O fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) é um fenômeno de grande escala que afeta o clima em diversas regiões do mundo, sendo ele o responsável pela variabilidade atmosférica interanual na América do Sul (Araújo et al., 2013).

Ele traz consigo mudanças no padrão de elementos meteorológicos (temperatura, distribuição e frequência de chuvas, e disponibilidade de radiação solar) em alguns locais do mundo (Grimm, 2003 e 2004; Kayano et al., 2011 e 2013). Sua caracterização é dada pelo aquecimento (El Niño) ou resfriamento (La Niña) das águas superficiais do oceano Pacífico.

Em anos de El Niño há maior ocorrência de chuvas na região Centro-Sul do Brasil, com médias acima do normal. São nesses anos que, normalmente, ocorrem maiores produtividades de soja, considerando que a falta de água é o principal fator limitante de produtividade (Alberto et al., 2006; Arsego et al., 2018; Nóia Júnior et al., 2020).

Ao contrário da região Centro-Sul do Brasil, para a região Centro-Norte, a fase positiva impacta principalmente na diminuição das chuvas. Por outro lado, a fase negativa (La Niña) desfavorece a organização e frequência das chuvas, ocasionando secas e estiagens, impactando a produtividade da soja. No entanto, aumenta a disponibilidade de umidade na região, beneficiando as chuvas em áreas que normalmente possuem baixos acumulados pluviométricos anuais.

Estudos de Nóia Júnior et al., (2020) mostra que em anos com configuração forte do fenômeno La Niña, as produtividades são menores em semeaduras de setembro e outubro, com perdas de mais de 1000 kg/ha em locais de maiores latitudes (> 28° S). Já em anos de El Niño, quanto maior a latitude e mais cedo for a semeadura de soja, maior vai ser a tendência de ganho de produtividade.

Figura 1. Anomalias na produção de soja durante os anos de La Niña, Neutro e El Niño em relação à produtividade média geral para cada data e local de semeadura, representada por sua latitude, no Sul do Brasil. 

Fonte: Nóia Júnior et al. (2020).

A influência do fenômeno ENOS afeta sistemas meteorológicos, como a Zona de Convergência Atlântico Sul (ZCAS), na primavera e verão.

Esse sistema atua na organização e manutenção da umidade do ar entre as regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste brasileiro, favorecendo a maior frequência de chuvas nessas regiões, o que possibilita realizar duas safras ao ano. Em anos de ZCAS mais ao norte, ocorre chovas mais regulares nas áreas do MATOPIBA, Mato Grosso e Goiás, beneficiando as safras de soja e algodão.

Quando está mais ao Sul, o benefício vai para áreas do Mato Grosso do Sul, Centro Sul do Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Centro Norte do Paraná. A região Sul é a mais afetada pelo fenômeno ENOS, ocasionando períodos mais longos, tanto de escassez, quanto de chuvas. Na região Centro-Norte do Brasil, o fenômeno influencia início e fim da estação das chuvas, causando encurtamento no período de segunda safra.

Ao analisar o histórico das safras entre 1980 a 2022 do Rio Grande do Sul, observamos a ocorrência de El Niño em 14 anos, La Niña em 16 anos e anos Neutros em 13 anos. No decorrer desses anos, ocorrência de El Niño no Sul do Brasil está associada à produtividades acima da média histórica em 85% do anos, enquanto que apenas 50% dos anos de La Niña e 54% dos anos Neutros as produtividades são acima da média histórica. A safra 2004/2005 é uma exceção dos anos de El Niño pela ocorrência do aquecimento desorganizado do Pacífico, caracterizado por El Niño Modoki.

Figura 2. Associação entre a produtividade média de soja no Rio Grande do Sul, Brasil, e a ocorrência do fenômeno ENOS entre 1979/1980 a 2021/2022. A linha representa a taxa de aumento da produtividade. 

Fonte: Tagliapietra et al., 2022 – Ecofisiologia da soja visando altas produtividades.

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Referências Bibliográficas

ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES / EDUARDO LAGO TAGLIAPIETRA… [ET AL.]. 2. ED. SANTA MARIA: [S. N.], 2022.


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