A soja tolerante a sulfoniluréias (STS®) não se trata de uma cultura transgênica, foi desenvolvida através da técnica de mutagênese de sementes utilizando o agente alquilante etilmetanosulfonato (EMS) que é um agente que não causa mutação pela inserção no DNA, mas sim pela modificação da base já presente, introduzindo um radical alquil (Rogozin et al., 2001). As sulfoniluréias controlam principalmente plantas daninhas dicotiledôneas, entretanto algumas moléculas demonstram boa ação contra gramíneas (Zhou et al., 2007).

Autores deste trabalho: PAGENOTTO, A.C.V.¹; GIRALDELI, A.L.¹; SILVA, A.F.M.¹; SILVA, G.S.¹, MIGLIORINI, L.T.¹; GHIRARDELLO, G.A.¹; MORAES, J.P.¹; ALBRECHT, A.J.P.²; ALBRECHT, L.P.²; VICTORIA FILHO, R.¹

O herbicida metsulfuron, que é uma sulfoniluréia, apresenta registro de uso no Brasil para culturas como aveia, trigo, cana-de-açúcar, entre outras monocotiledôneas e manejo de plantas daninhas no inverno. O intervalo de segurança entre aplicação e semeadura de soja é de 60 dias (Rodrigues; Almeida, 2011). A aplicação de chlorsulfuron mais metsulfuron, 120 dias antes do plantio, afetou significativamente a altura e produtividade de soja (cultivar não-STS) (Grey et al., 2012). Entretanto, não se tem relatos do efeito residual de metsulfuron em cultivares STS. Acredita-se que o intervalo de segurança, entre aplicação e semeadura de soja STS, seja inferior ao intervalo necessário para soja não-STS.

Assim objetivou-se com o presente avaliar o efeito residual do herbicida metsulfuron, nos cultivares de soja BMX Garra RR2/STS e M 6410 IPRO (não-STS). O experimento foi conduzido em casa de vegetação pertencente ao Departamento de Produção Vegetal da Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba – SP, no período de novembro de 2016 a fevereiro de 2017. O herbicida metsulfuron (Accurate®) foi aplicado na dose de 2,4 g i.a. ha-1, em pré-semeadura da soja.

O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 5, com quatro repetições. Os fatores foram constituídos por dois cultivares de soja (STS e não-STS), e por cinco períodos entre a aplicação e semeadura da soja (0, 15, 30, 45 e 60 dias). Foram utilizados os cultivares de soja BMX Garra RR2/STS e M 6410 IPRO (não-STS). Em cada período foi realizada a aplicação de oito vasos, sendo quatro para cada cultivar. Após a aplicação do último período foi realizada a semeadura dos cultivares de soja BMX Garra RR2/STS e M 6410 IPRO (não-STS), 10 sementes por vaso.

Aos 7 e 14 após a semeadura (DAS) foi realizada avaliação de emergência das plântulas de soja. Aos 28 DAS foi realizada a coleta da parte aérea de todas as plantas de soja e determinada a massa seca total por vaso.

Os dados foram submetidos à análise de variância conforme Pimentel-Gomes e Garcia (2002). Para o fator cultivar de soja as médias foram submetidas ao teste de Tukey (p≤0,05). Enquanto que para o fator período, as médias foram submetidas à análise de regressão (p≤0,05).

Para ambos os cultivares, a emergência aos 7 e 14 DAS (Figuras 1 e 2), foi possível ajuste de regressão linear, com a diminuição de dias no período, entre aplicação e semeadura, foi menor o percentual de emergência. Apesar do ajuste, verifica-se 80,0% de emergência aos 7 DAS para o cultivar STS (0 dias entre aplicação e semeadura), valor este no limite mínimo recomendado para comercialização de sementes (Brasil, 2009). Enquanto que para o cultivar não-STS o percentual de emergência aos 7 DAS foi de apenas 30,0%.

Figura 1. Emergência (%) das plantas de soja aos 7 DAS, sob aplicação em pré-semeadura de metsulfuron (2,4 g i.a. ha-1). Piracicaba – SP, 2016/17.

