O trigo é uma cultura muito utilizada na rotação de culturas com a soja, especialmente como cultura de inverno nas regiões sul do Brasil. Entretanto, condições adequadas de umidade e temperatura fazem com que um número considerável de doenças incidam sobre a cultura, sendo uma das mais importantes a Giberela.
Segundo Lima (2004), a giberela é uma doença fúngica causada principalmente pelo fungo Gibberella zeae, cuja forma assexuada é conhecida como Fusarium graminearum, sendo que pelo menos 17 espécies do mesmo gênero estão associadas a doenças em cereais a nível mundial. Conforme destacado por Del Ponte et al. (2004), a doença é monocíclica, o fungo sobrevive em resíduos culturais de culturas hospedeiras e não hospedeiras.
Temperatura entre 20 e 30 ºC do período que vai da extrusão das anteras, consideradas o sítio primário de infecção, até estágios de grão em massa e elevada umidade favorecem o surgimento da doença. Após a infecção, o fungo propaga-se através do ráquis, sendo os sintomas percebidos após alguns dias através da senescência prematura de espiguetas infetadas, podendo se expandir por toda a espiga (Del Ponte et al., 2004). Em condições de prolongada umidade, a formação de uma massa rosada de esporos pode ser observada.
Figura 1. Sintomas típicos de giberela em espiga de trigo.
O período mais suscetível do trigo a infecção do patógeno é o período reprodutivo, mais especificamente quando ocorre a extrusão das anteras (figura 2). A infecção nesse período pode acarretar em danos significativos na produtividade e qualidade dos grãos de trigo, resultando em perdas econômicas na cultura.
Figura 1. Espiga de trigo, momento de extrusão das anteras.
Segundo Lima (2004), dentre os prejuízos econômicos ocasionadas pelo patógeno destacam-se a má formação de grãos (grãos leves), sendo que esses podem ser eliminados no processo de colheita pelo sistema de limpeza e trilha da colhedora; o abortamento de flores ou formação de grãos chochos, enrugados, de coloração rósea/esbranquiçada; além da produção de micotoxinas que podem exercer efeito toxico aos seres humanos e animais, baixando a qualidade do grãos e prejudicando o processo de comercialização e processamento dos grãos.
Figura 3. Grãos de trigo giberelados.
Em vídeo, a pesquisadora da CCGL Caroline Wesp Guterres destaca que o manejo da doença deve ser realizado de forma preventiva, visto que atualmente não existem cultivares resistentes geneticamente à giberela. Caroline enfatiza que é fundamental posicionar o manejo da doença de forma preventiva (antes da ocorrência dos sintomas) e no período de maior susceptibilidade da cultura, ou seja, no período reprodutivo, durante a extrusão das anteras (20-50% do florescimento do trigo).
Avaliando a eficiência de fungicidas para controle de giberela do trigo, Santana et al. (2020), em ensaios cooperativos para a safra 2018, conduzidos em Cruz Alta, RS; Guarapuava, PR; Palmeira, PR; Passo Fundo, RS e Pelotas, RS, observaram que apesar de toda variabilidade encontrada nos distintos ensaios realizados, o uso de fungicidas apresenta bons resultados na redução da doença.
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As cultivares avaliadas foram: TBIO Toruk (Cruz alta, Guarapuava e Passo Fundo), TBIO Sinuelo (Palmeira e Pelotas) e BRS Parrudo (Passo Fundo). Já a relação dos fungicidas avaliados nos ensaios pode ser observada na tabela 1.
Tabela 1. Tratamentos (Trat.), ingrediente ativo (i.a.), produto comercial (p.c.), empresa e doses de fungicidas aplicados para o controle de giberela de trigo. Ensaios Cooperativos – safra 2018 (Santana et al., 2020).
Com base nos resultados encontrados por Santana et al. (2020), é possível observar que para o ensaio realizado em Cruz Alta, RS, e para a cultivar avaliada, a menor incidência da doença, assim como a menor severidade e maior produtividade de grãos de trigo foi observada quando utilizado Metconazol, entretanto, Trifloxistrobina + protioconazol + bixafem; assim como Trifloxistrobina + protioconazol + bixafem + carbendazim; Piraclostrobina + metconazol + carbendazim e Mancozebe apresentaram resultados satisfatórios no controle da giberela.
Tabela 2. Incidência, severidade e índice de doença de giberela, peso do hectolitro (PH) e rendimento de grãos de trigo obtidos em Cruz Alta, RS, ensaio E1, com aplicação de fungicidas. Ensaios Cooperativos – safra 2018 (Santana et al., 2020).
Cabe destacar que em virtude das diferenças ambientais entre as regiões, assim como a resposta das cultivares, houve diferenças entre a eficiência dos fungicidas no controle da giberela. Para conferir o material completo, com os resultados dos demais ensaios clique aqui!
Outro fator importante no controle da giberela é a tecnologia de aplicação, buscando a utilização de mecanismos que possibilitem a maior eficiência na aplicação dos produtos, atingindo o alvo de forma eficaz.
Confira o vídeo abaixo do as dicas de manejo da giberela da pesquisadora da CCGL Caroline.
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Referências:
DEL PONTE, E. M. et al. GIBERELA DO TRIGO – ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E MODELOS DE PREVISÃO. Fitopatol. bras. 29(6), nov – dez 2004.
DENELLI, A. L. D.; ZOLDAN, S.; REIS, E. M. GIBERELA – CICLO DA DOENÇA. OR Sementes.
LIMA, M. I. P. M. GIBERELA OU BRUSONE? Embrapa, Documentos, n. 40, 2004.
REIS, E. M. et al. AVANÇOS NA TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE FUNGICIDAS VISANDO AO CONTROLE DE GIBERELA EM TRIGO.
Revista Plantio Direto, jan-fev. 2013.
SANTANA, F. M. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA CONTROLE DE GIBERELA DO TRIGO: RESULTADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS – SAFRA 2018. Embrapa, Circular Técnica, n. 52, 2020. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1124186/eficiencia-de-fungicidas-para-controle-de-giberela-do-trigo-resultados-dos-ensaios-cooperativos—safra-2018>, acesso em: 04/09/2020.