figura 3).

Na cultura da soja, tem-se adotado a aplicação de polímeros na etapa final do tratamento, com a finalidade de aumentar a retenção do princípio ativo junto às sementes, impedindo que parte deste seja lixiviado (Possenti & Meneghello, 2022). Essa estratégia visa proporcionar uma menor perda dos produtos utilizados no tratamento de sementes por lixiviação, e pode ser uma alternativa interessante também para uso na cultura do milho, contribuindo para o aumento da residualidade dos inseticidas utilizados no tratamento de sementes e consequentemente controle inicial de pragas.

Figura 3. Sementes sem uso de polímero à esquerda e com polímero à direita.
Fonte: Possenti & Meneghello (2022)

Tanto para o controle da cigarrinha-do-milho quanto para o controle dos percevejos, a aplicação de inseticidas via pulverização após o período residual do tratamento de sementes é indispensável no casos de infestações dessas pragas. O período crítico da presença do percevejo-barriga-verde (Diceraeus furcatus e Diceraeus melacanthus) em milho é similar ao período crítico para a cigarrinha-do-milho, e vai da emergência das plântulas até aproximadamente V5 (VE a V5). Normalmente, esse período varia da emergência até aproximadamente 28 dias, ou seja, as primeiras quatro semanas do desenvolvimento do milho são cruciais para o monitoramento e controle do percevejo-barriga-verde e da cigarrinha-do-milho.

Sob condições ambientais e climáticas adequadas, o ciclo desses insetos é acelerado, encurtando o intervalo entre ovo e adulto, resultando em um rápido aumento populacional das pragas. Nessas condições, mesmo com inseticidas de maior residual, é comum observar a necessidade de realizar reaplicações de inseticidas via pulverização em intervalos curtos de 5 a 7 dias para reduzir reinfestações, especialmente se tratando da cigarrinha-do-milho (Agrofit, 2025).

Avaliando a eficiência de diferentes inseticidas utilizados no tratamento de sementes de milho para o controle do percevejo-barriga-verde, Fernandes; Ávila; Silva (2019) observaram que alguns princípios ativos apresentam eficácia limitada, com efeito residual de apenas sete dias, enquanto outras moléculas mantêm boa performance até 21 dias após a emergência da cultura. Nesse contexto, conhecer o efeito residual do inseticida utilizado no tratamento de sementes e segmentar o ciclo do milho em janelas de aplicação é determinante para reduzir o impacto das pragas sobre a cultura.

De acordo com as orientações do IRAC-BR, cada janela de aplicação deve corresponder ao tempo necessário para que a praga complete uma geração (de ovo a adulto) ou ao período de residualidade de uma única aplicação do inseticida utilizado  (adotando-se o que for mais longo). Entretanto, nem sempre é possível determinar com precisão o tempo de geração de um inseto. Assim, na ausência dessa informação, o IRAC-BR recomenda considerar uma janela de 30 dias para a maioria das pragas, e de 15 dias para pulgões e ácaros (IRAC-BR, s. d.).

No caso específico da cigarrinha-do-milho, essa janela é consideravelmente menor, devido ao curto ciclo de vida do inseto e ao elevado potencial de dano da praga, sendo recomendada a reaplicação de inseticidas a cada 5 a 7 dias em condições de alta infestação. É importante destacar que tanto o efeito residual dos inseticidas aplicados no tratamento de sementes quanto o das pulverizações foliares podem ser influenciados por fatores climáticos e ambientais, como ocorrência de chuvas, fotodegradação, entre outros, resultando em variações no tempo de residualidade.

Além desses fatores, a dose e concentração do ingrediente ativo, assim como a tecnologia de aplicação utilizada para a pulverização, podem exercer influência positiva ou negativa sobre a residualidade dos inseticidas em milho. Portanto, além de posicionar corretamente os inseticidas dentro das janelas de aplicação, é fundamental manter o monitoramento contínuo e criterioso da lavoura, de modo a identificar o momento ideal para intervenções e, assim, criar oportunidades para maximizar a proteção da cultura e minimizar os danos causados por pragas.

Referências:

AGROFIT. CONSULTA ABERTA. Ministério da Agricultura e Pecuária, 2025. Disponível em: < https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons >, acesso em: 31/10/2025.

EICHOLZ, E. D. et al. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA O CULTIVO DE MILHO E SORGO NA REGIÃO SUBTROPICAL DO BRASIL: SAFRAS 2023/24 E 2024/25. Associação brasileira de Milho e Sorgo, Reunião Técnica Sul-Brasileira de Pesquisa de Milho e Sorgo (MISOSUL), 2024. Disponível em: < https://www.agricultura.rs.gov.br/upload/arquivos/202406/19154728-informacoes-tecnicas-milho-e-sorgo-2023-24-2024-25-misosul-2023.pdf >, acesso em: 31/10/2025.

FERNANDES, P. H. R.; ÁVILA, C. J.; SILVA, I. F. CONTROLE DO PERCEVEJO Dichelops melacanthus POR MEIO DE INSETICIDAS APLICADOS NAS SEMENTES DE MILHO. Embrapa, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 82, 2019. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/202048/1/BP-82-2019-CREBIO.pdf >, acesso em: 31/10/2025.

IRAC-BR. MILHO: ORIENTAÇÕES PARA O MANEJO DA RESISTÊNCIA A INSETICIDAS. Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas Brasil, s. d. Disponível em:< https://www.irac-br.org/_files/ugd/6c1e70_fb6f15d35444471ca2e99394bbcf8ffb.pdf >, acesso em: 31/10/2025.

LOBATO, B. CIGARRINHA E ENFEZAMENTOS DO MILHO DESAFIAM PRODUTORES, QUE DEVEM SEGUIR RECOMENDAÇÕES DE MANEJO. Embrapa, News, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/65316124/cigarrinha-e-enfezamentos-do-milho-desafiam-produtores-que-devem-seguir-recomendacoes-de-manejo >, acesso em: 31/10/2025.

POSSENTI, J. C.; MENEGHELLO, G. E. TRATAMENTO DE SEMENTES E SULCO DE SEMEADURA. Embrapa Soja, Bioinsumos na cultura da soja, cap. 5, 2022. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1143066/bioinsumos-na-cultura-da-soja >, acesso em: 31/10/2025.

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