A Embrapa Agroenergia participou do debate “O Agro produzindo energia limpa e impulsionando a sustentabilidade”, parte da programação oficial da COP-27, a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, na última segunda-feira, 14/11, nos estúdios da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília – DF. O chefe-geral da Embrapa Agroenergia Alexandre Alonso moderou o evento, que teve como debatedores o Head de Desenvolvimento Sustentável da Raízen, Bruno Maier, e o Diretor da Geoenergética, Alessandro Gardemann.
O painel interagiu diretamente com o Pavilhão Brasil da COP-27 em Sharm El Sheikh, no Egito, onde 196 países membros da ONU estão reunidos para reforçar e fazer cumprir o Acordo de Paris, cujas principais metas dizem respeito à redução da poluição e do desmatamento e ao uso da energia renovável, quesito no qual o Brasil ocupa importante lugar.
Na abertura do painel, Alonso afirmou que os três temas do debate, agricultura, agroenergia e sustentabilidade, são muito importantes para o País e para a Embrapa. Alonso fez um breve resumo sobre a trajetória da agricultura brasileira, destacando as transformações das últimas décadas que levaram o Brasil do papel de importador de alimentos para um dos principais produtores de alimentos, fibras e bioenergia do mundo em pouco mais de quatro décadas.
“A agricultura brasileira passou por três grandes fases, uma primeira fase de expansão de áreas produtivas para regiões mais adequadas para o plantio; uma segunda fase de aumento de produtividade com investimentos maciços em tecnologia; e por último a fase de sustentabilidade, que é a fase atual”, afirmou.
Alonso também apresentou os números que demonstram a pujança do agro brasileiro, como os que mostram sucessivos recordes de produtividade agrícola. “Chegamos próximos a 300 milhões de toneladas na safra de grãos, fora a produção pecuária, leiteira, de hortaliças e frutas”, disse, ressaltando ainda que, além de produtiva, a agricultura brasileira é bastante diversificada. “Temos mais de 300 espécies sendo cultivadas no País e mais de 350 produtos derivados da pecuária nacional sendo exportados para mais de 200 territórios”, concluiu.
Sobre a sustentabilidade da agricultura brasileira, o chefe-geral da Embrapa Agroenergia falou do incremento de práticas conservacionistas estimulado nos últimos anos pelo Plano Agricultura de Baixo Carbono, o Plano ABC. “A onda da sustentabilidade não é exatamente uma onda nova, e acho que a experiência exitosa que o País tem na produção e uso de bioenergia e biocombustíveis já há algumas décadas é prova disso”, afirmou Alonso, enfatizando que o Brasil tem hoje um percentual de renovabilidade da matriz energética brasileira de aproximadamente 45%, muito superior à maior parte dos países desenvolvidos.
“Desse percentual renovável, 21% vêm de produtos da cana-de-açúcar e de outras fontes vinculadas à agroenergia”, ressaltou. Segundo Alonso, o mesmo ocorre na matriz elétrica nacional, para a qual o percentual de renovabilidade é próximo a 80%, sendo que 8% também advêm de biomassa da cana-de-açúcar e de outras fontes. “O agro terá papel fundamental na expansão do setor energético brasileiro, uma vez que a cana-de-açúcar, a soja, o milho e os resíduos agropecuários são as principais matérias-primas para a produção de bioenergia e biocombustível”, afirmou.
Para Alonso, o agro também tem papel fundamental na nova agenda da bioeconomia e da transição energética. “O Brasil demonstra para o mundo que é possível produzir e utilizar bioenergia e biocombustíveis em larga escala, com sustentabilidade. O País fez uma escolha pela sustentabilidade, pelos biocombustíveis, pela agroenergia, o que ficou demonstrado nos vários programas e nas várias políticas públicas que vêm sendo implementadas ao longo dos anos, a exemplo do Proálcool, do PNPB, do RenovaBio e mais recentemente do Metano Zero”, lembrou.
Finalizando a fala de abertura no painel, Alonso afirmou que o etanol, o biodiesel, a bioeletricidade e o biogás são hoje realidade no nosso País, e no futuro serão realidade outros biocombustíveis avançados, a exemplo do etanol de 2ª geração, os combustíveis de aviação (SAFs), biocombustíveis marítimos, diesel verde, biometano e também o hidrogênio verde, entre outros.
“É possível conciliar a produção de alimentos e energia com sustentabilidade. O que precisamos é fazer a substituição da discussão do ‘ou’ pela proposição do ‘e’, ou seja, se produzir alimentos e energia e bioprodutos”, disse. Para Alonso, a tecnologia será um fator chave para continuarmos explorando a multifuncionalidade da agricultura brasileira. Como exemplo, citou mais uma vez a cana-de-açúcar, exemplo de conversão de um modelo agrícola para um modelo de biorrefinaria, onde é feita a produção integrada de alimento, açúcar, energia, etanol de primeira e segunda geração, biogás, biometano, bioeletricidade, bioprodutos, componentes químicos e mais recentemente bilhões de créditos de carbono.
“Somos partes do futuro de um agro descarbonizado”, afirma executivo do setor de biogás
O Head de Desenvolvimento Sustentável da Raízen, Bruno Maier, iniciou o debate afirmando que o setor sucroenergético brasileiro mudou e que hoje as usinas de cana-de-açúcar são chamadas de “parques de bioenergia”. Segundo ele, além da produção do etanol e do açúcar, é produzida a partir do bagaço a energia elétrica; a partir da vinhaça, o biogás e biometano; e etanol celulósico de 2ª geração também a partir do bagaço, o que significou um aumento de 50% na produção de etanol sem aumentar a área plantada.
