Controlar a erosão e promover o armazenamento da água no solo para atender a demanda das culturas agrícolas. Essas são apenas algumas das vantagens do terraceamento, uma prática de conservação do solo que a Epagri está retomando no Oeste do estado, onde o número de agricultores adeptos e interessados é crescente. Na região Oeste, mais de 500 hectares de terras cultiváveis já se valem da tecnologia, com destaque para o município de Caxambu do Sul, que utiliza o terraceamento em cerca de 200 hectares.

Em uma propriedade rural de Caxambu do Sul, transformada em Unidade de Referência Técnica (URT), essa prática mostrou todo seu potencial nas chuvas de 11 de maio, quando houve acumulado de mais de 100mm em menos de dez horas. Enquanto lavouras do município sofreram grandes prejuízos com a erosão, na propriedade da família Golin a água ficou retida nos terraços da pastagem e, horas depois, já tinha sido absorvida pelo solo.

O terraceamento não é novidade. “Nas décadas de 1980 e 1990, a Epagri fez um trabalho pioneiro em Santa Catarina e aqui na região. Mas com o advento do plantio direto, a prática do terraceamento foi abandonada.  Acreditava-se que o plantio direto, com a manutenção da palhada das lavouras sobre o solo, seria suficiente para controlar a erosão”, conta Juliano Garcez, extensionista da Epagri em Caxambu do Sul.

Mas não foi exatamente isso que aconteceu nos últimos 20 anos nas lavouras do Sul do Brasil. “A falta de qualidade do plantio direto praticado, resultante da baixa cobertura do solo com palha, a falta de rotação de culturas e o manejo inadequado de máquinas e animais em sistemas integrados de produção provocaram o aparecimento da camada compactada, a diminuição da infiltração e o consequente aumento do escoamento de água sobre a superfície do solo, fazendo ressuscitar a erosão nas lavouras”, relata o agrônomo.

Desde 2014, pesquisadores, extensionistas e agentes de assistência técnica da Região Sul alertam sobre esse cenário. No Paraná e no Rio Grande do Sul, foram implantadas políticas públicas para enfrentar, novamente, a erosão. Em Santa Catarina, a mobilização está iniciando com ações da Epagri, apoiada por cooperativas e pela Embrapa.



Nova configuração

Os terraços já foram considerados símbolos da agricultura ultrapassada. Construídos nas décadas de 1970, 1980 e 1990 como única prática de conservação do solo, eles acabaram sendo desmontados porque dificultavam a operação das máquinas nas lavouras. Agora, eles retornam com uma nova concepção de demarcação, construção e manutenção. “O terraço é uma obra de engenharia agrícola que pode permanecer na lavoura por até 20 anos”, diz Juliano.

A metodologia introduzida pela Epagri se chama Terraço for Windows. Ela foi desenvolvida pelo professor Fernando Pruski, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e foi testada e aprovada pela Embrapa e pela Emater-RS em lavouras de Pontão (RS). Essa metodologia leva em consideração as maiores chuvas do local, a capacidade de infiltração de água e a inclinação dos solos da propriedade agrícola. Dessa forma, os terraços podem ser construídos bem mais espaçados do que no sistema antigo.

Água que faz diferença

Os terraços são construídos em nível, de modo a concentrar toda a água da chuva dentro da lavoura. Essa água se infiltra; parte vai para o lençol freático abastecer os mananciais e outra parte fica armazenada no próprio solo para atender a demanda das culturas. O tamanho do camalhão (crista de terra) é calculado para que cada metro linear de terraço seja capaz de receber até 2 mil litros de água, em média.  “Essa água fica armazenada no solo. Cerca de 30% dela as plantas são capazes de usar em épocas de estiagem”, destaca Juliano.

Em períodos de seca é que se percebe o efeito disso na produtividade. Lavouras de soja com terraceamento na região de Passo Fundo (RS), onde a prática foi validada, produziram 50 sacas por hectare na safra 2013/14, em uma temporada marcada por estiagem. Na mesma região, lavouras sem terraceamento produziram, em média, 30 sacas por hectare.

Outra vantagem é a economia de adubo. Os terraços evitam que a água escoe pela lavoura, carregando adubo e matéria orgânica. Nas propriedades onde o sistema está consolidado, os nutrientes ficam seis vezes mais concentrados no solo.



Manejo conservacionista

Mas construir terraços não significa abandonar o plantio direto – pelo contrário. “É fundamental ter em cada propriedade um plano de manejo conservacionista no qual sejam planejados os terraços e o sistema de produção com rotação de culturas, prevendo manter a cobertura permanente do solo. Esse planejamento de culturas deve garantir em torno de 12kg de palha por metro quadrado por ano e raízes para absorver a água do solo”, ressalta Juliano. Ele acrescenta que a cobertura do solo permite reter 25mm a mais de chuva em relação ao solo descoberto.

O engenheiro-agrônomo Leandro do Prado Wildner, pesquisador da Epagri no Centro de Pesquisas para a Agricultura Familiar (Cepaf), em Chapecó, explica que a cobertura do solo é eficiente para eliminar a erosão causada pela chuva, mas não é tão eficiente para controlar a erosão causada pelo escoamento da água sobre o solo. “Por isso devemos associar sempre o plantio direto com o uso dos terraços ou práticas semelhantes”, complementa.

Referência em SC

A URT de Terraceamento da propriedade de família Golin, em Caxambu do Sul, resulta de uma parceria entre a Epagri, a Embrapa Trigo, a Secretaria de Agricultura do município e a Cooperativa Alfa. Ela foi implantada em março durante o I Seminário Microrregional de Desenvolvimento Rural Sustentável, que tratou sobre Terraceamento por Volume de Enxurrada. Cerca de 100 pessoas participaram do evento.

Nessa área, a família pratica a integração lavoura-pecuária: pastagem de aveia no inverno e lavoura de grãos no verão. Por conta dessa iniciativa, a experiência de Caxambu do Sul virou referência para agricultores da região, que estão demandando informações e assistência técnica sobre terraceamento para aplicar em suas propriedades.

A URT vem sendo acompanhada pela Epagri com análises químicas e físicas do solo, além de outras avaliações. As informações coletadas servirão de referência para recomendar o terraceamento para outros agricultores. “Essa experiência representa o que queremos fazer em uma URT, ou seja, a integração de extensionistas rurais, pesquisadores, agentes da assistência técnica e agricultores em torno de um tema comum e na busca de soluções”, destaca Leandro Wildner.

Fonte: Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural

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