O mercado brasileiro de trigo manteve o mesmo padrão de comportamento observado nas últimas semanas: negócios travados, preços em queda e forte influência do cenário internacional. De acordo com o analista de Safras & Mercado, Elcio Bento, mesmo em plena entressafra, quando tradicionalmente os preços costumam ganhar firmeza, a movimentação no setor continua limitada, com compradores cautelosos e vendedores resistentes.
“O descompasso entre os preços pedidos pelos vendedores e as ofertas dos compradores mantém o spread ainda bastante aberto”, explica o analista. Segundo ele, os moinhos estão, em geral, abastecidos para os próximos dois meses, o que reduz a urgência por novas aquisições.
Ao longo da semana, o cenário seguiu travado. A retração dos compradores, segundo Bento, está diretamente ligada à competitividade do trigo importado. A Argentina, com excedente da safra anterior e boas perspectivas para a nova colheita, continua sendo um importante fator de pressão para os preços no Brasil. “A chegada do trigo argentino, com preços entre R$ 1.470 e R$ 1.500 por tonelada no CIF, é o principal argumento dos compradores para achatar os preços internos”, aponta.
Outro fator de peso no comportamento do mercado é a paridade de importação. O dólar mais fraco frente ao real tem barateado o trigo estrangeiro, reduzindo a atratividade do produto nacional. “O que se vê agora é uma influência externa preponderante, com preços internacionais mais baixos, avanço da colheita no Hemisfério Norte e um câmbio mais fraco, que barateia a paridade de importação, principal balizador do trigo no Brasil até o ingresso da nova safra nacional”, explica o analista da Safras.
No Rio Grande do Sul, os negócios seguem pontuais. Foram registradas operações ao redor de R$ 1.300 por tonelada, e negócios a R$ 1.330 envolvendo grãos que seriam usados como semente, mas que acabaram sendo direcionados à moagem devido ao desestímulo ao plantio. Ambas as operações envolveram pequenos lotes.
A oferta interna continua limitada. No Paraná, estima-se que ainda restem entre 2% e 5% da safra passada para comercialização. No Rio Grande do Sul, esse número é um pouco maior, entre 10% e 15%. Muitos produtores aguardam uma valorização nas cotações para retomar as negociações. “Aqueles que ainda não venderam aguardam momentos mais favoráveis para negociação, apostando no intervalo relativamente longo até o início da próxima colheita”, observa Bento.
O pano de fundo permanece o mesmo: pouca disposição tanto para comprar quanto para vender. A entressafra, que historicamente sustentava as cotações, tem se caracterizado por quedas sucessivas de preços e uma estagnação dos negócios. “A expectativa é que esse cenário persista no curto prazo, a menos que haja uma mudança abrupta no câmbio, nas condições climáticas ou em variáveis geopolíticas que impactem de forma mais significativa a oferta global”, conclui Bento.
Fonte: Ritiele Rodrigues – Safras News