A giberela, causada pelo fungo Fusarium graminearum (teleomorfo Gibberella zeae), é uma das mais preocupantes e agressivas doenças que acometem o trigo, com capacidade de reduzir significativamente a produtividade e a qualidade dos grãos produzidos.
Os danos variam em função do grau de infecção e sensibilidade da cultivar, mas em casos mais severos, as perdas de produtividade podem chegar a 25%, além disso, os grãos infectados podem ser contaminados por micotoxinas, sendo prejudiciais para a saúde humana e animal (Antunes, 2023).
O controle da giberela é feito predominantemente via aplicação de fungicidas químicos registrados para a cultura, preventivamente a infecção da doença, durante o período de maior predisposição do trigo ao fungo. Segundo Cunha & Caierão (2023), esse período estende-se do início da floração (presença de anteras soltas e presas) até estádio de grão leitoso (presença de anteras presas), ou seja, do estádio 60 ao 75 de Zadoks et al. (1974).
Contudo, além do adequado posicionamento dos fungicidas no tempo, é importante atentar para a escolha do ingrediente ativo, dando preferência para fungicidas de maior eficiência. Vale destacar que há poucas opções de fungicidas registrados para a cultura do trigo para o controle da giberela. Os principais estão apresentados na tabela 1.
Veja mais: Giberela – Extrusão das anteras é momento mais suscetível do trigo à doença
Tabela 1. Fungicidas indicados para o controle da giberela (Fusarium graminearum) em trigo.
Eficiência dos fungicidas
Mais recentemente, a Embrapa Trigo divulgou os resultados dos ensaios cooperativos conduzidos na safra 2023 para avaliar a eficiência de diferentes fungicidas no controle da giberela em trigo. Foram conduzidos 11 ensaios na região Sul do Brasil utilizando cultivares de trigo com diferentes reações de resistência/suscetibilidade a giberela. Os tratamentos analisados, fungicidas, doses e princípios ativos estão apresentados na tabela 2.
Tabela 2. Tratamentos utilizados nos experimentos da Rede de Ensaios Cooperativos do Trigo para controle da giberela, na safra 2023.
Além dos tratos culturais para o controle de pragas e demais doenças do trigo, durante os ensaios foram realizadas três aplicações sequenciais dos fungicidas nos períodos da floração e de enchimento de grãos, sendo a primeira no início da floração (25% a 50%), e as demais em intervalos de 7 a 12 dias, com o intuito de controlar a giberela, utilizando os tratamentos analisados (Ferreira et al., 2024).
Resultados
Com base nos resultados obtidos nos ensaios, a aplicação de fungicidas foi efetiva na redução da incidência de giberela, independentemente do fungicida utilizado. As parcelas não tratadas (T1 – Controle negativo) apresentaram incidência média de 76,9%, enquanto a incidência de giberela com a aplicação dos fungicidas variou de 50,7% a 59,6% dependendo do tratamento. A incidência da doença foi avaliada com base no percentual de espigas sintomáticas
Segundo Ferreira et al. (2024), a eficiência dos fungicidas, variou de acordo com os tratamentos, sendo que, a utilização de fungicidas à base de metominostrobina + tebuconazol e tiofanato-metílico (T6), com três aplicações sequenciais, demonstrou ser um dos tratamentos mais eficientes para o controle da giberela em trigo .
Tabela 3. Médias, agrupamento, intervalos de confiança e eficiência de controle para incidência de giberela em trigo, estimados para diferentes tratamentos fungicidas. Dados sumarizados dos 11 ensaios da Rede de Ensaios Cooperativos de Trigo para controle de giberela, safra 2023.
Todos os tratamentos com fungicidas apresentaram severidade inferior ao controle negativo. Com relação a produtividade, a utilização de fungicidas resultou em diferenças no rendimento do trigo que variaram de 473 kg ha-1 a 919 kg ha-1 em relação ao controle negativo, sendo que, as maiores produtividades foram observadas com o emprego de metominostrobina + tebuconazol e tiofanato-metílico (T6).
Tabela 4. Médias, agrupamento intervalos de confiança e diferença relativa para rendimento de grãos de trigo, estimados para diferentes tratamentos fungicidas. Dados sumarizados dos 11 ensaios da Rede de Ensaios Cooperativos de Trigo para controle de giberela, safra 2023.
Os resultados apresentados por Ferreira et al. (2024) servem para um comparativo dos produtos disponíveis para os produtores. No entanto, os protocolos dos ensaios determinam aplicações sequenciais do mesmo produto para comparação dos fungicidas, o que não se configura como uma recomendação para controle.
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Referências:
ALMEIDA, J. L. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA TRIGO E TRITICALE: SAFRAS 2024 & 2025. Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, 2024. Disponível em: < https://static.conferenceplay.com.br/conteudo/arquivo/infotecnitrigotriticalesafras20242025livrodigitalfinal-1721832775.pdf >, acesso em: 20/08/2024.
ANTUNES, J. TRIGO: CLIMA PODE FAVORECER INCIDÊNCIA DE GIBERELA. Embrapa, News, 2023. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/82451978/trigo-clima-pode-favorecer-incidencia-de-giberela >, acesso em: 20/08/2024.
CUNHA, G. R.; CAIERÃO, E. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA TRIGO E TRITICALE: SAFRA 2023. Embrapa, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1153536/1/InformacoesTecnicasTrigoTriticale-Safra2023.pdf >, acesso em: 20/08/2024.
FERREIRA, A. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA CONTROLE DE GIBERELA DO TRIGO: REDE DE ENSAIOS COOPERATIVOS, SAFRA 2023. Embrapa Trigo, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 116, 2024. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1166408/1/BPD-116-online.pdf >, acesso em: 20/08/2024.
Foto de capa: Diogo Zanata