Entre as principais pragas sugadoras da cultura da soja e de grande abundância em todo o Brasil, encontra-se o percevejo marrom (CORRÊA-FERREIRA & ROGGIA, 2013). Esta praga responde a números superiores a 80% da população de percevejos na soja (Agro Bayer Brasil).

As condições favoráveis ao seu desenvolvimento são:

  • Dificuldade de controle da praga;
  • Capacidade de dispersão em curtas distâncias;
  • Elevado potencial reprodutivo;
  • Sobrevivência na entressafra.

A praga consegue sobreviver na vegetação de inverno. Quando se inicia o período de semeadura da soja, os sugadores já estão presentes nas áreas de refúgio e abrigos próximos a lavoura (GRIGOLLI, 2016). O tempo que permanecem em plantas hospedeiras é cerca de 70% da vida da praga (MEDEIROS & MERGES, 2009). Assim, o monitoramento da praga, desde o período vegetativo da cultura, torna-se imprescindível para o melhor manejo.

DANOS

A praga incide na soja na fase vegetativa. Entretanto, os danos da alimentação começam na fase reprodutiva, próximo ao florescimento. Neste momento, a população da praga já se encontra distribuída na lavoura. As lesões estão relacionadas com a sucção da seiva, reduzindo a qualidade e a quantidade do grão final. Acarretam em grãos chochos e mal formados.

Figura 1. Ataque nos grãos.

Apenas 1 percevejo por metro quadrado pode acarretar em uma redução de 49-120 kg de grãos/ha (TRIUNFO, 2020).

Além disso, podem ocasionar problemas de “soja louca”. É um distúrbio que acarreta em hastes verdes, retenção foliar e abortamento das vagens antes de finalizar o ciclo da soja. As perdas podem atingir até 60% da produtividade (EMBRAPA, 2015).

Figura 2. Sintomas de “soja louca”.

Foto: EMBRAPA (2010).

DINÂMICA DA PRAGA

Após a semeadura da soja, inicia-se a migração para a leguminosa em torno de V4-V5. Entretanto, os danos econômicos são causados somente na fase reprodutiva.

Quando a colheita é finalizada, a praga migra para áreas de refúgio aos arredores da lavoura de soja. Neste momento, iniciam a oligopausa (redução das atividades metabólicas) (GRIGOLLI, 2016), também chamado de quiescência (maio-setembro geralmente). Neste momento, não se reproduzem e não se alimentam.

Figura 3. Dinâmica de E. heros na safra e entressafra.

Adaptado: GRIGOLLI (2016).

Em pesquisas realizadas por CÔRREA-FERREIRA, et al. (2010), simularam uma condição de verão o ano todo para a praga. Observa-se na Figura 4, que a taxa de sobrevivência reduz durante o período de quiescência, mesmo em condições de alta temperatura.

As atividades da praga retornam justamente no início da semeadura da soja. Mesmo com alta mortalidade durante o inverno, a praga retorna à leguminosa na fase vegetativa, com capacidade de reprodução e alimentação.

Figura 4. Sobrevivência (%) da praga em condições de alta temperatura e condições normais durante o ano.

Fonte: CÔRREA-FERREIRA, et al. (2010).

Permanecem em plantas hospedeiras no entorno da lavoura, como plantas daninhas e palhada, ocasionando a reinfestação destas pragas (CÔRREA-FERREIRA, et al. 2010).

De acordo com estudos de SOUZA, et al. (2019), as maiores populações da praga foram encontradas em gramíneas como Saccharum angustifolium Nees., comumente chamado de macega-estaladeira.

Ainda, de acordo com MEDEIROS & MEGIER (2009), a planta Vassobia breviflora, conhecida como esporão-de-galo, é uma alternativa viável para E. heros, servindo de fonte de alimentação e reprodução. Como mostra a Figura 5, esta planta desempenha papel semelhante para auxiliar na sobrevivência da praga da mesma forma que a soja.

Figura 5. Curvas de sobrevivência de adultos de Euschistus heros alimentados com frutos de Vassobia breviflora e Glycine max (soja).

Fonte: Medeiros & Merges, (2009).

Figura 6. Plantas hospedeiras de E. heros na entressafra: Saccharum angustifolium Nees. (esquerda) e Vassobia breviflora (direita).

NÍVEL DE CONTROLE

O NDE para percevejos é 2 percevejos.metro-1 linear em lavouras destinadas para produção de grãos.

Os insetos contabilizados para a tomada de decisão são adultos e ninfas > 3mm.

Figura 7. Nível de controle para pragas na soja.

Adaptado: GRIGOLLI, (2016).

MANEJO NO CEDO

O primeiro controle, em caso de atingir o nível de dano econômico, recomenda-se no início da fase reprodutiva. Este fato se justifica, pois, a oviposição dos ovos reduzirá, bem como interrompe o ciclo da segunda geração de adultos (GRIGOLLI, 2016). O controle no cedo diminuirá os prejuízos, pois as perdas causadas pela praga irão refletir na qualidade e na quantidade final de grãos.

CONTROLE NO CEDO

Em uma pesquisa realizada pela Fundação MS (safra 2015/16), avaliaram o manejo de percevejos E. heros em 3 situações distintas: sem controle, controle entre R3-R6 e controle no cedo.

  • SEM CONTROLE

O manejo sem controle resultou em prejuízo elevados.

  • CONTROLE EM R3

No manejo em R3, a população já estava acima do nível de dano econômico. Neste cenário, observa-se diversas gerações da praga no mesmo momento, como ovos, ninfas e adultos.

