No sistema plantio direto, é fundamental que na entressafra das cultura principais se mantenha o solo cobertura para diminuir perdas de água por evaporação, de solo e nutrientes por erosão, diminuir a emergência de plantas daninhas, manutenção da biodiversidade do solo, entre outros.
No entanto, o planejamento da rotação de culturas pode ser uma tarefa trabalhosa, que requer a adoção de estratégias de adaptação conforme a disponibilidade de sementes e insumos, além de preservar a sustentabilidade técnica e econômica do sistema de produção. Pensando nisso, a utilização de plantas de cobertura com a finalidade de cobrir o solo e servir como fonte de adubação verde é uma técnica que vem a auxiliar na rotação de culturas e manejo do sistema de produção.
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Uma das alternativas disponíveis é o feijão-de-porco (Canavalia ensiformes), que segundo LOPES (2000) é uma leguminosa, muito utilizada como fonte de adubação verde e cobertura do solo, podendo ser cultivada em consorcio sendo semeado nas entre linhas da cultura ou em rotação de culturas. Dentre as principais características da planta, destacam-se o rápido crescimento e a alta capacidade de ciclar nutrientes, fato que favorece a adoção da cultura como adubo verde.
Figura 1. Feijão-de-porco (Canavalia ensiformes).
Uma das desvantagens da cultura é a baixa produção de matéria seca, contudo a cultura apresenta elevada produção de matéria fresca. Devido à baixa relação C/N por se tratar de uma leguminosa, quando pensada como forma de cobertura do solo é interessante trabalhar com o feijão de porco associado a uma outra cultura, de preferência uma gramínea. Embora conforme por CARVALHO et al. (2013) o feijão-de-porco solitário apresente uma boa cobertura do solo, quando consorciado com gramíneas como aveia-preta, ou milheto, a cobertura do solo tende a aumentar e a palhada residual tende a permanecer por mais tempo na superfície do solo.
Tabela 1. Taxa de cobertura do solo (%) proporcionada pela parte aérea de plantas de cobertura aos 15, 30, 45, 60 e 75 dias após a emergência (DAE).
A elevada taxa de cobertura do solo decorrente do cultivo do feijão-de-porco solitário ou em consórcios, além de auxiliar diminuindo a perda de solo e nutrientes por erosão, também favorece o controle de plantas daninhas, conforme observado por CORREA et al. (2014), onde avaliando a “interferência do feijão-de-porco na dinâmica de plantas espontâneas no cultivo do milho orgânico em sistemas de plantio direto e convencional”, os autores encontraram resultados que demonstram a eficiência do feijão-de-porco na diminuição da emergência de plantas daninhas, principalmente de espécies como Artemisia verlotorum, Bidens pilosa e Digitaria sp. Além disso, segundo MAIA et al. (2013) o feijão-de-porco tolera sombreamento, possibilita ainda mais seu uso em consórcio com culturas como o milho.
Outro fato interessante é a resposta da planta ao aumento da densidade de semeadura, onde MAIA et al. (2013) avaliando as repostas da produção de massa fresca da parte aérea da planta encontraram resultados de demonstra um incremento de 106% na massa fresca da cultura quando aumentada a densidade de semeadura de 10 para 40 planta.m-2 (figura 2).
Figura 2. Resposta da produção de massa fresca da parte aérea (MFPA) de feijão-de-porco cultivado em Alagoinha, em decorrência do aumento da densidade de semeadura.
Conforme observado por LOPES (2000), a produção de massa fresca do feijão-de-porco varia de 12 a 30t.ha-1 e aliada a informação do aumento de massa fresca decorrente do aumento da densidade de plantas observado por MAIA et al. (2013) fazem do feijão-de-porco uma interessante alternativa para a rotação de culturas e manutenção do sistema de produção. Além disso, conforme observado por BARROS; GOMIDE; CARVALHO (2013) o feijão-de-porco apresenta considerável acúmulo de nutrientes conforme destacado na tabela 2.
Tabela 2. Acúmulo de macro e micronutrientes na parte aérea do feijão-de-porco.
A ótima taxa de cobertura do solo, a ciclagem de nutrientes e o rápido crescimento fazem do feijão-de-porco uma alternativa interessante para inserção no sistema de produção na forma de rotação de culturas ou consórcio. A alta taxa de cobertura do solo auxilia no controle de plantas daninhas e a ciclagem de nutrientes beneficia a cultura sucessora além de resultar em economia com fertilizantes.
Referências:
BARROS, D. L; GOMIDE, P. H. O; CARVALHO, G. J. PLANTAS DE COBERTURA E SEUS EFEITOS NA CULTURA EM SUCESSÃO. Biosci. J., Uberlândia, v. 29, n. 2, p. 308-318, 2013.
CARVALHO, W. P. et al. DESEMPENHO AGRONÔMICO DE PLANTAS DE COBERTURA USADAS NA PROTEÇÃO DO SOLO NO PERÍODO DE POUSIO. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.48, n.2, p.157-166, fev. 2013.
CORREA, A. L. P. et al. INTERFERÊNCIA DO FEIJÃO-DE-PORCO NA DINÂMICA DE PLANTAS ESPONTÂNEAS NO CULTIVO DO MILHO ORGÊNICO EM SISTEMAS DE PLANTIO DIRETO E CONVENSIONAL. Ver. Bras. De Agroecologia, p. 160-172, 2014.
LOPES, O. M. N. FEIJÃO-DE-PORCO LEGUMINOSA PARA CONTROLE DE MATO E ADUBAÇÃO VERDE DO SOLO. Recomendações Técnicas, n. 12, Embrapa, 2000.
MAIA, F. E. N. et al. BIOMASSA DE FEIJÃO DE PORCO SOB DIFERENTES DENSIDADES DE SEMEADURA EM MOSSORÓ, RN. ACSA – Agropecuária Científica no Semi-Árido, v.9, n.1, p.43-49, 2013.
Foto de capa: Pirai Sementes.
Sobre o autor: Maurício Siqueira dos Santos, Engenheiro Agrônomo formado pela UFSM. Atualmente Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola da UFSM e Integrante da Equipe Mais Soja.
Plantei em um solo arenoso e demorou seis meses para dar a vagens. Tens alguma sugestão de correção para plantá-lo?