Os bombardeios russos na Ucrânia geram especulações em relação ao escoamento do trigo pelo Mar Negro e os preços em Chicago dispararam. Segundo o analista de SAFRAS & Mercado, Elcio Bento, mesmo não trazendo riscos imediatos ao abastecimento global, neste momento de entrada de safra global, a guerra e seus desdobramentos seguem gera volatilidade às cotações.

Incertezas

Nesta quarta-feira, a Bolsa de Chicago foi impulsionada pelo acirramento da guerra na Ucrânia. Bento vinha dizendo que o fim do corredor de grãos já estava precificado; essa escalada do conflito, no entanto, traz incertezas e fez com que as cotações batessem no limite de máxima da sessão pela primeira vez desde os primeiros dias de guerra.

Desde ontem, a Rússia realizou bombardeios a infraestruturas portuárias ucranianas. No início da tarde, a agência russa Interfax reportou que o ministério da defesa da Rússia disse que, a partir de 20 de julho, todas as embarcações com destino à Ucrânia serão consideradas potenciais cargas militares. O mercado entendeu isso como uma ameaça ao transporte de grãos e os preços reagiram.

Conforme fontes consultadas por agências internacionais, é improvável que a Ucrânia consiga obter apoio de outros países para escoltar navios pelo corredor de grãos do Mar Negro. Corretoras já estão suspendendo seus programas de exportação da região, uma vez que não há seguro ou segurança suficientes para as operações.

Bento reitera que a disparada de hoje está atrelada ao ataque à infraestrutura, uma vez que a saída da Rússia do corredor já estava precificada. Nesta quarta, os preços chegaram aos maiores níveis desde 27 de junho. Na ocasião, as cotações foram impulsionadas também por especulações em torno da situação política interna da Rússia, após um princípio de rebelião de um grupo mercenário, até então aliado de Putin.

Oferta abundante

“Qualquer notícia que coloque em xeque o fornecimento do cereal russo reverbera no mercado”, salientou o analista à época. Atualmente, ele reforça: há trigo em abundância no mundo. Os bombardeios devem, sim, ter impacto sobre os embarques ucranianos, mas Rússia, Argentina, Estados Unidos e União Europeia devem fornecer o suficiente para suprir essa ausência por enquanto. “Talvez o produto ucraniano faça falta na entressafra”.

O analista segue enfatizando que os preços do trigo em Chicago já caíram muito nos últimos meses e o abundante e barato produto russo não deve permitir elevações expressivas, como as vistas nos primeiros meses de guerra. O cenário é outro. “Naquele momento, os agentes não conseguiam vislumbrar os eventuais efeitos de um conflito entre dois dos maiores fornecedores de trigo do mundo. Atualmente, só precisam realinhar os números de abastecimento para precificar uma nova realidade fundamental para o mercado”, explicou.

Autor/Fonte: Gabriel Nascimento  / Agência SAFRAS

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