A lagarta Helicoverpa armigera apresenta ampla distribuição geográfica pelo mundo, sendo registrada em praticamente toda a Europa, Ásia, África, Austrália e Oceania. Nas Américas, essa praga foi oficialmente detectada em 2013, quando surtos populacionais ocorreram em várias regiões agrícolas do Brasil (CZEPAK et al., 2013).

Os adultos de H. armigera apresentam habilidade para se dispersar por longas distâncias em condições de campo, podendo migrar por até 1.000 km. Esta espécie também apresenta alta capacidade de sobrevivência sob condições ambientais adversas, tais como excesso de calor, frio ou seca. Além disso, podem ocorrer várias gerações do inseto ao longo do ano, uma vez que o ciclo de ovo a adulto completa-se dentro de quatro a cinco semanas (ÁVILA et al., 2013).

A espécie H. armigera é considerada altamente polífaga, ou seja, apresenta capacidade de se desenvolver em diversas plantas hospedeiras. As lagartas podem se alimentar tanto dos órgãos vegetativos quanto dos órgãos reprodutivos de várias espécies de plantas de importância econômica. Estima-se que a perda mundial causada por lagartas de H. armigera, nas diferentes culturas em que ataca, chega a 5 bilhões de dólares (ÁVILA et al., 2013).

Figura 1. Lagartas de Helicoverpa armigera de diferentes colorações.

Fonte: Ávila et al., 2013.

Segundo Arnemann et al. (2019), é altamente provável que a espécie H. armigera esteve presente na América do Sul por um período de tempo antes da sua primeira identificação no Brasil. Acredita-se que a praga permaneceu indetectável anteriormente devido à similaridade de sua morfologia com a espécie Helicoverpa zea, além da dificuldade de detecção de pragas não-nativas nos estágios iniciais das invasões.

A rápida disseminação e estabelecimento de H. armigera em grande parte do continente sul-americano gerou uma população ampla da praga, com impactos significativos na produção agrícola de vários países. As evidências sugerem que a população invasora desta espécie é altamente diversificada, e a distribuição espacial associada a essa diversidade genética indica que a praga se espalhou a partir de dois focos diferentes de introdução: um na região do Cone Sul (sul do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), e outro no centro/norte do Brasil.

Conforme análises estatísticas dos padrões de distribuição de haplótipos (isto é, linhagens maternas) realizadas por Arnemann et al. (2019), alguns dos haplótipos de H. armigera mais comumente encontrados no Brasil mostraram-se raros na Argentina e no Paraguai. Por outro lado, certas linhagens comuns em países não-brasileiros mostraram-se desproporcionalmente incomuns no Brasil. Além disso, as análises realizadas apontam para a ocorrência reduzida de fluxo gênico entre as populações de H. armigera da região Cone Sul e as populações do centro/norte do Brasil, indicando um certo grau de isolamento genético entre as duas populações.

Tay et al. (2017) mostrou que, dentro do Brasil, a população de H. armigera continha linhagens globalmente comuns e globalmente raras. Em nível nacional, foram detectados 13 haplótipos raros no Brasil, número semelhante ao total de 12 haplótipos raros identificados por Arnemann et al. (2019). Múltiplas introduções e alta pressão de propágulo estão entre os principais fatores que facilitam o estabelecimento de pragas não-nativas, garantindo alta diversidade genética na população invasiva. De acordo com De Barro et al. (2011), a introdução de insetos não-nativos deve ser impedida mesmo após a espécie em questão ter-se estabelecido no país, de modo a evitar que a carga de diversidade genética aumente ainda mais.

Portanto, a presença de linhagens de H. armigera super e sub-representadas na região do Cone Sul sugere que esta população provavelmente se originou em algum local fora das áreas amostradas no centro e norte do Brasil. É altamente provável que a população de H. armigera presente no Cone Sul tenha sido introduzida diretamente de países europeus ou asiáticos. A ocorrência de múltiplas incursões de uma praga invasiva apresenta reflexos diretos no manejo da espécie, já que as populações de H. armigera ao redor do mundo possuem resistência a vários inseticidas convencionais, e as populações sul-americanas da praga já demonstraram ser resistentes a inseticidas do grupos químico dos piretróides (Durigan et al. 2017).

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM



REFERÊNCIAS:

ARNEMANN, J. A. et al. Multiple incursion pathways for Helicoverpa armigera in Brazil show its genetic diversity spreading in a connected world. Scientific reports, v. 9, n. 1, p. 1-12, 2019.

ÁVILA, Crébio José; VIVAN, Lúcia Madalena; TOMQUELSKI, Germison Vital. Ocorrência, aspectos biológicos, danos e estratégias de manejo de Helicoverpa armigera (Hubner)(Lepidoptera: Noctuidae) nos sistemas de produção agrícolas. Embrapa Agropecuária Oeste-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2013.

CZEPAK, Cecília et al. Primeiro registro de ocorrência de Helicoverpa armigera (Hübner)(Lepidoptera: Noctuidae) no Brasil. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 43, n. 1, p. 110-113, 2013.

DA SILVA, Ivana Fernandes et al. Biological and molecular characterization of the postinvasion immature stages of Helicoverpa armigera (Hübner)(Lepidoptera: Noctuidae). Florida entomologist, v. 101, n. 1, p. 25-32, 2018.

DE BARRO, P. J., LIU, S. S., BOYKIN, L. M. & DINSDALE, A. B. Bemisia tabaci: a statement of species status. Annu Rev Entomol 56, 1–19 (2011).

DURIGAN, M. R. et al. High frequency of CYP337B3 gene associated with control failures of Helicoverpa armigera with pyrethroid insecticides in Brazil. Pesticide Biochemistry and Physiology, https://doi.org/10.1016/j.pestbp.2017.09.005 (2017).

PEDGLEY, D. E. et al. Windborne migration of Heliothis armigera (Hübner)(Lepidoptera: Noctuidae) to the British Isles. Entomologist’s Gazette, v. 36, n. 1, p. 15-20, 1985.

SILVA, Ivana Fernandes. Desempenho de populações geográficas de Helicoverpa armigera (Hübner)(Lepidoptera: Noctuidae) em dietas naturais e artificial e caracterização por microssatélites. 2017.

TAY, W. T. et al. Mitochondrial DNA and trade data support multiple origins of Helicoverpa armigera (Lepidoptera, Noctuidae) in Brazil. Scientifc Reports 7, 45302, https://doi.org/10.1038/srep45302 (2017).

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