O complexo de lagartas que ataca os cultivos de soja diz respeito a um grupo de insetos-praga que causa muitos problemas no campo.

Quando se trata de Helicoverpa armigera e Spodoptera cosmioides, são expressivos os danos que elas ocasionam devido a agressividade que apresentam. São lagartas capazes de se adaptar a diferentes condições, mesmo as que não são favoráveis. Aliado a isso, seu hábito altamente polífago, ou seja, podem se alimentar de uma variedade de plantas, são fatores que permitem o seu ótimo desenvolvimento nas diferentes culturas em que são encontradas.

Conheça mais sobre estas duas lagartas e saiba quais métodos são eficazes para proteger o seu cultivo contra o ataque delas.

Características e hábitos

Helicoverpa armigera

Esta espécie é uma lagarta altamente polífaga, bastante agressiva, com elevada capacidade reprodutiva e de dispersão, e capaz de se adaptar a condições que normalmente não são favoráveis para o estabelecimento de insetos.

Se alimentam das plantas de soja desde a emergência até a fase reprodutiva, onde folhas, flores e vagens podem ser consumidas.

O potencial de reprodução desta espécie é alto, há registros que apontam que as fêmeas desta espécie podem colocar até três mil ovos nas plantas hospedeiras. Além disso, são capazes de migrar para longas distâncias devido a sua grande capacidade de dispersão.

Diante de todas as características que favorecem o estabelecimento desta lagarta na lavoura, todos os recursos de manejo disponíveis devem ser utilizados como proteção contra o ataque desta lagarta.

Helicoverpa armigera. (Fonte: Portal Syngenta)

O fato de a coloração das lagartas ser variada em muitos locais onde são encontradas, faz com que sua identificação seja dificultada. Apesar disso, uma característica determinante na identificação deste inseto-praga são os tubérculos escuros presentes no dorso do abdômen das lagartas.

Tubérculos escuros na região dorsal do abdômen de Helicoverpa armigera (Fonte: Gabriella C. Gaston em Embrapa e IPM Guidelines)

Outra característica particular que identifica Helicoverpa armigera é a textura levemente coriácea do tegumento de seu corpo. Este aspecto confere a esta lagarta uma maior resistência a ação dos inseticidas, especialmente os que agem por contato. Mais um fator favorável para a continuidade da praga no cultivo de soja.

Spodoptera cosmioides

Spodoptera cosmioides é capaz de iniciar o ataque nas plantas que recém emergiram e continuar a provocar danos até o final do ciclo da cultura. Na fase vegetativa das plantas, alimentam-se das folhas e provocam o desfolhamento. Ao chegar na fase reprodutiva, as lagartas danificam as vagens e também os grãos, o que acaba por proporcionar uma porta de entrada para doenças e outros organismos patogênicos na planta.

Conhecida como lagarta-preta-da-soja, ou lagarta-da-vagem, é nesta fase de seu desenvolvimento que ocasionam os maiores danos para o cultivo, quando estão na fase jovem. No entanto, é importante se atentar aos adultos presentes na lavoura, tanto de Spodoptera cosmioides, como os adultos de Helicoverpa armigera, pois são eles os responsáveis por aumentar a população de lagartas.

Os adultos da lagarta-preta-da-soja são mariposas de, aproximadamente, 40 mm de tamanho. Nas fêmeas adultas, as asas têm coloração cinza com manchas de cor branca e parda, enquanto que os machos apresentam uma variação de tom, sendo mais amarelados.

O hábito destas mariposas é noturno, então este é o horário em que elas estão ativas e sua presença é mais facilmente observada na lavoura.

As fêmeas colocam seus ovos nas folhas baixas das plantas de soja, agrupando-os em uma massa de ovos, de onde inúmeras lagartas eclodem e passam a se alimentar das plantas. Conforme se alimentam, as lagartas de Spodoptera cosmioides crescem de tamanho e começam a passar pelas fases de desenvolvimento, chamadas de ínstar. Até que atingem a fase de pupa, onde são imóveis e se prepararão para as mudanças necessárias a fim de que atinjam o estádio adulto. Por fim, terminada a fase de pupa, as mariposas adultas emergem e este ciclo de desenvolvimento da praga volta a se repetir na cultura.

  1. Mariposa adulta; B) Massa de ovos; C) Lagarta de Spodoptera cosmioides; D) Fase de pupa das lagartas (Fonte: Embrapa)

O ciclo de desenvolvimento de Spodoptera cosmiodes tem duração de 40 a 46 dias, enquanto que Helicoverpa armigera precisa de aproximadamente 30 dias para se desenvolver. Estes dias podem variar de acordo com as condições do ambiente.

Devido as características destas duas lagartas, não podemos esquecer que no campo ambas podem estar presentes ao mesmo tempo e em diferentes fases de desenvolvimento, o que provocará danos expressivos. Por isso é essencial que você realize o monitoramento, afim de que possa entrar com os métodos de manejo no momento certo.

Como monitorar e quando controlar?

O monitoramento destas pragas no campo é o que informará a você a necessidade de adotar táticas de controle. Aconselha-se realizar as visitas para amostragem uma vez na semana no estádio vegetativo das plantas, e duas vezes por semana na fase reprodutiva.

O pano-de-batida é uma ferramenta prática para empregar nestas avaliações. Também é possível utilizar armadilhas luminosas e armadilhas com feromônio sexual, que são eficientes para captura de adultos e detecção da presença das pragas no campo.

