Foto de capa: Mark Dreiling, Bugwood.org.
Apesar das chuvas excessivas que têm acometido a região Sul do Brasil nas últimas semanas, a semeadura da soja para a safra 2023/24 segue a todo vapor. Esse é o momento de assegurar e proteger ao máximo o potencial produtivo da lavoura, incluindo o monitoramento e manejo adequado das pragas de início de ciclo.
Também denominadas pragas primárias, essas espécies podem atacar as sementes, plântulas e plantas de soja em início de desenvolvimento, quando a cultura se encontra altamente sensível e com pouca área foliar. Um exemplo importante de pragas primárias são as brocas, dentre as quais merece destaque a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus).
Ocorrência
Também conhecida como broca-do-colo, a lagarta-elasmo é uma praga de ocorrência frequente nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, e mais esporadicamente na região Sul. Sua incidência está tipicamente relacionada às áreas recém-abertas, com solo arenoso e/ou períodos de estiagem na instalação das lavouras. Por outro lado, sua importância tem diminuído com a crescente adoção de cultivares de soja Bt e uso de tratamento de sementes.
Os adultos dessa espécie são mariposas com coloração cinza-amarelada (fêmeas) ou marrom (machos) e manchas escuras nas asas anteriores. Os ovos são depositados diretamente nas plântulas de soja ou no solo próximo a elas, e levam dois a três dias para eclodir. A fase larval, que ocasiona o dano econômico à cultura, pode durar até 42 dias antes de pupar no solo. Após sete a dez dias, emerge da pupa o adulto, que viverá por até 22 dias buscando se reproduzir e reiniciar o ciclo.
Figura 1. Fêmea adulta de Elasmopalpus lignosellus.
Sintomas e danos
As lagartas de E. lignosellus raspam o caule das plântulas de soja na região do colo ou logo abaixo do nível do solo, podendo cortar, derrubar e/ou penetrar no caule, produzindo uma galeria ascendente no seu interior. Próximo às injúrias e ao orifício de entrada, tece um casulo de seda que fica coberto por partículas de solo, excrementos e restos vegetais, protegendo-a. A mesma lagarta pode cortar e abrir galerias no colo de até três plantas de soja. Ataques durante o estabelecimento da lavoura podem resultar na morte das plantas em até três dias.
A lagarta-elasmo prefere solos arenosos e condições de seca prolongada na fase inicial da cultura da soja, apresentando por isso uma ocorrência cíclica ao longo dos anos. Áreas que apresentam essas condições devem ser monitoradas por 30 a 40 dias após a germinação da soja. Quando as plantas passam de 25 cm de altura, as lagartas já não conseguem mais cavar galerias no seu interior, mas podem danificar a parte exterior do caule.
Figura 2. Lagarta de Elasmopalpus lignosellus dentro do caule de planta de soja.
Controle
A presença de palha no sistema plantio direto reduz a incidência de lagarta-elasmo, devido à proteção do solo contra radiação solar e consequente manutenção da umidade. Tanto a precipitação natural como a irrigação também reduzem a sua ocorrência. Por outro lado, a rotação de culturas não é eficiente no controle dessa praga, por ser uma espécie polífaga capaz de se alimentar de plantas cultivadas ou silvestres de 14 famílias diferentes, incluindo arroz, cana-de-açúcar, feijão, milho, soja, sorgo e trigo.
Atualmente, há 56 inseticidas químicos registrados para o controle de lagarta-elasmo em soja no Brasil, sendo a maioria formulada à base de fipronil (fenilpirazol) ou contendo diamidas antranílicas (ciantraniliprole e clorantraniliprole).
Esses são os ingredientes ativos que costumam apresentar maior eficácia de controle da praga, mas também há registros para neonicotinoides (imidacloprido, acetamiprido e tiametoxam), abamectina, tiodicarbe e acefato. A aplicação pode ser realizada via tratamento de sementes ou, mais raramente, em pulverizações foliares no início do desenvolvimento da cultura.
Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.
Referências:
AGROFIT. Consulta de Produtos Fitossanitários. MAPA, 2023. Disponível em: <http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>
GUEDES, J. C.; POZEBON, H.; ARNEMANN, J. A.; RUTHES, E.; PERINI, C. R. Pragas da Soja. Em: ROMERO, J. C. P. (Ed.) Manual de Entomologia Volume 1: Pragas das Culturas. 1ª Edição, 477 p. Editora Agronômica Ceres, Ouro Fino – MG, 2022.
Colocaram duas fotos iguais
Verdade Vitor, corrigido. Obrigado pelo aviso.