Uma avaliação de plantabilidade sem adentrar a lavoura pode sugerir que um talhão está bem semeado. No entanto, uma análise detalhada poderá revelar que, apesar da população (número de plantas por área) estar adequada, irregularidades na distribuição na linha, com plantas muito próximas umas das outras e espaços falhos (“buracos”) não ocupados por plantas, podem ser frequentes.

A lógica da plantabilidade passa pelo entendimento de que cada planta, em seu respectivo espaço ocupado, é uma unidade produtiva que irá compor a produtividade final do talhão. Neste sentido, avaliar a variabilidade da distribuição de plantas na linha, buscando compreender e mensurar seus impactos sobre a produtividade, é indispensável por entendimento do potencial produtivo da cultura da soja.

Objetivo

I. Apresentar parâmetros a serem utilizados no campo para avaliação da plantabilidade;
II. Quantificar penalizações no potencial produtivo por problemas de plantabilidade.

Avaliações 

Mensurando a plantabilidade a campo:

Na Figura 1, é demonstrada uma situação de avaliação a campo contemplando a frequência de distribuição da distância entre as plantas no talhão. Esta é uma avaliação que possibilita quantificar a magnitude dos espaços ocupados entre as plantas no talhão e onde estão ocorrendo os problemas de plantabilidade, ou seja, os espaçamento entre plantas não preconizados, como: I) % de plantas agrupadas e II) % de plantas falhas.

Para este tipo de avaliação é sugerido:

  • Utilizar uma trena de 5 metros, avaliando o centímetro de cada planta, desde 0 cm (zero) até 5 m.
  • Repetir a avaliação em ao menos 3 pontos que representem o talhão, avaliando-se 3 linhas de semeadura em cada ponto amostral.

Estudo de caso sobre as relações entre potencial produtivo e plantabilidade na cultura da soja

Um estudo foi conduzido buscando avaliar a relação entre a distribuição de plantas e a produtividade da soja. A produtividade individual de cada planta foi avaliada em amostragens de 5 metros lineares. Avaliou-se também o respectivo espaço ocupado por cada planta na linha, calculando-se a distância (cm) para as suas duas plantas vizinhas (lado direito e esquerdo). Duas cultivares que apresentam características morfológicas distintas foram avaliadas (Brasmax Lança e Zeus), semeadas em 15/12/2020.

Nas Figuras 2 e 3 é apresentada a dinâmica da produtividade de cada planta nos cultivares avaliados, seguindo a lógica da planta como uma unidade produtiva que compõe o talhão. É possível observar uma grande variabilidade na produtividade entre as plantas, ocasionada por problemas na distribuição na linha. Adicionalmente, para lavouras de alta produtividade, a equidistância perfeita no espaçamento entre as plantas é chave, ocorrendo penalizações à medida que ocorre um distanciamento entre plantas acima do ajuste ótimo de população de cada cultivar, que irá variar conforme ambiente e época de semeadura (Figuras 2 e 3).

Quantificando penalizações por plantabilidade

A partir deste estudo, foi possível evidenciar em ambas as cultivares avaliadas que para produtividades de 6.000 kg/ha as unidades produtivas (plantas) apresentam penalizações significativas do seu potencial produtivo à medida que ocorre um distanciamento para sua respectiva planta vizinha, independente de qual seja (direita ou esquerda).

Neste sentido, na Figura 4 é apresentada a equação e o comportamento desta dinâmica (planta vizinha mais distante) para a cultivar Lança.

Realizou-se uma equação para três níveis de potencial produtivo (máximo, médio e mínimo), sendo as penalizações reduzidas à medida que a expectativa de produtividade é diminuída. Para o máximo potencial produtivo, para cada centímetro de distância acima do adequado, a penalização de produtividade foi de 96 kg ha-1.

Na Figura 5, é apresentada esta mesma dinâmica para a cultivar Zeus, para a qual foram maiores as penalizações.

Para o máximo potencial, houve uma redução de 116 kg ha-1 para cada centímetro acima do adequado.

Quantificando penalizações em nível de talhão

No Quadro 1, é demonstrada uma proposta de cálculo para as penalizações de produtividade em virtude da frequência de distribuição de plantas. Para tal, fez-se uso das informações geradas na Figura 1 e da equação gerada nas Figuras 4 e 5.

Para uma população recomendada e caso todas as plantas estivessem espaçadas de forma equidistantes, o potencial produtivo da lavoura em questão, para as cultivares Zeus e Lança seria de 6.373 e 5.834 kg/ha, respectivamente. No entanto, como existiam irregularidades na distribuição, com frequência significativa de espaços não ocupados por plantas (Quadro 1), a média final, ponderada pela frequência de distribuição, foi de 5.140 e 5.029 kg/ha para Zeus e Lança, respectivamente. Esta penalização representou, em nível de talhão, uma redução em potencial produtivo de 24 % para Zeus e de 16 % para Lança, o que reforça necessidade de cuidados com todos processos que envolvem a plantabilidade.

Considerações finais 

  1. Para lavouras de alta produtividade, a equidistância perfeita no espaçamento entre as plantas é chave, não sendo tolerados espaços não ocupados por plantas acima do espaçamento ótimo definido para a cultivar em função do ambiente e época de semeadura.
  2. Uma vez que cada planta é uma unidade produtiva que compõe a produtividade de um talhão, o diagnóstico da plantabilidade é fundamental para entender as penalizações.
  3. A metodologia proposta poderá servir como base para cálculos de penalização de produtividade em virtude de distribuição de plantas na linha de semeadura para as cultivares Brasmax Zeus e Lança ou cultivares com características morfológicas similares

Autores: 

  1. Tiago de Andrade Neves Hörbe | Pesquisador CCGL – tiago.horbe@ccgl.com.br
  2. Fernando Luis Grave, Assistente Técnico de Pesquisa, CCGL

Fonte: CCGL Pesquisa e Tecnologia

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