O aprofundamento das relações comerciais entre Brasil e China foi tema de uma reunião com representantes dos dois países na quarta-feira (24), no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O presidente interino da Embrapa, Celso Moretti, apresentou uma proposta de plataforma de cooperação em ciência e tecnologia agropecuária. Outros assuntos do agro também estiveram na pauta, como barreiras alfandegárias e ambientais, investimentos e questões regulatórias.

Os chineses foram representados pela delegação do Centro de Pesquisa em Desenvolvimento do Conselho de Estado da China (Development Research Center of the State Council – DRC), liderada pelo vice-presidente Wang Anshun. O DRC é um órgão consultivo do governo chinês e realiza estudos de acompanhamento sobre questões estratégicas e de longo prazo para o desenvolvimento nacional.

De acordo com Anshun, a China está disposta a aumentar suas importações, adotar medidas para melhorar o ambiente de negócios e estimular a entrada de empresas estrangeiras. Ainda segundo ele, a melhoria nas condições de vida tornou os chineses mais conscientes e exigentes em relação aos alimentos. “Os produtos agropecuários brasileiros estão atendendo a essa demanda”, disse.

O evento foi aberto pelo secretário-executivo do Mapa, Marcos Montes, que reforçou também o interesse do governo brasileiro em ampliar as relações com a China.

Plataforma

A proposta de plataforma de cooperação em C&T voltada ao desenvolvimento da agropecuária, apresentada por Moretti, está baseada em quatro áreas: biotecnologia, agricultura digital, nanotecnologia e mudanças climáticas.

No que se refere à biotecnologia, a plataforma abrange do desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas à edição genômica, para que os países possam enfrentar e solucionar estresses hídricos, doenças, contaminação e qualidade nutricional e, ainda, atender a nichos de mercado e demandas por bioenergia.

Internet das coisas, desenvolvimento de sensores, drones e outros sistemas estão também na proposta, no caso da agricultura digital. Moretti lembrou que a conectividade no campo é um dos problemas brasileiros, reforçando fala do secretário-adjunto de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Mapa, Pedro Corrêa Neto,  que indicou a ampliação da conectividade como uma das prioridades do ministério. “Dados mostram que apenas 57% dos produtores no Brasil estão conectados. Na China a conectividade supera 90%”, afirmou Moretti.

O presidente mencionou ainda o laboratório de nanotecnologia da Embrapa Instrumentação e a parceria com startups para inserir tecnologias no sistema produtivo e gerar inovação. Assim como os conhecimentos que sustentam o Plano ABC, tais como a fixação biológica de nitrogênio (FBN), a intensificação sustentável e o controle biológico, exemplos do trabalho da Embrapa para a redução das emissões dos gases de efeito estufa. Pedro Corrêa Neto também destacou o Plano ABC como mecanismo de enfrentamento das questões ambientais e dos questionamentos externos sobre o agro brasileiro.

Quanto à implementação da plataforma, Moretti propôs mecanismos como chamadas conjuntas com a Chinese Academy of Agricultural Science (Caas) para projetos considerados estratégicos, o estabelecimento de pesquisadores brasileiros na China e chineses no Brasil, no modelo de laboratórios virtuais, e a busca por financiamento para projetos em parceria.

“O Brasil tem dentro da Embrapa o quinto maior banco de germoplasma do mundo, com capacidade para abrigar mais de 700 mil amostras de sementes”, disse o presidente ao sugerir oportunidades adicionais de parceria, como o intercâmbio de germoplasma. Outra possibilidade é a criação de grupos de trabalho, com representantes chineses e brasileiros, para tratar de questões regulatórias em temas como organismos geneticamente modificados e problemas sanitários, sob a orientação do Mapa.

Antes da apresentação da proposta, Moretti falou sobre a trajetória da agricultura brasileira, baseada em ciência, nas últimas cinco décadas. “Nenhum setor inovou tanto nesse período no País como a agropecuária, e de forma sustentável. Utilizamos apenas 7,8% do território para produzir grãos, frutas e hortaliças. Países europeus usam mais de 50% do seu território para essas atividades”. O trabalho de inteligência e prospecção do futuro no âmbito do Agropensa também esteve na pauta.

Ainda sobre oportunidades de negócios, ele disse que o Brasil pode aumentar a produção de grãos e destacou os números da soja. “Se o mercado internacional da soja for mantido acima de 9,5 dólares por bushel nos próximos dez anos, estão criadas as condições para que tenhamos uma expansão da área de produção de aproximadamente 40% no Brasil, sem a necessidade de se cortar uma árvore. Vamos entrar em áreas de pastagens degradadas e incorporar esse espaço degradado na produção de grãos”.

Problemas e soluções

No início da reunião, Wang Anshun tratou das dificuldades enfrentadas pela agropecuária brasileira. Moretti citou a dependência da importação de suprimentos como fertilizantes. “Reduzir a importação de elementos como nitrogênio, fósforo e potássio é altamente desejável para o País. Assim, nossos pesquisadores buscam alternativas nos diversos projetos da Embrapa”, disse, destacando, mais uma vez, tecnologias como a FBN. “Temos 35 milhões de hectares de soja sem uso de adubo nitrogenado”.

Flávio Bettarello, secretário-adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, falou sobre os desafios representados pelas barreiras tarifárias, técnicas e fitossanitárias. Para ele, é consenso o fato de que barreiras técnicas e fitossanitárias são até mais importantes do que as tarifárias, e defendeu que sejam tratadas sempre com base na ciência.

Pedro Corrêa Neto abordou a consolidação da agropecuária sustentável brasileira, baseada no pilar da inovação, incluindo a conectividade do produtor e as possibilidades da agricultura inteligente. Citou o lançamento do Programa Nacional de Solos do Brasil (Pronasolos), ao mencionar a agropecuária conservacionista de solo e água como vertente que ganha força no governo.

Fernando Schwanke, secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Mapa, traçou um panorama das políticas agrárias brasileiras. Sávio Rafael Pereira, representando a Secretaria de Política Agrícola, enfatizou a produção guiada por preços de mercado e a interferência mínima do Estado no setor. Por fim, Renan Brandão, do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), ligado à Presidência da República, discorreu sobre as deficiências em infraestrutura, apontadas como um dos principais problemas para se fazer negócio no Brasil, e as medidas para superá-las.

Fonte: Embrapa


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