Analistas do mercado financeiro disseram ao Banco Central (BC) que a combinação entre a tensão fiscal e eleitoral no País e o aperto monetário global em 2022 pode fazer com que o dólar ultrapasse a barreira de R$ 6,0 em alguns momentos do ano que vem. As informações foram relatadas ao Broadcast por fontes presentes na 85ª reunião do BC com economistas do Grupo 1, que ocorreu por videoconferência entre 10h30 e 12h de hoje.
De acordo com uma fonte, os analistas disseram ao BC que um real mais valorizado poderia auxiliar a inflação de2022, mas que o cenário é improvável. “Alguns avaliam que o câmbio pode ultrapassar os R$ 6,0 em alguns momentos de 2022, em função da combinação de eventos como a tensão com as eleições e a situação internacional pior, com a discussão sobre a normalização de juros nos Estados Unidos”, disse o economista, ouvido sob a condição de anonimato.
Ainda sobre a inflação, segundo outro participante da reunião, a preocupação quase que geral recaiu sobre a inércia no ano que vem. No entanto, houve uma alta dos participantes que se mostrou um pouco mais otimista por estar esperando uma melhora do gargalo da cadeia produtiva no 1º semestre, o que levaria a uma queda nos preços dos bens industriais no segundo semestre, período em que o mercado começará a receber a safra agrícola das águas.
Entre os economistas que falaram, as projeções de inflação de 2022 se situam mais próximas do teto (5,0%) do que do centro (3,50%) da meta, de acordo com um dos participantes. Diante da incerteza fiscal, os economistas apresentaram projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do ano que vem entre 0,5% e 1,0%, com a maioria já admitindo a possibilidade de contrações em ao menos um trimestre. Para a taxa Selic, os economistas apresentaram projeções de juros no fim do ciclo entre 11,0% e 11,50%. Segundo um dos participantes, os economistas sinalizaram ao BC que poderá ser necessário iniciar o ciclo de corte de juros ainda no ano que vem para impedir que a inflação fique abaixo do centro da meta de 2023, quando o alvo a ser perseguido pela autoridade monetária é de 3,25%.De acordo com um dos participantes ouvidos, os economistas presentes apresentaram a percepção de que a deterioração do arcabouço fiscal nas últimas semanas deve ter elevado a taxa de juros neutra da economia. No entanto, nenhum dos analistas ofereceu estimativas numéricas, diante da incerteza ainda elevada no cenário.
“Eu diria que ninguém ousou dar uma opinião mais fundamentada porque a questão do juro neutro também envolve a definição do quadro eleitoral, que depende muito da forma como será conduzida a política fiscal a partir de 2023”, disse uma fonte. “Mesmo entre quem acredita que há uma maior probabilidade de polarização entre Bolsonaro e Lula, tem alguma incerteza sobre como será o gerenciamento da política fiscal.”
No que se refere ao fiscal, segundo um participante da reunião, ocorreu uma divisão interessante sobre o que seria menos pior: a aprovação da PEC dos Precatórios ou a adoção de um plano “B” ou um novo decreto de estado de calamidade para o ano que vem.
“Teve gente que defendeu que a segunda opção seria a menos pior para não deixar resto a pagar para 2023”, disse a fonte.
As reuniões trimestrais com BC com analistas do mercado financeiro são usadas pela autoridade monetária para coletar percepções e informações sobre atividade doméstica, internacional e inflação para ajudar na confecção do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). O próximo documento será divulgado em 16 de dezembro.
Pelo BC, participaram da reunião os diretores de Política Econômica, Fábio Kanczuk, de Política Monetária, Bruno Serra, de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos, Fernanda Guardado, e de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, João Manoel Pinho de Mello.



Fonte: T&F Agroeconômica

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