CONTEXTUALIZAÇÃO

A cultura do milho é cultivada no Rio Grande do Sul com foco principal na produção de grãos e de silagem. A silagem é de suma importância como fonte alimentar para a cadeia leiteira, e por esse motivo, além da quantidade de massa produzida, os aspectos bromatológicos, bem como aqueles relacionados à presença de micotoxinas, são pontos que merecem atenção.

Estes fatores tornaram-se ainda mais relevantes com o aumento dos danos ocasionados pela cigarrinha-do milho, Dalbulus maidis. Esse inseto-praga é vetor dos agentes causais do enfezamento pálido, enfezamento vermelho, e do vírus da risca.

Esses fitopatógenos, uma vez transmitidos para a planta de milho, excluem qualquer possibilidade de controle e, consequentemente, de evitar que ocorram perdas potenciais nas lavouras. Essa doença é bastante destrutiva, e pode levar a perdas na qualidade dos grãos e, de forma direta, causar redução na produtividade (Massola Jr., 1998). Além do dano direto, a debilitação da planta resulta na ocorrência de podridões de colmo e de espiga (Figura 1).

A associação do complexo de enfezamento e podridões de colmo e espiga causam danos de redução da produção de massa verde e qualidade bromatológica, senescência antecipada, tombamento das plantas, grãos ardidos e podem ocasionar a produção de micotoxinas na silagem e grãos de milho.

Figura 1. Podridão de colmo e de espiga resultante da presença do complexo de enfezamento. Fonte: CCGL.

Essas podridões estão relacionadas principalmente à ocorrência de Fusarium verticillioides e F. graminearum. Além do dano direto em si, estes fungos também são responsáveis pela produção de micotoxinas como fumosinas, zearalenona e desoxinivalenol (DON) (Embrapa, 2015), substâncias altamente tóxicas aos animais e seres humanos.

Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o impacto na qualidade bromatológica e de micotoxinas em silagem e grãos de milho com a presença do complexo de enfezamento.

METODOLOGIA

Por meio da RTC – Rede Técnica Cooperativa, foram conduzidos dois experimentos visando avaliar o efeito da aplicação de inseticidas e sua resposta sobre a qualidade bromatológica e presença de micotoxinas em milho. Em ambos os experimentos utilizaram-se híbridos suscetíveis ao complexo de enfezamento. O experimento, conduzido em Sarandi (RS), foi semeado no dia 03/02/2021 e foram realizadas 4 aplicações de inseticidas (estádios V1, V2, V4 e V6). O experimento conduzido em Cruz Alta (RS) foi semeado no dia 11/01/2021 e foram realizadas 5 aplicações de inseticidas (estádios V1, V2, V3, V4 e V6). No momento de ponto de silagem foi realizado o processo de trituração das plantas com ensiladeira tratorizada e coletadas amostras das parcelas testemunha (sem a aplicação de inseticidas) e do tratamento com inseticida químico. No experimento de Cruz Alta foi realizada a colheita de grãos. Posteriormente, as amostras foram encaminhadas para laboratório credenciado para a avaliação da qualidade bromatológica e para análises de micotoxinas.

RESULTADOS

A aplicação de inseticidas influenciou diretamente a qualidade do material ensilado. Foram verificados reduções dos teores de FDN e aumento no amido da silagem na parcela com aplicação (Figura 2). Além disso, o manejo da praga resultou em maior produção da massa seca e em maior produção de leite por tonelada de silagem produzida, com uma diferença de potencial de conversão em leite de mais de 19 mil litros por hectare (Figura 3 e 4).

Figura 2. Massa Seca (MS), Proteína Bruta (PB), Teor de Amido, nutrientes digestíveis totais (NDT) e Fibra detergente neutro FDN) nos tratamentos com e sem aplicação de inseticidas. Sarandi, 2021.
Figura 3. Conversão de leite produzido pela massa seca (MS) nos tratamentos com e sem aplicação de inseticidas. Sarandi, 2021.

No que diz respeito a micotoxinas na silagem, a testemunha sem aplicação de inseticidas apresentou níveis fora dos padrões aceitáveis para DON. Já o tratamento inseticida apresentou níveis dentro dos aceitáveis ou abaixo do nível de detectado (Tabela 1). A interação do complexo de enfezamento debilitou a planta e favoreceu o desenvolvimento de Fusarium graminearum e F. verticilioides que são os principais responsáveis pela elevada produção de micotoxinas

Uma vez que as micotoxinas podem representar um problema para a indústria de ração, bem como para a alimentação de suínos, aves e bovinos, o manejo integrado visando ao controle da cigarrinha do milho é fundamental. A escolha do híbrido, a época de semeadura, o tratamento de sementes e o uso de inseticidas efetivos já nos primeiros estádios de desenvolvimento do milho, são parte importante deste manejo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O manejo efetivo do complexo de enfezamento do milho é fundamental para a manutenção da qualidade bromatológica da silagem e para obter menores níveis de micotoxinas. Os resultados de micotoxinas emergem como um novo problema que ainda não estava sendo contabilizado nos danos causados por Dalbulus maidis nas lavouras de milho.

REFERÊNCIAS

EMBRAPA. Micotoxinas em Cadeias Produtivas do Milho: Riscos à Saúde Animal e Humana. Documentos, 193. ISSN 1518-4277. Sete Lagoas – MG. Dezembro, 2015.

MASSOLA JR, N. S. Avaliação de danos causados pelo enfezamento vermelho e enfezamento pálido na cultura do milho. Tese (Doutorado em Agronomia). Escola Superior Luiz de Queiroz. Piracicaba, 75p. 1998

AUTOR

Glauber Renato Stürmer| Pesquisador em entomologia CCGL| glauber.sturmer@ccgl.com.br
Luis Otávio da Costa de Lima | Supervisor de Difusão CCGL| luisotavio@ccgl.com.br



Fonte: Boletim Técnico nº 98, 2021  | CCGL Pesquisa e Tecnologia | Cruz Alta/RS

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