Estudos liderados por pesquisadores de instituições como Esalq/USP e as universidades federais de Pelotas e Santa Maria, ambas do RS, reforçam a importância da adoção de bioinseticidas à base de baculovírus no manejo de lagartas. Esses produtos, biológicos, ganham tração frente aos crescentes níveis da resistência de lagartas às ‘transgenias’ ou biotecnologias de última geração, bem como a inseticidas químicos com ingredientes ativos que, até há alguns anos, se sobressaíam, pela alta eficácia, nos sistemas de manejo.
Levantamentos recentes, da consultoria Kynetec Brasil, também reforçam avaliações relacionadas ao aumento da resistência de lagartas a diferentes tecnologias. A consultoria detectou crescimento do número de aplicações de inseticidas químicos na última safra de soja (2023-24) e na safrinha de milho 2024.
No milho safrinha, a Kynetec apurou que a forte pressão de lagartas ampliou em 38%, para 22,5 milhões de hectares, a área tratada com inseticidas. Na soja, com a severidade dos ataques das pragas, a área potencial tratada (PAT) avançou 46% nas últimas três safras, para mais de 99 milhões de hectares.
Pesquisas e conclusões
“Constatamos que Spodoptera frugiperda e Helicoverpa armigera são suscetíveis aos baculovírus e que não há resistência cruzada a inseticidas químicos”, resume Celso Omoto, da Esalq/USP, de Piracicaba (SP), especialista em resistência de pragas. “Antevejo que os baculovírus desempenharão papel fundamental como um meio para preservar as características das tecnologias Bt”, ele acrescenta.
“Diferentes de outros inseticidas e de proteínas Bt, os baculovírus têm um novo modo de ação e por isso foram classificados pelo IRAC Internacional no Grupo 31. A alta seletividade dos baculovírus a inimigos naturais favorece seu encaixe no manejo integrado de pragas (MIP), no qual múltiplas táticas de manejo resultam em controle mais robusto de Spodoptera frugiperda”, continua Omoto.
Vinculado à Universidade de Santa Maria (RS), outro pesquisador de renome, Oderlei Bernardi, reitera que pesquisas realizadas ao longo dos últimos anos têm documentado elevado nível de resistência de lagartas a alguns inseticidas químicos em soja. “Os baculovírus, por ter um novo modo de ação, são boa opção para o manejo de espécies que se tornaram resistentes a inseticidas químicos”, reforça.
Conforme Oderlei Bernardi, seus trabalhos com a Spodoptera frugiperda confirmaram, ainda, que existem interações positivas de melhor controle desta praga quando se aplicam baculovírus em soja ‘Intacta’. “Precisamos explorar este importante efeito aditivo no controle de espécies com baixa suscetibilidade às proteínas Bt expressas em soja transgênica”, ele ressalta.
Trabalhos similares foram realizados na Universidade de Pelotas, pelo entomologista Daniel Bernardi, que faz pesquisas há vários anos com extensionistas e produtores. Seus estudos, em milho, confirmam as conclusões da Universidade de Santa Maria relacionadas à soja. “Devido à resistência a inseticidas químicos e biotecnologias, está cada vez mais difícil controlar a Spodoptera frugiperda no milho”, enfatiza Bernardi. “Baculovírus estão entre as melhores alternativas biológicas para manejo da resistência desta importante praga agrícola”, ele complementa.
Para Paula Marçon, vice-presidente de Pesquisa & Desenvolvimento da companhia de origem australo-americana AgBiTech, baculovírus se mostram ferramentas sustentáveis do ponto de vista ambiental, além de essenciais em programas de manejo de lagartas nas grandes lavouras.
“Os baculovírus constituem excelentes supressores de populações, adoecendo as lagartas e promovendo epizootias que prologam o controle a campo”, ela diz. Assim, explica a executiva, ajudam a melhorar a performance das biotecnologias e dos inseticidas químicos, “que continuam necessários no manejo, mas comprovadamente vêm perdendo eficácia devido à resistência das pragas. Este fator põe em risco a rentabilidade do produtor e a sustentabilidade do agronegócio”, conclui.
Baculovírus em 5 milhões de hectares
Dados da consultoria Kynetec também trouxeram à luz uma mudança de comportamento no campo em relação ao manejo de lagartas com inseticidas biológicos: os baculovírus superaram a predominância dos ‘biológicos Bt’, à base de bactérias. Na última safra agrícola, os biolagarticidas à base de baculovírus trataram 59% das áreas de soja, contra 49% dos ‘Bacillus thuringiensis’.
O diretor de marketing da AgBiTech Brasil, Pedro Marcellino, informa que a explosão de lagartas nas lavouras do país na safra de soja 2023-24, e na safrinha deste ano, consolidou a liderança da companhia como fornecedora de biolagarticidas à base de baculovírus para as duas culturas. Na oleaginosa, a AgBiTech chegou a 49% de participação, ante 43% da temporada passada. Já no milho safrinha, o salto foi de 15% frente a 2023, para 71% de share.
A AgBiTech, acrescenta ele, já cobriu mais de cinco milhões de hectares de lavouras brasileiras com seus baculovírus e atende no país acima de 400 fazendas.
Fonte: Assessoria de Imprensa AgBiTech