“Hoje o que chamamos de parques de bioenergia são ecossistemas completos de soluções de descarbonização, onde 19% da energia brasileira são produzidos em somente 1% do território nacional”, afirmou Maier. Segundo o executivo da Raízen, o setor sucroenergético está na vanguarda da geração de energia e assim permanecerá por muitos anos.
Para o Diretor da Geoenergética, Alessandro Gardemann, o desafio do biogás para o agro brasileiro não possui referências fora do Brasil, e a escala do biogás no Brasil também não tem solução pronta fora do País. “O Brasil hoje com os resíduos desperdiçados pode produzir mais de 100 milhões de m³ de biogás por dia, o equivalente a 70% do diesel nacional, 40% da energia elétrica e cinco vezes o consumo de GLP”, afirmou Gardemann. Desse potencial, ele afirmou que mais de 90% está concentrado no agro.
“Na nossa visão, se o gás natural é o combustível da transição, o biometano é o destino, pois é um combustível carbono zero e não disputa com a produção de alimentos, ração, tendo todos os atributos ambientais e sendo ainda uma commodity energética global, que está em falta devido aos problemas energéticos ocorridos na Europa”, disse o diretor.
Gardemann lembrou que se com apenas 1% de terra plantada com cana-de-açúcar é possível produzir cerca de 20% da energia brasileira, há um potencial imenso nos cerca de 200 milhões de hectares de pastos degradados disponíveis para ampliação, e isso poderá gerar mais receita por hectare, mais emprego e mais alimento. “Toda essa questão da economia circular diz respeito ao ganho de produtividade agrícola, à redução do uso de fertilizantes de origem fóssil, à redução do consumo de diesel, melhora da pegada de carbono, tudo isso com redução de custos”, resumiu.
“Somos partes do futuro de um agro descarbonizado, sustentável, com melhor pegada de carbono, mas também de menor custo, mais competitivo, gerando mais alimento e também parte de uma indústria de futuro nacional carbono zero”, concluiu.
“As novas soluções têm que vir com o olhar holístico e de economia circular”, diz executivo do setor sucroenergético
Em relação ao futuro dos biocombustíveis, o executivo da Raízen, Bruno Maier, afirmou que a empresa é procurada pelos principais executivos dos setores de aviação e transporte marítimo para tentar trazer soluções de descarbonização. “Se imaginarmos que dentro do processo produtivo eu posso pegar o biogás oriundo da vinhaça, e que eu produzi o biometano, e posso trazer ele de novo para o processo produtivo para descarbonizar a minha própria frota agrícola, eu tenho aqui uma economia circular onde hoje eu já aproveito 99% dos resíduos”, afirmou. “As novas soluções têm que vir com o olhar holístico e de economia circular justamente para atender os setores com dificuldade de abater as emissões”, finalizou.
Sobre o papel do agro para descarbonizar o setor sucroenergético, Maier afirmou que a empresa tem focado no aumento da produtividade, na maior capacidade de produção de energia por hectare, a fim de alcançar um maior output energético na mesma área plantada, além do olhar para outras indústrias com grande capacidade de geração de resíduos.
“Temos um olhar absolutamente ecumênico em relação a biomassas futuras e geração de resíduos de outras indústrias. Quem sabe as nossas plantas de biogás não estejam próximas de outras indústrias que tenham a capacidade de geração de resíduos imensa, com a oportunidade de receber esses resíduos”, afirmou.
Para Alessandro Gardemann, da Geoenergética, a visão de economia circular, dado que todo o ambiente regulatório já está pronto, é uma oportunidade de negócio, de redução de custos e geração de renda. “Temos que focar no grande diferencial do Brasil que é saber produzir em larga escala e com eficiência. Só o Brasil tem a tecnologia de agricultura tropical, extensão territorial e capacidade de ampliação num mundo com déficit energético, precisando de parceiros confiáveis, de longo prazo, de integração energética, com pegada de carbono competitiva”, afirmou. Gardemann também destacou que o Brasil tem fontes de metano renovável e fontes de CO2 eficientes prontos para serem utilizados e gerarem moléculas mais complexas.
Sobre mitigação de CO2 e geração de créditos de carbono, o executivo da Raízen afirmou que a empresa realiza todos os anos a análise de ciclo de vida de seus produtos renováveis, a fim de saber a pegada de carbono de cada um desses produtos, e que o etanol é hoje um combustível absolutamente rastreável, sem relação com o desmatamento e com a discussão comida x combustível e com pegada de carbono absolutamente menor.
Alessandro Gardemann finalizou as discussões enfatizando a importância da manutenção de programas como o RenovaBio, no qual a Embrapa teve papel essencial na construção, sendo esta uma visão de futuro essencial para o futuro da indústria brasileira e da descarbonização.
“Grande parte do interesse pelo biogás veio do reconhecimento da pegada de carbono do biometano dentro do RenovaBio e somente colocando todos os combustíveis na mesma régua isso é capaz de acontecer. Grande parte dos bilhões que estão sendo investidos no biogás vêm de política pública de Estado, política de Governo, que aplica a ciência correta e dá poderes para a ponta tomar as decisões”, concluiu.
Para assistir o evento completo, clique aqui.
Fonte: Embrapa