As exportações de algodão em pluma da safra 2019 (que começou em julho do ano passado e vai até junho de 2020) devem superar dois milhões de toneladas. Esse número, se confirmado, irá garantir ao Brasil mais de 20% do comércio global da fibra. Com isso, o País ficará atrás dos Estados Unidos, que atualmente representam cerca de 38% de todo comércio internacional.

A estimativa é do presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Henrique Snitcovski. “Na temporada atual, o Brasil tem registrado marcas importantes na exportação do algodão. No acumulado entre julho de 2019 a fevereiro de 2020 (que compreende as exportações parciais da safra), o país já exportou 1.555 milhões de toneladas de algodão em pluma”, disse.

Segundo a Anea, apenas em janeiro de 2020, o Brasil exportou 308 mil toneladas, superando o recorde anterior registrado em outubro de 2019, com 288 mil toneladas embarcadas. “O resultado é importante para reforçar a capacidade de exportação do Brasil aos principais mercados consumidores”, afirmou Snitcovski.

A Anea acredita que o Brasil está se encaminhando para ser o líder global nos embarques do produto e, de acordo com a associação, isso deverá acontecer em um prazo de cinco anos.

“É importante frisar que a produtividade nas fazendas do produtor brasileiro é praticamente o dobro da produtividade do americano, que é nosso principal concorrente neste mercado”, destacou Miguel Faus, diretor da Anea. A produção brasileira de algodão é a quarta maior do mundo.

Fatores favoráveis

Para Snitcovski, a combinação de clima favorável, janela de plantio e variedades adequadas e investimentos contínuos na lavoura gera resultado em importantes ganhos de produtividade e qualidade da fibra, contribuindo para o crescimento da cultura do algodão no país.

Além disso, ressalta o presidente da Anea, “a rentabilidade é um fator importante em uma cultura de capital intensivo, mas o preço não é suficiente. A cotonicultura demanda investimentos altos e capacitação profissional. O Brasil produz em grande escala, com tecnologia e responsabilidade socioambiental, sendo o maior exportador de algodão certificado do mundo”.

A estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) para a safra 2019/20 é que o Brasil alcance 2,74 milhões de toneladas de pluma com 1,636 milhão de hectares plantados. Dados da entidade mostram que o volume a ser colhido na safra 2019/20 deve ser 5% inferior ao atingido na safra 2018/19 em função do recuo da área plantada comparada à temporada anterior, de -2%, e redução nos patamares de produtividade média, passando de 1.767 kg/hectare para 1.709 kg/hectare.

“A temporada 2019/20 iniciou com previsões no mercado internacional de alta produção mundial, aliada ao consumo estabilizado, o que acarretou na derrubada dos preços tanto no mercado interno, quanto no externo”, observou o presidente da Abrapa, Milton Garbugio.

“Como os cotonicultores brasileiros são também produtores de soja e/ou milho, a decisão pela área a ser plantada é tomada em função da perspectiva dos preços da commodity e, também, pelas condições climáticas previstas (como El Niño e La Niña, por exemplo). A área plantada e, consequentemente, a previsão de produção para a safra 2019/20 recuou frente à safra 2018/19”.



Desafios

Para o presidente da Anea, o mercado de algodão tem inúmeros desafios a cada safra, “mas o foco principal está relacionado aos impactos para o crescimento mundial, com movimentação de mercadorias e consumo de bens, enquanto os casos registrados de coronavírus (Covid-19) aumentam em diferentes países”.

Além disso, acrescentou o presidente, “as soluções de logística são essenciais para que o Brasil aumente sua capacidade de exportação, uma vez que os principais competidores estão mais próximos do consumo final”.

Já o presidente da Abrapa afirmou que o crédito rural “é um desafio vivido pela agricultura nacional, mas especialmente pelo algodão, em função dos altos custos que envolvem a produção da fibra, quando comparada aos custos de soja e milho, por exemplo”.

Segundo Garbugio, “a vinda de capital externo pela LCA para financiamento da produção é uma de nossas principais pautas perante o poder público, pois ajudaria os produtores na aquisição de insumos e tecnologia”.

O executivo também mencionou a falta de infraestrutura nos portos brasileiros, “que ocasionam atrasos nas embarcações, falta de contêiners e deficiências no processo de transportes” e criticou a burocracia nos trâmites envolvendo a exportação de produtos agrícolas, além das altas tarifas federais e estaduais impostas aos produtores.

Mercados consumidores

Atualmente a China, que voltou a ser o maior importador mundial de algodão, é também o principal destino das exportações brasileiras. “Ainda assim, o Brasil tem aumentado sua participação em outros importantes destinos, como Vietnã, Bangladesh, Paquistão e Indonésia, além de consolidar sua presença em mercados considerados como destinos tradicionais”, disse Snitcovski.

Além da qualidade da fibra, um dos principais fatores que contribuem para o incremento da presença do algodão brasileiro nos mercados consumidores, segundo o presidente da Anea, é a regularidade no fornecimento. “Essa regularidade traz mais credibilidade e segurança para que as indústrias têxteis nos principais mercados consumidores possam contar com o algodão brasileiro na composição de sua produção”.

Snitcovski ressaltou ainda que “o valor agregado num fardo de algodão já é elevadíssimo graças à alta tecnologia empregada em todo o processo produtivo, desde a escolha da semente, cultivo, produção, beneficiamento e logística de distribuição”.

Ações em parceria

A Anea e a Abrapa pretendem intensificar cada vez mais sua agenda de promoção e ações de marketing para o algodão brasileiro em diversos mercados consumidores. “Fortalecer a demanda por meio da aproximação da toda cadeia produtiva é crucial para entender as tendências de um mercado em constante transformação”, afirmou Snitcovski.

Por sua vez, a Abrapa e a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) iniciaram uma parceria esse ano para a promoção comercial do algodão brasileiro na Ásia.

“O principal objetivo desse projeto setorial é que o Brasil seja o maior exportador de algodão em pluma do mundo até 2030, reconhecido mundialmente pela qualidade, sustentabilidade e padrão tecnológico, a partir de ações estratégicas e comerciais nos principais mercados compradores de algodão do mundo”, explicou Garbugio.

A Abrapa anunciou ainda a abertura de um escritório em Singapura. Segundo o presidente da associação, “o local foi estrategicamente escolhido para que as ações do algodão brasileiro na Ásia sejam mais assertivas e próximas dos principais clientes”.

Fontes:Anea/Abrapa/Bolsa Brasileira de Mercadorias, disponível em Equipe SNA

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