A Farsul apresentou nesta quarta-feira (29/7) um estudo que traz uma simulação da produção agrícola do estado caso ela não utilizasse defensivos agrícolas em sua totalidade e a comparação com a agricultura convencional. O levantamento usou por base os números da safra 2019 e estudos científicos sobre o assunto. O objetivo é demonstrar o impacto econômico e social que uma adoção generalizada do modelo causaria.
Na abertura da apresentação, o presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, explicou que “a Federação busca desmitificar a acusação de um pessoal de plantão que gosta de apontar o agronegócio de envenenador do meio ambiente. E tentam fazer uma comparação entre os chamados orgânicos e os feitos de maneira tradicional”.
Gedeão também destacou a posição da Farsul em não distinguir os produtores conforme o modelo adotado. “A Federação da Agricultura, representa a todos produtores rurais. Quem achar que tem nicho de mercado para produzir orgânicos, que siga na sua seara. Quem prefere o sistema convencional, que siga assim produzindo. O Que queremos demonstrar em números, através da ciência, é justamente as diferenças de eficiência produtiva entre os sistemas, para trazer a importância de tudo aquilo que a gente faz e como faz”, comenta.
O presidente também aproveitou para reforçar o papel do setor no atual momento. “Estamos num momento muito importante porque agronegócio brasileiro está cumprindo com sua grande missão. Basta chegarmos em qualquer supermercado para vermos a quantidade a qualidade dos produtos ofertados. Aquilo que tínhamos uma grande preocupação, que era haver algum tipo de desabastecimento em função da pandemia, não ocorreu. E não ocorreu porque o agronegócio não parou de funcionar e não só tem abastecido o mercado interno, como continua abastecendo fortemente os mercados internacionais”, afirma.
O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, destaca as razões da realização do levantamento. “Não podemos aceitar que os produtores convencionais ou os que adotam uma agricultura sem defensivos sejam estigmatizados, que algum processo produtivo seja avaliado de maneira preconceituosa. E quando esse estigma pode vir do Estado, vestido de política pública, tributária ou coisas do tipo, isso exige uma resposta clara do nosso lado. Montamos o estudo para mostrar a razão dos produtores adotam uma agricultura convencional e os benefícios que trazem ao Estado”, descreve.
O levantamento aponta que a adoção de uma produção exclusivamente sem defensivos significaria uma redução de R$ 51,36 bi no PIB do Rio Grande do Sul. Isso é equivalente a uma queda de 10,69%, superior a três vezes o impacto das piores secas. Atualmente, o estado possui 1.240 empresas distribuidoras de insumos e 128 cooperativas que tem boa parte da receita. Utilizando uma única forma, grande parte dessas empresas seriam fechadas junto com seus postos de emprego.
O resultado significa uma retração de 32% somente no PIB do agronegócio gaúcho. O próprio Governo Estadual registraria uma considerável perda de arrecadação. Em 2019, no caso, o Rio Grande do Sul teria menos R$ 4,98 bi nos cofres públicos. No mesmo ano, o déficit do governo era de R$ 3,2 bi.
Os defensivos são responsáveis por um grande investimento dos produtores, especialmente por serem importados e influenciados pela variação cambial. Uma produção sem utilizá-los reduziria os custos em R$ 9,43 bi. O problema está na queda de produtividade. A produção de 33,6 milhões de toneladas de grãos, cairia para 23,2 milhões.
E o impacto econômico geraria também reflexos na área social. Como possuem uma produtividade menor, os produtos que não recebem aplicações de agroquímicos tem custo maior para o consumidor na relação de demanda de mercado. Ao considerar que toda a produção gaúcha adote esse modelo, a disponibilidade de alimentos seria menor, reajustando os preços.
Um exemplo está no arroz. O Rio Grande do Sul é o maior produtor do cereal no Brasil, atendendo boa parte da demanda nacional, além de exportar. Em 2019, o rendimento médio de uma lavoura convencional era de 7.417 kg/ha em lavouras convencionais. Já naquelas em que não havia a aplicação de defensivos a produtividade caiu para 4.286 kg/ha. Uma diferença de 42%.
A menor oferta do produto deixaria 62,6 milhões de brasileiros desabastecidos. Isso afetaria a população mais carente do país que tem no arroz um dos principais ingredientes da sua dieta diária. A escassez o tornaria um produto nobre e aumentaria os preços ao consumidor. Para garantir o volume, seria preciso aumentar em 50% a área plantada.
O coordenador da Comissão do Meio Ambiente da Farsul, Domingos Lopes, lembra que além de abastecer o consumo interno, o Brasil exporta para centenas de países que possuem os mais diferentes regramentos para a entrada de alimentos e cumpre todas as exigências, o que garante a segurança alimentar. A grande maioria desses produtos são resultantes do modelo agrícola convencional.
Sobre o debate entre os modelos produtivos, Lopes reforça o posicionamento da Federação. “Defendemos sempre que o que rege nosso modelo de produtividade em primeiro lugar é a legalidade. Em segundo está o tripé que consideramos base da nossa atividade. Sustentabilidade, pois temos sim que sustentar o meio ambiente; temos que ter um desenvolvimento social.