Médias com as mesmas letras, na comparação entre cultivares, não diferem entre si pelo teste Tukey p≤0,05.

Figura 2. Emergência (%) das plantas de soja aos 14 DAS, sob aplicação em pré-semeadura de metsulfuron (2,4 g i.a. ha-1). Piracicaba – SP, 2016/17.

Médias com as mesmas letras, na comparação entre cultivares, não diferem entre si pelo teste Tukey p≤0,05.

Para a variável massa seca total (Figura 3) o cultivar STS não foi possível ajuste de regressão linear segundo os critérios observados (explicação biológica, regressão significativa, desvios da regressão não-significativos, coeficiente de determinação e análise de resíduos). Evidenciando-se assim a tolerância do cultivar BMX Garra, para aplicação do herbicida metsulfuron em pré-semeadura, independente do período em dias, entre a aplicação e a semeadura.

Figura 3. Massa seca (g) das plantas de soja aos 28 DAS, sob aplicação em pré-semeadura de metsulfuron (2,4 g i.a. ha-1). Piracicaba – SP, 2016/17.

Médias com as mesmas letras, na comparação entre cultivares, não diferem entre si pelo teste Tukey p≤0,05.

Entretanto para o cultivar não-STS foi possível ajuste de regressão linear, com a diminuição dos dias entre a aplicação e semeadura, diminui-se a massa seca total e média das plantas de soja. Ressalta-se ainda que na comparação entre cultivares, não é verificada diferença apenas para o período de 60 dias, para massa seca total. Nos demais períodos a cultivar STS sempre apresentou maior massa seca total (Figura 3).

Para cultivares não-STS o intervalo de segurança entre a aplicação e semeadura é de 60 dias (Rodrigues e Almeida, 2011). No presente estudo o cultivar M6410 IPRO (não-STS) teve seu desenvolvimento inicial prejudicado pela aplicação em pré-emergência do herbicida metsulfuron. Os resultados indicam que o cultivar BMX Garra RR2/STS é tolerante para aplicação de metsulfuron, independentemente do período entre aplicação e a semeadura. Apenas para a emergência foi possível ajuste de regressão, entretanto mesmo para a semeadura imediatamente após a aplicação, os percentuais de emergência foram de 80,0%.

O cultivar de soja BMX Garra RR2/STS, em geral, apresentou-se tolerante para aplicação em pré-semeadura do herbicida metsulfuron. Com a semeadura podendo ser realizada imediatamente após a aplicação.

O cultivar de M 6410 IPRO (não-STS) teve seu desenvolvimento inicial prejudicado pela aplicação em pré-emergência do herbicida metsulfuron. Entretanto quando respeitado o intervalo de segurança (60 dias) a aplicação do herbicida é segura ao cultivar.

Sobre os Autores: ¹Universidade de São Paulo – USP, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ, Piracicaba, SP, afmoreirasilva@hotmail.com; ²Universidade Federal do Paraná – UFPR, Setor Palotina, Palotina, PR.

Referências

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes. Brasília: Secretaria de Defesa Agropecuária, 2009. 398 p.

GREY, T.L.; BRAXTON, L.B.; RICHBURG III, J.S. Effect of wheat herbicide carryover on double-crop cotton and soybean. Weed Technology, v.26, n.2, p.207-212, 2012.

PIMENTEL-GOMES, F.; GARCIA, C.H. Estatística aplicada a experimentos agronômicos e florestais: exposição com exemplos e orientações para uso de aplicativos Piracicaba: FEALQ. 2002.

RODRIGUES, B.N.; ALMEIDA, F.S. Guia de herbicidas. Ed. dos autores, 2011.

ROGOZIN, I.B. et al. The effect of the primary structure of DNA on induction of mutations by alkylating agents. Russian Journal of Genetics, v.37, n.6, p.704-710, 2001.

ZHOU, Q. et al. Action mechanisms of acetolactate synthase-inhibiting herbicides. Pesticide Biochemistry and Physiology, v.89, n.2, p.89-96, 2007.

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