Esta constatação altera a eficiência de controle, pois alguns inseticidas possuem melhor eficiência em ninfas ou em adultos, diferindo o controle entre as gerações.

O controle em R3 necessitou de 3 aplicações.

  • CONTROLE EM R1

O controle em R1 (já havia atingido nível de controle de 2 percevejos.m-1), obteve-se quebra do ciclo da praga, pois se reduziu a população que reincidiu 28 dias após a primeira aplicação em R1.

O controle em R1 necessitou de 2 aplicações.



CONTROLE QUÍMICO

Para controle desses sugadores, existem 56 produtos para controle do percevejo-marrom da soja (AGROFIT, 2020). O principal problema é que há disponibilidade de apenas 5 grupos químicos distintos (organosforados, neonicotinoides, piretroides, sulfoxaminas e metilcarbamato de benzofuranila), acarretando em aplicações frequentes dos mesmos mecanismos de ação.

FUNDAÇÃO MS (2016), testou a eficiência de controle no momento que atingiu 2 percevejos.metro-1 e de 6-8 percevejos.m-1. A primeira constatação, foi que quanto maior a população da praga, maior a dificuldade de controle.

Na Tabela 1, observamos os inseticidas utilizados.

Tabela 1. Inseticidas utilizados no controle de E. heros com diferentes populações da praga.

Adaptado: GRIGOLLI, (2016).

Em condições de alta infestação, nenhum dos produtos atingiu 80% de controle. Como notamos na Figura 8, os 5 melhores controles da avaliação realizada 4 dias após o tratamento, são:

  • Lambda-cialotrina + Tiametoxam
  • Bifentrina + Imidacloprido
  • Acefato
  • Feniltrotiona + Esfenvarelato
  • Acefato + Imidacloprido.

Figura 8. Eficiência de controle de Euschistus heros por diferentes inseticidas em duas populações da praga (até 2,0 percevejos.m-1 e de 6,0 a 8,0 percevejos.m-1 de linha de soja).

Adaptado: GRIGOLLI, (2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O monitoramento é a ferramenta chave para entrarmos com controle quando a população atingir o nível de dano econômico. Quanto maior a população, maiores serão as dificuldades para o manejo eficiente.

Notamos nos trabalhos citados, que o manejo no cedo é a melhor forma de manter a população abaixo do nível de dano econômico. A primeira pulverização em R1 reduz os custos de inseticidas para controle da praga, pois apenas 2 aplicações são suficientes.

A sobrevivência na entressafra é possibilitada através da oligopausa, que reduz as atividades das pragas no inverno. No entanto, mesmo ocorrendo alta mortalidade de E. heros, a praga retorna as atividades justamente na época de semeadura da soja.

O manejo de plantas daninhas é de fundamental importância para quebrar o ciclo do percevejo que permanece com população viva durante a entressafra. As plantas que podem servir de abrigo são: macega-estaladeira e esporão-de-galo.

Com isso notamos que o manejo para pragas na cultura da soja não se restringe a apenas o momento que a cultura está na lavoura. O manejo na entressafra refletirá diretamente nas populações de pragas, especialmente do percevejo marrom da soja.



Veja também: Quantos dias vive um percevejo? 

REFERÊNCIAS

AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 2020. Acesso em: 01.06.2020

CORRÊA-FERREIRA, B. S.; MACHADO, E. M.; HOFFMANN-CAMPO, C. B. Sobrevivência e desempenho reprodutivo do percevejo marrom Euschistus heros (F.) na entressafra da soja. In: Embrapa Soja-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 31., 2010, Brasília, DF. Resumos… Londrina: Embrapa Soja, 2010. p. 81-83. Editores técnicos: Adilson de Oliveira Junior, Odilon Ferreira Saraiva, Regina Maria Villas Bôas de Campo Leite, César de Castro, Jussara Flores de Oliveira Arbues, Wellington Cavalcanti., 2010.

CORRÊA-FERREIRA, B. S.; ROGGIA, S. Atividade alimentar do percevejo marrom Euschistus heros (Hemiptera: Pentatomidae) na safra e entressafra da soja. In: Embrapa Soja-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 33., 2013, Londrina. Resumos expandidos… Brasília, DF: Embrapa, 2013., 2013.

EMBRAPA. Soja Louca II é reconhecida como nova doença da soja pelo Mapa. 2015. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/5213621/soja-louca-ii-e-reconhecida-como-nova-doenca-da-soja-pelo-mapa>. Acesso em: 07.05.2020

GRIGOLLI, J. Pragas da soja e seu controle. Tecnologia e Produção: Soja 2015/2016.

MEDEIROS, Lenice; MEGIER, Gabriela A. Ocorrência e desempenho de Euschistus heros (F.)(Heteroptera: Pentatomidae) em plantas hospedeiras alternativas no Rio Grande do Sul. Neotropical Entomology, v. 38, n. 4, p. 459-463, 2009.

SOUZA, Lara Moreira et al. SOBREVIVÊNCIA DE PERCEVEJOS EM PLANTAS HOSPEDEIRAS DURANTE ENTRESSAFRA–ANO VI. REVISTA INTERDISCIPLINAR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO-RevInt, v. 7, n. 1, 2019.

TRIUNFO. Percevejo pode provocar perda de até 30% na cultura da soja. Disponível em: < https://www.sementestriunfo.com.br/single-post/2020/01/27/percevejo-na-cultura-da-soja>. Acesso em: 01.06.2020

Redação: Equipe Mais Soja.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.