Condições meteorológicas ocorridas em janeiro de 2023 no Rio Grande do Sul (RS)
O ano de 2023 iniciou com pouca chuva no RS. Janeiro teve precipitações com volumes menores que 25 mm em áreas de fronteira com o Uruguai e na Fronteira Oeste (Figura 1 A). Com isso, a anomalia foi negativa em todo o Estado (Figura 1 B). O impacto da falta de chuvas foi observado nas culturas de sequeiro, como soja e milho, e nas pastagens, que secaram. Devido às faltas de água e pasto, houve relatos de morte de gado, principalmente na Fronteira Oeste. A água dos reservatórios tem estado escassa na maioria dos municípios gaúchos. Até o dia 23/02, havia 332 municípios em situação de emergência, devido à estiagem no RS.
Figura 1. Mapa da precipitação pluvial acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B), em mm, durante o mês de janeiro de 2023 no estado do Rio Grande do Sul em relação à Normal Climatológica (NC), relativa ao período 1991-2020. As escalas de cores mostram, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) representam precipitação acima da NC e valores negativos (laranja-vermelho) precipitação abaixo da NC. Fonte de dados: CPTEC/INMET.
A frequência das precipitações foi baixa, principalmente na Metade Oeste do RS (Figura 2). A temperatura do ar ficou acima da média na maior parte dos dias, principalmente em relação às máximas (Figura 2).
Figura 2. Temperaturas do ar máxima e mínima diária (°C), suas respectivas Normais Climatológicas (°C) relativas ao período 1991-2020 (nas linhas pontilhadas) e precipitação pluvial diária (mm) referentes ao mês de janeiro de 2023, em seis municípios da Metade Sul do RS, representativos das seis regiões arrozeiras do RS. Fonte de dados: INMET.
Se as precipitações foram baixas no mês de janeiro de 2023, a radiação solar foi alta, com anomalias positivas em quase todo o RS. A Fronteira Oeste teve valores dentro da NC. Para a cultura do arroz irrigado e para as culturas de sequeiro utilizadas em rotação, desde que irrigadas, alta radiação solar no período de formação e enchimento de grãos é desejável para obtenção de maiores produtividades.
Menor volume de chuvas, maior radiação solar e temperaturas altas resultaram em mais um mês com evaporação elevada no RS, principalmente nas regiões da Fronteira Oeste e da Campanha. No extremo Oeste, os volumes de evaporação da água do solo e dos reservatórios foram superiores a 270 mm.
Colocando o exemplo de Uruguaiana, localizada na região em situação mais extrema no Estado, a estação meteorológica do INMET registrou em janeiro apenas 16,8 mm de precipitação, enquanto a evaporação chegou a 275 mm. Quando se soma o acumulado de precipitação de setembro/2022 a janeiro/2023, o resultado foi de 204,8 mm, enquanto a NC é de 676,7 mm, ou seja, houve um déficit de 471,9 mm, apenas neste período de cinco meses.
Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño – Oscilação Sul) e perspectivas
A temperatura da água da superfície do Oceano Pacífico Equatorial diminuiu de intensidade, mas ainda continua no limiar que caracteriza a La Niña. A anomalia da temperatura da superfície do mar na região Niño3.4 baixou para -0,7 °C em janeiro e, para apenas -0,2 °C, na região Niño1+2 (Figura 3). A temperatura da água na região Niño1+2 possui grande correlação com a quantidade de chuvas no RS. Quando as anomalias de temperatura são negativas, a tendência é de que haja diminuição nas chuvas por aqui, tendo relação com as estiagens entre a primavera e o verão. Pode ser que agora, com as temperaturas das águas na região Niño1+2 mais próximas da normalidade, as precipitações venham a ocorrer com maior frequência no RS, comparada a dos últimos meses. Outro fator importante é que as águas do Oceano Atlântico também aqueceram no último mês. Esta mudança poderá favorecer as chuvas no RS nos próximos meses, principalmente nas regiões mais ao Leste. No entanto, a regularidade das precipitações, para o RS como um todo, ainda poderá demorar alguns meses para acontecer.
De modo geral, em janeiro de 2023 o sistema acoplado oceano-atmosfera ainda era consistente com as condições referentes à La Niña. O relatório publicado pela NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), em 09 de fevereiro de 2023, prevê, com 85% de probabilidade, da fase Neutra iniciar-se no trimestre Fev-Mar-Abr/2023 e, de 94% da Neutralidade se manter no trimestre Mar-Abr-Mai.
Figura 3. Anomalia da temperatura (°C) da Superfície do Mar no mês de janeiro de 2023. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define a ocorrência de eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade de ocorrência de chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE.
Nas águas subsuperficiais do Oceano Pacífico também se observa enfraquecimento do bolsão de águas com anomalias negativas de temperatura, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro de 2023. Isto corrobora com a previsão do término da La Niña para os próximos meses (Figura 4).
Figura 4. Anomalia da temperatura (°C) subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico em relação à profundidade (de 0 a 300 m), entre os meses de novembro/2022 a fevereiro/2023. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.
Previsão de precipitação no trimestre março, abril e maio de 2023 no RS
Para este trimestre, o IRI (International Research Institute for Climate Society) prevê que as precipitações irão ficar abaixo da NC na maior parte do RS. Já as previsões do modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA) indicam precipitações abaixo da NC nos meses de março e abril, e próximas da NC, em maio. Por sua vez, o modelo do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê para o mês de março precipitações próximas da NC no RS. Para abril, a previsão é de que as precipitações fiquem abaixo da NC, na maior parte do RS e, para maio, há maior oscilação mas, no geral, o INMET prevê precipitações próximas à NC (Figura 5).
Outros modelos apontam para março e abril de 2023 precipitações dentro ou abaixo da NC no RS e, para maio, há maior incerteza, com alguns modelos mostrando que as chuvas possam ficar acima da NC.
Figura 5. Precipitação pluvial total (mm) e anomalia de precipitação (mm) previstas para março, abril e maio de 2023 no RS. Fonte: adaptado de INMET.
Voltou a chover, nos últimos dias, em algumas regiões do RS. Porém, até a data de elaboração deste boletim, o acumulado do mês ainda não chegou ao valor mensal esperado. Muitos reservatórios estão quase secos e ainda há lavouras que necessitam de irrigação, por isso, o estado é de muita atenção e preocupação. Os prognósticos mostram que há previsão de chuvas para o RS, mas que ainda não deverá haver regularização.
Para melhores tomadas de decisão de manejo das lavouras de arroz irrigado e das culturas de sequeiro em rotação, principalmente a soja, é importante que se faça o acompanhamento da previsão do tempo de sete a 15 dias, visando maior eficiência na execução das atividades programadas.
Fonte: Irga RS