Condições meteorológicas ocorridas em agosto de 2021 no RS

Assim como no mês de julho, agosto de 2021 também foi de pouca chuva no RS. As regiões que receberam maior volume de precipitação foram as Planícies Costeiras Interna e Externa e parte da região Norte, nas proximidades de Cruz Alta, que, inclusive, ficou com anomalia positiva na precipitação. As regiões da Fronteira Oeste, Campanha, Extremo Norte e Extremo Sul do RS tiveram precipitações abaixo de 60 milímetros (Figura 1 A). Com isso, praticamente todas as regiões do RS ficaram com anomalias negativas na precipitação (Figura 1 B). A exceção foi a região próxima à região Metropolitana de Porto Alegre, onde a precipitação mensal ficou dentro da Normal Climatológica e a região de Cruz Alta, com precipitação um pouco acima da Normal.Figura 1

Figura 1 (ver acima). Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B) durante agosto de 2021 no RS em relação à média climatológica (relativa ao período 1981-2010). As escalas de cores indicam, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), cujos valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (laranja-vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: INMET

Além das precipitações terem ficado abaixo da média na maior parte do Estado, elas ocorreram de forma mal distribuída durante o mês de agosto. Ou seja, houve apenas dois eventos de chuva, como pode ser observado nos gráficos da Figura 2. Com relação às temperaturas, houve uma verdadeira gangorra. Foram três eventos com temperaturas máximas próximas de 30 °C e dois eventos com temperaturas próximas de 0 °C, com direito à formação de geada (Figura 2).

Figura 2
Figura 2

Figura 2. Temperaturas máxima e mínima diárias (°C), suas respectivas normais climatológicas (NC, linhas pontilhadas) (°C) (relativas ao período 1981-2010) e precipitação pluvial diária (mm) referente a agosto de 2021, em cinco municípios da Metade Sul do RS, que representam cinco das seis regiões arrozeiras do RS. Observação: devido à falha nos dados da estação meteorológica, a Planície Costeira Interna não foi representada na figura. Fonte de dados: INMET

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

Embora se fale muito no retorno da La Niña, as condições no Oceano Pacífico Equatorial ainda são as condizentes com a fase Neutra do ENOS (El Niño-Oscilação Sul). O relatório da NOAA-CPC (National Oceanic and Atmospheric Administration, Climate Prediction Center), divulgado no dia 9 de setembro de 2021, diz que “a transição da fase Neutra para a La Niña é favorecida nos próximos dois meses, com uma probabilidade 70-80%, durante o verão no Hemisfério Sul”. Ainda, segundo o relatório, o mês de agosto refletiu as condições oceano-atmosféricas Neutras, mas que está se aproximando da La Niña.

A Temperatura da Superfície do Mar na região Niño 3.4 esteve com valores em neutralidade (-0,4 °C), em agosto de 2021 (Figura 3). Já a região Niño 1+2 ficou com anomalia positiva (+0,2 °C). Quando essa região tem anomalias positivas mais intensas, ela favorece a entrada de frentes frias mais potentes e que geram maiores volumes de precipitações.

As águas no Oceano Atlântico Sul apresentaram temperatura próxima aos valores neutros e isso, também, não favoreceu as chuvas no RS durante o mês de agosto. Ou seja, as condições oceânicas de agosto foram totalmente dentro da normalidade. Mas já vem sendo observadas mudanças no padrão de aquecimento e resfriamento das águas do Oceano Pacífico e, também, do Atlântico Sul.

Figura 3
Figura 3

Figura 3. Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar em agosto de 2021. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade das chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE

O padrão de temperatura das águas subsuperficiais na região do Oceano Pacífico Equatorial também vem apresentando mudanças significativas ao longo dos últimos meses (Figura 4). Em junho deste ano, ainda havia bolsões de água com anomalias positivas na temperatura. O padrão foi mudando em julho e, agora em setembro, já existe um grande bolsão com águas de anomalias negativas. Observa-se que esse bolsão já está encostado na superfície, o que dá sustentação para o resfriamento que vem sendo observado em superfície nos últimos dias.

