A semeadura da soja é um fator decisivo para o sucesso na produtividade da cultura, especialmente em regiões subtropicais como o Sul do Brasil. O desempenho da soja pode variar significativamente dependendo da época de semeadura e das características específicas de cada cultivar. Conhecer essas variáveis é fundamental para maximizar o potencial produtivo, levando em conta as melhores práticas de manejo e as condições específicas de cada ambiente.
Experimentos de soja em condições de irrigado e não irrigado indicam que o potencial máximo de produtividade é alcançado quando a semeadura ocorre até o dia 4 de novembro. A partir desse período, observa-se uma redução de aproximadamente 26 kg por hectare ao dia (Zanon et al., 2016) (Figura 1).
Figura 1. Relação entre produtividade de grãos e época de semeadura (expresso em dias após 20 de setembro) para lavouras de soja irrigada (círculo azul) e sequeiro (círculo amarelo) durante quatro safras (2011/12 até 2014/15) no Sul do Brasil.
Dessa forma, para entender melhor como a produtividade da soja varia, foi feita uma análise que calculou a produtividade em três períodos distintos de semeadura no Rio Grande do Sul: antes de 31 de outubro, de 1º a 30 de novembro e após 1º de dezembro. Os resultados revelaram que a chance de alcançar uma produtividade igual ou superior a 3 toneladas ha-1 é de 80% para semeaduras realizadas até o dia 30 de outubro. Já para semeaduras realizadas após 1º de dezembro, essa probabilidade cai para 42% (Figura 2).
Figura 2. Análise de probabilidade para produtividade de 3 toneladas ha-1 (linha vertical vermelha) em função da data de semeadura no Sul do Brasil.
Além de que, o impacto do atraso na semeadura varia conforme o grupo de maturação relativa (GMR) das cultivares de soja. Para cultivares com GMR de até 5.5, o potencial produtivo máximo (cerca de 6 toneladas ha-1) é obtido quando a semeadura é feita entre 20 de setembro e 3 de novembro, e depois dessa data, a redução é de 30 kg por hectare ao dia. Já cultivares com GMR entre 5.6 e 6.4 têm uma janela de semeadura mais ampla, até 15 de novembro, com uma diminuição de 25 kg por hectare ao dia após esse período. Para cultivares com GMR acima de 6.5, a produtividade se mantém até 20 de novembro, com uma redução de 25 kg por hectare ao dia após essa data (Figura 3).
Figura 3. Produtividade (toneladas ha-1) de soja no Sul do Brasil em relação a época de semeadura (dias após 20 de setembro) para diferentes faixas de GMR. GMR até 5.5 (A), GMR de 5.6 a 6.4 (B) e GMR acima de 6.5 (C). Círculos azuis representam experimentos irrigados e círculos amarelos experimentos sem irrigação. A linha preta sólida representa a função limite.
Diante disso, compreender a resposta das cultivares de diferentes GMR’s ao longo das diversas épocas de semeadura, especialmente no contexto do Sul do Brasil, permite ajustar as escolhas de acordo com as condições específicas de cada situação. Esse ajuste de manejo, ao considerar as interações entre Genótipo x Ambiente x Manejo x Produtor, é uma estratégia que contribui para a redução da lacuna de produtividade, sem aumentar os custos de produção.
Além disso, softwares como o Best Cultivar e o Plantio Certo desempenham um papel fundamental na escolha da época de semeadura da soja. Essas ferramentas utilizam dados climáticos, características das cultivares e condições específicas de cada região para orientar os produtores sobre o melhor momento para realizar a semeadura. Ao fornecer recomendações baseadas em análises detalhadas, esses softwares ajudam a maximizar o potencial produtivo das lavouras e a reduzir riscos, resultando em uma gestão mais eficiente e em melhores resultados agrícolas.
Referências bibliográficas
Tagliapietra, Eduardo L. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas 2. ed. Santa Maria, 2022.