A qualidade da solo é determinante para a sustentabilidade e rentabilidade dos sistemas de produção. O solo é considerado o principal substrato de produção em lavouras comerciais, servindo como base de sustentação, água e nutrientes para o desenvolvimento vegetal. Compreendido como um sistema trifásico, coloidal e aberto, o solo está sujeito a interferência e alteração por diversos fatores bióticos e abióticos, que podem atuar de forma conjunto ou isolada, alterando características químicas, físicas e biológicas do solo.
Dentre as características químicas do solo que afetam o crescimento e desenvolvimento vegetal, destaca-se a acidez do solo. Solos ácidos normalmente estão associados a presença de alumínio tóxico (Al3+). Esse alumínio disponível atua de forma negativa, reduzindo e/ou até inibindo o crescimento das raízes das plantas. Para reduzir a toxicidade de Al3+ no solo, uma das alternativas mais difundidas é a calagem. Entretanto, por apresentar baixa mobilidade do solo, a ação do calcário é limitada as camadas superiores do solo, fato que dificulta o controle da acidez em sistemas de produção consolidados como sistema plantio direto.
Como alternativa para mitigar os efeitos da acidez do solo sobre a crescimento e desenvolvimento vegetal, ferramentas como o gesso agrícola tem sido empregadas em sistemas de produção que não se preconizam o revolvimento do solo. O gesso agrícola, é utilizado principalmente como condicionador de solo, para a melhoria do perfil do solo, bem como fonte de nutrientes para as culturas agrícolas. De acordo com Sousa; Lobato; Rein, (2005), o gesso agrícola melhora o ambiente radicular em profundidade no solo, promovendo a melhor distribuição de raízes, nas camadas mais profundas, possibilitando maior absorção de água e nutrientes pelas plantas, e maior tolerância a períodos de déficit hídrico.
Figura 1. Exemplo de uma comparação teórica da atividade de Al3+ entre dois solos que possuem as mesmas concentrações de Al3+ em solução, com e sem aplicação de gesso.

Ao aplicar o gesso agrícola no solo, os íons Ca2+ e SO42- são liberados ao meio, e o CaSO40, devido a sua alta mobilidade, desce para as camadas mais profundas no perfil do solo, formando pares iônicos (CaSO40, MgSO40 e KSO4– ), aumentando nelas a concentração de cálcio, magnésio e potássio. O cálcio (Ca2+) substitui os íons alumínio dos sítios de troca do solo, enquanto os íons sulfato (SO42-) reagem com este alumínio livre na solução, formando complexos de alumínio-sulfato, que não são tóxicos (Vitti et al., 2015).
No entanto, sabe-se que o gesso agrícola não é capaz de elevar o pH do solo, logo, seu uso não é recomendado com essa finalidade. Contudo, estudos demonstram que o uso adequado do gesso agrícola favorece a distribuição de raízes no perfil do solo, melhorando características da planta como comprimento de raízes, o que pode ser importante sob condições de estresse hídrico por déficit hídrico (Santos et al., 2017). Resultados similares comprovando a melhor distribuição de raízes no perfil do solo em função da utilização do gesso agrícola também foram obtidos por Sousa; Lobato; Rein (2005).
Além dos efeitos na distribuição de raízes, conforme observado por Zandoná et al. (2015) o gesso agrícola aumenta os teores de Ca2+, redistribui o Mg2+ para as camadas de 10-20 cm e 20-40 cm e diminui os teores de Al3+ na camada de 20-40 cm, favorecendo assim o melhor crescimento e desenvolvimento das raízes. Vale destacar que o gesso agrícola normalmente é oriundo de um subproduto da fabricação de ácido fosfórico, e apresenta em média, 15% de Enxofre (S) e 18% de Cálcio (Ca) em sua composição, atuando como fonte desses nutrientes (Embrapa, 2010)
Nesse contexto, mesmo não sendo capaz de corrigir o pH do solo, o gesso agrícola é capaz de melhorar as condições químicas do solo, favorecendo o crescimento e desenvolvimento radicular, e consequentemente melhorando a distribuição de raízes no solo e a tolerância das plantas a períodos de estresse (figura 2), sendo portanto, uma importante ferramenta para o aumento da sustentabilidade e rentabilidade dos cultivos agrícolas.
Figura 2. Utilização relativa da lâmina de água disponível no perfil de um Latossolo Argiloso pela cultura do milho, depois de um veranico de 25 dias, por ocasião do lançamento de espigas, para tratamentos sem aplicação e com aplicação de gesso agrícola.

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Referências:
EMBRAPA. PRODUTORES DEVEM FICAM ATENTOS AO USO DO GESSO AGRÍCOLA. EMBRAPA, NEWS, 2010. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/18119102/produtores-devem-ficar-atentos-ao-uso-do-gesso-agricola >, acesso em: 14/10/2025.
SANTOS, E.L. et al. CRESCIMENTO DE RAÍZES E PRODUTIVIDADE DE SOJA INFLUENCIADOS PELA ESCARIFICAÇÃO E GESSAGEM. Resumos expandidos da XXXVI Reunião de Pesquisa de Soja, 2017. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1081050/1/p24.pdf >, acesso em: 14/10/2025. ,
SOUSA, D. M. G.; LOBATO, E.; REIN, T. A. USO DO GESSO AGRÍCOLA NOS SOLOS DO CERRADO. Embrapa, Circular Técnica, n. 32, 2005. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/568533/1/cirtec32.pdf >, acesso em: 14/10/2025.
VITTI, G. C. et al. ESTUDOS CONFIRMAM EFEITOS FAVORÁVEIS DO GESSO AGRÍCOLA À CULTURA DO MILHO. Visão Agrícola, n. 13, 2015. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/Esalq-VA13-Milho.pdf >, acesso em: 14/10/2025.
ZANDONÁ, R. R. et al. GESSO E CALCÁRIO AUMENTAM A PRODUTIVIDADE E AMENIZAM O EFEITO DO DÉFICIT HÍDRICO EM MILHO E SOJA. Pesq. Agropec. Trop., Goiânia, v. 45, n. 2, p. 128-137, abr./jun. 2015. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pat/a/4vGjxbpFzvRSZwVGKSGxqTN/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 14/10/2025.
ZOCA, S. M.; PENN, C. CHAPTER ONE – AN IMPORTANT TOOL WITH NO INSTRUCTION MANUAL: A REVIEW OF GYPSUM USE IN AGRICULTURE. Advances in Agronomy, 2017. Disponível em: < An Important Tool With No Instruction Manual: A Review of Gypsum Use in Agriculture – ScienceDirect >, acesso em: 14/10/2025.