Resumindo, no momento a situação ainda é de Neutralidade, com viés negativo. Conforme os modelos e alguns padrões atmosféricos, esse padrão pode mudar para uma situação de La Niña nos próximos meses.

Figura 4
Figura 4

Figura 4. Anomalia da temperatura subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico (°C) em relação à profundidade (de 0 a 300 m). Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA

Previsão de precipitação no trimestre outubro, novembro e dezembro de 2021 no RS

A previsão de consenso do IRI (International Research Institute for Climate Society) aumentou as chances de desenvolvimento de um novo evento La Niña para 78 % no trimestre Out-Nov-Dez de 2021. Com relação à precipitação, o IRI prevê para o trimestre Out-Nov-Dez em torno de 70 % de chance de que as precipitações no RS fiquem abaixo do volume normal.

Da mesma forma, o modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA-CPC) segue prevendo que os volumes mensais das precipitações em outubro, novembro e dezembro irão ficar abaixo dos valores da Normal Climatológica, sendo a pior situação, a do mês de novembro. O INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê que as precipitações fiquem dentro da Normal nas áreas próximas à fronteira com o Uruguai e abaixo da Normal nas outras regiões do RS, em outubro (Figura 5). Já a previsão total de precipitação neste mês deve ficar em torno de 160-200 mm na Fronteira Oeste e de 130-160 na Campanha e na Região Central. A região da Zona Sul deve ser a com menor acumulado, com o Extremo Sul com volumes abaixo de 60 mm. Para novembro, o modelo mostra chuvas abaixo da Normal em todo o Estado, com volumes acumulados entre 100-130 mm na Fronteira Oeste, Campanha e Região Central do RS. Áreas da Zona sul e Planícies Costeiras Interna e Externa devem ficar com volumes acumulados em 70-100 mm. Em dezembro, toda a Metade Sul do Estado ainda deverá ter precipitações abaixo da média. Os volumes acumulados na Fronteira Oeste, Campanha, Região Central e norte das Planícies deverão ficar entrem 80-130 mm (maior variação nos volumes previstos pelo modelo). Já as áreas mais ao Sul, a previsão é de acumulados entre 60-80 mm.

Figura 5
Figura 5

Figura 5. Precipitação total prevista e anomalia de precipitação prevista para outubro, novembro e dezembro de 2021 no RS. Fonte: adaptado de INMET

Com a neutralidade em curso e a expectativa de uma La Niña, o que se pode dizer é que haverá irregularidade nas precipitações, ora chove mais em uma região, ora em outra. Além disso, poderá haver períodos maiores sem chuva e outros até com chuva mais volumosa. A atenção que se deve ter agora é com os meses de outubro e novembro, já que há certo consenso dos modelos de que as precipitações irão diminuir. Esses dois meses são cruciais para os orizicultores fazerem a semeadura de suas áreas. Logo, é de suma importância o acompanhamento da previsão do tempo, de curto e médio prazo, para melhor manejar este processo inicial da lavoura.

Para o período de dezembro em diante, é necessário ainda ter cautela e acompanhar as próximas atualizações da previsão climática, visto que a La Niña ainda não está instalada/configurada e alguns aspectos ainda podem mudar.

Com relação aos reservatórios, a situação melhorou após as últimas chuvas do mês de setembro, que foram bastante intensas em alguns municípios.

A primavera iniciou na última quarta-feira, dia 22/9, às 16h21min, no Hemisfério Sul. Esta estação é marcada pela alternância de dias frios e dias mais quentes, devido ao período de transição entre o inverno e o verão. Com isso, é normal observar estas alterações que, às vezes, vêm acompanhadas de mudanças no tempo. Ou seja, os temporais mais intensos, com queda de granizo, vendavais e chuva intensa, são mais comuns de acontecerem nesta época do ano.

Por: Jossana Ceolin Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga.

Fonte: disponível no Portal do Irga

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