A cigarrinha-do-milho é uma das principais e mais preocupantes pragas do milho. Embora a praga possa causar dano direto pela sucção contínua de seiva das plantas, os maiores prejuízos estão relacionados à capacidade deste inseto ser vetor de patógenos, como os molicutes, que causam os enfezamentos vermelho e pálido na cultura (Ávila et al., 2022).

Em termos práticos, dependendo da suscetibilidade da cultivar, estádio em que ocorre a infecção e ausência de manejo, os danos em decorrência dos enfezamentos em milho podem resultar em perdas de produtividade superiores a 70%, resultando entre outros sintomas, na redução do tamanho de espigas (Sabato; Barros; Oliveira, 2016).

Até meados de 2023, a cigarrinha-do-milho, espécie Dalbulus maidis era considerada o único vetor de transmissão dos enfezamentos em milho. Contudo, um estudo desenvolvido por Ferreira et al. (2023) relatou a ocorrência de outra espécie de cigarrinha no milho, que não a Dalbulus maidis, que também possui a capacidade de transmitir fitoplasmas causadores dos enfezamentos. Trata-se da espécie Leptodelphax maculigera (Stål, 1859).

De acordo com Ferreira et al. (2023), os insetos foram observados no Estado de Goiás, nas culturas do milho, capim-elefante, braquiária e em plantas voluntárias de milho em meio a cultura do feijão. Ainda em 2023, o setor de entomologia da CCGL – RTC (2023), confirmou o primeiro registro da presença de Cigarrinha-africana (Leptodelphax maculigera) nas lavouras de milho do Rio Grande do Sul, demonstrando uma maior e rápida distribuição da praga.

Figura 1. Comparação entre cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) e Cigarrinha-africana (Leptodelphax maculigera).
Fonte: Rede Técnica de Cooperativas -RTC (2023).
Figura  2. Comparação de Dalbulus maidis adulto com Leptodelphax maculigera.
Fonte: Ferreira et al. (2023)

Considerando que as cigarrinhas são o principal vetor da transmissão dos enfezamentos para o milho, o controle desses insetos constitui uma das principais estratégias de manejo utilizada em escala comercial. No entanto, como a capacidade dos insetos em transmitir os enfezamentos está condicionada a quantidade de indivíduos infectados e não a densidade populacional da praga, até então não há nível de ação pré-estabelecido para o controle da cigarrinha-do-milho.

Considerando o impacto devastados causado pelos enfezamentos em milho, a presença da praga durante a fase crítica da cultura é considerado momento oportuno para o controle da cigarrinha. Quando necessário utilizar inseticidas para o controle da cigarrinha-do-milho (durante o período crítico de VE a V5), é fundamental dar preferência por inseticidas com maior nível de controle, respeitando o intervalo entre aplicações de 5 a 7 dias.

Em função da elevada prolificidade da praga e do curto ciclo de desenvolvimento das cigarrinhas-do-milho, a necessidade de reaplicação de inseticidas em curtos intervalos aumenta a pressão de seleção de indivíduos resistentes, contribuindo para o desenvolvimento de casos de resistência da praga a inseticidas. Nesse contexto, adotar medidas integradas de manejo é essencial para reduzir a infestação de cigarrinhas na cultura do milho, diminuindo a necessidade da utilização de inseticidas químicos.

Tendo em vista que o milho é considerado o único hospedeiro da cigarrinha Dalbulus maidis no Brasil (Cota et al., 2021) e que a cigarrinha Leptodelphax maculigera pode sobreviver nas culturas do milho, capim-elefante e braquiária, a rotação de culturas com espécies não hospedeiras desses insetos, bem como a eliminação de plantas voluntárias de milho (milho tiguera) durante os períodos entressafra são alternativas que contribuem para um manejo integrado da praga.

Não menos importantes, visando reduzir o impacto dos enfezamentos no milho, demais medidas integradas como o posicionamento de híbridos mais tolerantes, com ciclos semelhantes, bem como a padronização das datas de semeadura são determinantes para o sucesso no controle dos enfezamentos. Conforme recomendações de manejo, não se recomenda a semeadura de lavouras de milho em áreas vizinhas a lavouras já estabelecidas, com sintomas dos enfezamentos e presença das cigarrinhas.

Figura 3. Híbrido de milho mais resistentes aos enfezamentos (Esquerda) e híbrido mais suscetível (Direita).
Fonte: Cota et al. (2021)

O monitoramento periódico e intensivo das áreas de cultivo também exerce influência determinante no sucesso do manejo dos enfezamentos do milho. Mesmo em períodos anteriores a semeadura da cultura, avaliar a presença das cigarrinhas-do-milho é crucial para embasar práticas de manejo, sendo portanto, uma importante estratégia no manejo integrada da praga.

Além das medidas já discutidas, práticas como a redução das perdas na colheita, o uso de sementes certificadas e a rotação de ingredientes ativos, incluindo a incorporação de inseticidas com modos de ação distintos, como os inseticidas fisiológicos a exemplo do Fiera®, fortalecem o manejo integrado dos enfezamentos do milho. Em conjunto, essas estratégias ampliam a eficiência do programa fitossanitário e contribuem para minimizar os impactos dos enfezamentos sobre a produtividade do milho.

Figura 4. Boas práticas para o manejo dos enfezamentos e da cigarrinha-do-milho.
Fonte: Alves et al. (2020)
Referências:

ALVES, A. P. et al. GUIA DE BOAS PRÁTICAS PARA O MANEJO DOS ENFEZAMENTOS E DA CIGARRINHA-DO-MILHO. Embrapa Cerrados, 2020. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1129511/guia-de-boas-praticas-para-o-manejo-dos-enfezamentos-e-da-cigarrinha-do-milho >, acesso em: 04/12/2025.

CORA, L. V. et al. MANEJO DA CIGARRINHA E ENFEZAMENTOS NA CULTURA DO MILHO. Embrapa Milho e Sorgo, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1130346/manejo-da-cigarrinha-e-enfezamentos-na-cultura-do-milho >, acesso em: 04/12/2025.

FERREIRA, K. R. et al. FIRST RECORD OF THE AFRICAN SPECIES Leptodelphax maculigera (Stål, 1859) (Hemiptera: Delphacidae) IN BRAZIL. Research Square, 2023. Disponível em: < https://www.researchsquare.com/article/rs-2818951/v1 >, acesso em: 04/12/2025.

RTC. PRIMEIRA OCORRÊNCIA DE CIGARRINHA-AFRICANA (Leptodelphax maculiger) NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Alerta RTC, CCGL, 2023. Disponível em: < https://www.instagram.com/p/CvfT9Hrt5VT/?utm_source=ig_web_copy_link&igshid=MzRlODBiNWFlZA== >, acesso em: 04/12/2025.

SABATO, E. O.; BARROS, A. C. S.; OLIVEIRA, I. R. CENÁRIO E MANEJO DE DOENÇAS DISSEMINADAS PELA CIGARRINHA NO MILHO. Embrapa Milho e Sorgo, Cartilha, 2016. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1059085/1/Cenariomanejo1.pdf >, acesso em: 04/12/2025.

 

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