Em muitas propriedades agrícolas, a integração entre lavouras e pecuária fortalece a sustentabilidade da atividade agrícola e otimiza o uso da terra. Esse modelo contribui para uma maior eficiência no aproveitamento de recursos, além de melhorar a qualidade do solo e da água. No entanto, para que os benefícios desse sistema sejam plenamente alcançados, a implementação da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) deve levar em consideração alguns fatores, sempre com foco na sustentabilidade e na qualidade da produção agropecuária.

Um desses fatores é a diversificação das espécies forrageiras por meio da rotação de culturas e/ou associação entre espécies forrageiras com aptidão para o pastejo e que tragam benefícios ao sistema de produção. Além da nutrição animal, ao definir as espécies que irão compor a forragem para o sistema ILP, é fundamental atentar para espécies que proporcionem benefícios para as culturas produtoras de grãos que virão na sucessão da pastagem.

Uma das espécies com aptidão para essa função é a ervilhaca (Vicia sativa). Conforme observado por Giacomini et al. (2003), entre as plantas de cobertura, a ervilhaca se destaca pelo alto potencial de acumulação de Nitrogênio na parte aérea. Esse Nitrogênio, por sua vez, será liberado para a cultura sucessora após a decomposição dos resíduos vegetais e a mineralização do N.



Ao avaliar a produtividade do milho cultivado após diferentes plantas de cobertura, Zanata et al. (2015) constataram que o maior rendimento foi obtido quando o milho sucedeu a ervilhaca, evidenciando a contribuição dessa espécie para o aumento da produtividade. Segundo os resultados dos autores, o milho cultivado após a ervilhaca produziu 7.217 kg.ha⁻¹, enquanto aquele cultivado após azevém e cevada apresentou produtividade média de aproximadamente 4.140 kg.ha⁻¹. Dessa forma, a sucessão com ervilhaca proporcionou um ganho superior a 3 t.ha⁻¹ na produção de milho.

Figura 1. Produtividade de grãos de milho cultivado sob diferentes plantas de cobertura de solo, Curitibanos-SC, 2015.
Fonte: Zanata et al. (2015)

Além dos benefícios indiretos à produtividade das culturas sucessoras, vale destacar que a ervilhaca é conhecida por apresentar raízes profundas e ramificadas, o que contribui para a melhoria da estrutura física do solo, o que, atrelado a sua excelente capacidade de fixação de nitrogênio, bem como um potencial de supressão de plantas daninhas, contribui para o aumento da sustentabilidade do ILP.

Recentemente, uma nova cultivar de ervilhaca foi desenvolvida pela Embrapa, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e promete agrega produtividade e sustentabilidade à pecuária de corte no País. A  URS BRS Presilha é uma cultivar forrageira com grande potencial para compor sistemas de integração Lavoura-Pecuária, tanto em pastejo, quanto na cobertura do solo. Isso porque a espécie é uma leguminosa anual de clima temperado, em contraponto à maioria dos trevos, cornichão e alfafa, que são perenes (Embrapa, 2025).

Figura 2. Ervilhaca URS BRS Presilha.
Fonte: Embrapa (2025)

A cultivar apresenta habilidade competitiva que permite a sua utilização em consórcios com outras forrageiras de inverno, como aveia e azevém, além disso possui maior tolerância a déficits hídricos e a menor propensão a causar problemas de timpanismo (acúmulo de gases) nos animais, quando comparada a outras leguminosas forrageiras, o que contribui para o bom posicionamento da ervilhaca URS BRS Presilha no sistema de Integração Lavoura-Pecuária (Embrapa, 2025).

A nova cultivar de ervilhaca será lançada durante a Expodireto Cotrijal 2025, que acontece de 10 a 14 de março, em Não-Me-Toque, RS.


Veja mais: Integração Lavoura-Pecuária: Manejo do sistema deve levar em consideração o pisoteio animal


Referências:

CARVALHO, M. L. et al. GUIA PRÁTICO DE PLANTAS DE COBERTURA: ASPECTOS FITOTÉCNICOS E IMPACTOS SOBRE A SAÚDE DO SOLO. ESALQ, Piracicaba – SP, 2022. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/biblioteca/pdf/Livro_Plantas_de_Cobertura_completo.pdf >, acesso em: 01/03/2024.

GIACOMINI. S. J. MATÉRIA SECA, RELAÇÃO C/N E ACÚMULO DE NITROGÊNIO, FÓSFORO E POTÁSSIO EM MISTURAS DE PLANTAS DE COBERTURA DE SOLO. R. Bras. Ci. Solo, 27:325-334, 2003. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbcs/a/3FdpLJMjpH9HR7J5gzwWCmt/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 08/07/2021.

ZANATA, L. F. et al. RENDIMENTO DE MILHO CULTIVADO SOB DIFERENTES PLANTAS DE COBERTURA NO PLANALTO CATARINENSE. XXXV. Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, 2015. Disponível em: < https://www.eventossolos.org.br/cbcs2015/arearestrita/arquivos/1374.pdf >, acesso em: 08/07/2021.

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