O nível de controle recomendado para as lagartas do gênero Helicoverpa na fase vegetativa é de quatro lagartas pequenas por metro, ou 30% de desfolha das plantas. Já no estádio reprodutivo da soja, o controle deve ser realizado quando forem detectadas duas lagartas de Helicoverpa por metro, ou 15% de desfolha. A recomendação para controle de Spodoptera, é de 10 lagartas pequenas por metro, ou 30% de desfolha, tanto nas fases vegetativa como reprodutiva.

Táticas de manejo para quando você precisa realizar o controle

É possível empregar várias táticas para controle destas lagartas, e preferencialmente, elas devem estar de acordo com um programa de manejo integrado de pragas (MIP). Abaixo te mostro as principais para que você possa empregar em sua lavoura.

Uso de variedades resistentes

As plantas que apresentam a biotecnologia Bt (Bacillus thurigiensis) são importantes aliadas no controle de pragas. Estas variedades que chamamos de resistentes, apresentam genes em seu DNA que codificam proteínas inseticidas, conhecidas como proteínas ou genes Bt.

Estes genes, quando inseridos em uma planta, fazem com que ela passe a produzir a proteína Bt. Deste modo, no momento em que as lagartas se alimentam das folhas desta planta, ingerem a toxina que tem ação inseticida sobre o inseto.

Cada proteína Bt, ou proteínas Cry, apresentam ação específica para um determinado grupo de insetos. Por conta disso, até pouco tempo, as lagartas Helicoverpa armigera e Spodoptera cosmioides não eram suscetíveis a variedade de soja Bt existente no mercado.

Há poucas semanas, este cenário mudou quando aconteceu o lançamento da Soja Intacta 2 Xtend®, variedade na qual duas novas proteínas Cry foram adicionadas, e esta soja passa a apresentar resistência contra mais estas duas espécies de lagartas, além daquelas já abrangidas pelas tecnologias anteriores.

Soja Intacta 2 Xtend (Fonte: Bayer)

Controle cultural

Quando você ouvir falar sobre controle cultural, deve pensar que é preciso deixar o ambiente agrícola o menos favorável para as lagartas se estabelecerem.

Como já citei anteriormente, a alta capacidade de adaptação aos ambientes adversos e por serem capazes de se alimentar de diversas plantas, a presença de hospedeiros alternativos adjacentes a cultura, ou na entressafra de soja, podem servir de abrigo e alimento para estes insetos.

O vazio sanitário deve ser empregado no período indicado para a sua localidade, e a mesma atenção deve ser dada as plantas infestantes, que na falta de soja no campo, podem ser utilizadas por estes insetos como hospedeiros.

Outras estratégias culturais também podem ser adotadas, como a técnica de Push and Pull, onde acontece uma manipulação do comportamento dos insetos-praga por meio de estímulos visuais e compostos voláteis emitidos pelas plantas. Esta estratégia é adotada junto com a cultura principal, que é aquela que se deseja proteger contra o ataque das pragas. Junto a este cultivo, utiliza-se plantas armadilhas, para onde o inseto será atraído e controlado.

Inseticidas químicos e biológicos

Uma alternativa de controle rápida e confiável, o emprego dos inseticidas pode ser realizado de maneira segura, se as recomendações de uso forem seguidas e estes fizerem parte de um programa de manejo integrado de pragas.

Além de utilizar apenas os inseticidas recomendados para a cultura, deve-se buscar fazer uso de produtos seletivos aos insetos benéficos, pois além dos casos em que é realizada a liberação massal destes agentes de controle biológico, eles também estão presentes naturalmente no ambiente agrícola e devem ser protegidos.

Outro ponto importante é a rotação de ingredientes ativos dos inseticidas e do modo de ação deles, como forma de diminuir a pressão de seleção de insetos resistentes e evitar que tecnologias como a soja Bt sejam perdidas.

O uso de produtos biológicos, como inseticidas a base de Bacillus thuringiensis e Baculovírus, também devem ser empregados. São produtos que demonstram eficiência e já apresentaram resultados satisfatórios no controle de lagartas, além de serem seletivos aos inimigos naturais. Estas opções devem ser consideradas no momento da escolha de produtos compatíveis com um programa de MIP em soja.

Controle biológico

Nos ambientes agrícolas, existe uma contribuição que ocorre de maneira natural pelos agentes de controle biológico que atuam sobre insetos-praga. São parasitoides que depositam os ovos de sua prole dentro de lagartas ou dos ovos destas pragas. Ali, o embrião do parasitoide passa a se alimentar do conteúdo interno de seu hospedeiro, a fim de que possa se desenvolver até atingir o estádio final, quando o adulto emerge e ocasiona a morte do hospedeiro no qual se desenvolveu.

É possível realizar a liberação destes insetos benéficos de forma inundativa. A liberação é feita com o uso de drones ou manualmente, através de cartelas que contém os parasitoides em ovos de um hospedeiro.

Trichogramma pretiosum, microvespa parasitoide de ovos. (Fonte: Koppert)

Estes insetos são conhecidos pelos resultados positivos no controle de diversas pragas agrícolas.

Conclusão

Hoje você conheceu mais a fundo as características de duas importantes espécies de lagartas da cultura da soja.

Além disso, trouxemos também as indicações de como você deve realizar o monitoramento delas no campo e quais as possibilidades de manejo para um momento em que se faz necessário o controle.

O indicado é que você utilize todas as táticas de manejo de forma associada, a fim de que estas lagartas sejam mantidas abaixo do nível de dano econômico na sua lavoura.



Sobre o Autor: Mariana Rosa da Silva, mestranda em Entomologia pela ESALQ/USP. Engenheira Agrônoma pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.

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