A atividade agropecuária é a principal atividade econômica de Mato Grosso do Sul. Por isso, eventos climáticos adversos, como as geadas, impactam diretamente a sua economia e a população.
Em junho de 2021 ocorreram geadas em muitos municípios do estado. Nas estações agrometeorológicas que abastecem o Guia Clima, um sistema de monitoramento climático mantido pela Embrapa e seus parceiros, foram registradas temperaturas mínimas de -2,1ºC em Rio Brilhante, 0,3ºC em Dourados e 0,8ºC em Ivinhema, todas na madrugada do dia 30 de junho.
Em decorrência das geadas, que foram de intensidade forte, já que as temperaturas ficaram abaixo de 1ºC, áreas cultivadas com cana-de-açúcar, pastagens, hortaliças e milho safrinha foram seriamente afetadas. Em alguns casos, com perda total da produção.
Essas geadas foram previstas pela Embrapa, em janeiro, quando se alertou para a alta probabilidade de elas ocorrerem (75%), ao passo que, a possibilidade de não gear era pequena (25%). Alertou-se que estávamos passando por um período de La Niña e que anos assim eram favoráveis à ocorrência de geadas. Em anos similares sempre foram registradas temperaturas menores ou iguais a 6ºC em junho e na maioria deles as temperaturas estiveram menores ou iguais a 4ºC, portanto, em um patamar favorável a ocorrência de geadas.
Você sabe o que é a geada?
Do ponto de vista meteorológico, é quando se observa deposição de gelo sobre superfícies expostas ao relento. Temperaturas a 0ºC (ponto de congelamento da água) já são suficientes para formá-las. É diferente de neve, que é uma forma de precipitação, tal qual a chuva, porém de água congelada.
Do ponto de vista agronômico é um fenômeno de frio intenso, com ou sem deposição de gelo sobre as plantas, mas que resulta no congelamento do conteúdo intracelular dos vegetais, provocando seu extravasamento através da ruptura dos tecidos. Por isso, poucos dias depois da geada pode-se visualizar a morte das plantas ou de algumas de suas partes.
Nas noites de geada, as temperaturas que ocorrem próximas ao solo são normalmente 4ºC inferiores àquelas que ocorrem dentro do abrigo meteorológico. É nele que fica instalado o sensor de temperatura, situado a 2 m de altura em relação à relva (padrão internacional). Por isso, as temperaturas que de fato atuaram sobre a vegetação, por exemplo, nos munícipios de Rio Brilhante e Ivinhema, podem ter sido de -6,1ºC e -3,2ºC, respectivamente. Essas temperaturas negativas, abaixo do ponto de congelamento da água, são muito favoráveis à ocorrência de danos significativos à vegetação.
Como funciona o sistema de previsão de geadas da Embrapa?
O sistema foi calibrado com um banco de dados de 36 anos das estações agrometeorológicas do Guia Clima e da temperatura da superfície do mar fornecidos pela agência americana National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Possui índice de confiança de 95% e é capaz de prever, em dezembro, qual a temperatura mínima que deverá ocorrer no sul de Mato Grosso do Sul em junho do ano seguinte.
Para realizar a previsão são utilizados dados de chuva, fornecidos pelo Guia Clima, e de temperatura da superfície do mar, fornecidos pela NOAA. Assim, a partir da previsão da temperatura mínima provável de ocorrer em junho e, com base nos critérios do método, é possível prever a probabilidade de ocorrer geada e qual a intensidade da mesma.
Faz-se então um monitoramento até o mês de maio, pois se as condições de temperatura da superfície do mar mudarem e, se essa mudança for significativa, a previsão precisa ser reavaliada e, talvez, corrigida. No entanto, o mais comum é confirmá-las.
Histórico de acertos e erros do sistema de previsão
O sistema de previsão de geadas da Embrapa para o mês de junho em Mato Grosso do Sul está sendo aplicado desde o ano de 2016. Porém, somente a partir de 2018 a Embrapa iniciou a divulgação das previsões.
Dos seis anos já avaliados, o sistema acertou cinco, errando somente o ano de 2020, demonstrando 83% de acerto, equivalente a, aproximadamente, 8 acertos e 2 erros a cada 10 anos.
Em 2016, ano de El Niño forte, a previsão indicava tendência de frio extremo em junho, com 83% de probabilidade de a temperatura ficar abaixo de 6 ºC, sendo 50% a probabilidade de ficar abaixo de 4 ºC (condição favorável à geada). Em Dourados, naquele ano, a geada ocorreu, com temperatura mínima de 2 ºC no dia 13.
Em 2017, ano de La Niña fraco, a previsão também era de frio extremo, com 100% de probabilidade de temperatura abaixo de 6 ºC, sendo 75% a probabilidade de ficar abaixo de 4 ºC. O frio aconteceu com temperatura mínima de 4,2 ºC no dia 10.
Já 2018 foi um ano neutro em que se previa uma probabilidade de 65,7% de não gear e 34,3% de gear no mês de junho, sendo a temperatura mínima prevista de 5 ºC. O sistema de previsão acertou e a temperatura mínima registrada no dia 8 atingiu 6 ºC, sem geadas.
Em 2019 tivemos El Niño fraco, sinalizando alta probabilidade de não ocorrerem geadas (99,2%), com temperatura mínima prevista em 10,9 ºC. A previsão se confirmou e a mínima registrada ficou em 10,1 ºC no dia 6 de junho.
O único erro até agora aconteceu no ano de 2020, um ano de temperaturas neutras na superfície do mar. A previsão era de frio extremo, com 96,1% de probabilidade de gear e somente 3,9% de probabilidade de não gear, sendo a temperatura mínima prevista em -0,6ºC. O cenário mais provável não se confirmou, já que as temperaturas foram altas para aquele mês de junho, ficando a mínima em 11,5 ºC. O motivo foi um bloqueio atmosférico que se instalou no Brasil central no final de maio e perdurou até começo de julho, ocasião em que o frio chegou com mínima de 5,2 ºC no dia 3.
Por fim, em 2021 ocorreu novamente um período de La Niña fraco. Neste ano, a tendência era de frio extremo, com 100% de probabilidade de as temperaturas serem menores que 6ºC e 75% de ficarem abaixo dos 4 ºC, portanto, com alta probabilidade de geadas. A previsão se confirmou. Tivemos geadas fortes, com mínima de 0,3 ºC em Dourados no dia 30 de junho.
Fonte: Embrapa
Foto de capa: Divulgação Embrapa Agropecuária Oeste