O desenvolvimento da mancha-alvo (Corynespora cassiicola) vem ganhando destaque nos últimos anos no Brasil. Estando distribuída em praticamente todas as regiões sojícolas do país, a doença que no passado era considerada secundária, atualmente já assume papel de doença primária na cultura da soja. Os sintomas típicos da doença são observados nas folhas, iniciando por pontuações pardas, com halo amarelado e evoluindo para manchas circulares, de coloração castanho-clara a castanho-escura. Dependendo da reação da cultivar, as lesões podem atingir até 2 cm de diâmetro ou permanecer pequenas (1 mm a 3 mm), mas em maior número (Godoy et al., 2020).
Figura 1. Sintomas típicos de mancha-alvo em soja.
O fungo sobrevive em resíduos culturais e sementes infectadas, o que atrelado ao grande número de plantas hospedeiras, tem contribuído para o avanço da mancha-alvo nas lavouras brasileiras. Dentre as principais estratégias de manejo, destacam-se o uso de cultivares resistentes, o tratamento de sementes com fungicidas, a rotação de culturas com plantas não hospedeiras e o controle com fungicidas (Henning et al., 2014).
Com relação ao manejo químico, além de definir o fungicida adequado, é necessário atentar para a suscetibilidade da cultivar e necessidade de intensificação do manejo. Se tratando de cultivares mais suscetíveis e condições ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento da doença (alta umidade) o emprego de fungicidas é indispensável para o controle da mancha-alvo.
Conforme analisado por Pivotto (2023), além do emprego de fungicidas, o número de aplicações de fungicidas também exerce influência sobre o controle da mancha alvo e produtividade da soja, sendo observadas, maiores produtividades em sistemas de manejo que contemplem um maior número de aplicações voltadas ao manejo da mancha alvo.
Os danos em decorrência da mancha-alvo podem variar em função da severidade da infecção e estádio do desenvolvimento da soja. Através da escala diagramática desenvolvida por Soares; Godoy; Oliveira (2009), é possível mensurar visualmente a severidade da mancha-alvo em soja, tornando possível definir estratégias de manejo, bem como o posicionamento dos fungicidas na lavoura.
Figura 2. Escala diagramática para avaliação da severidade da mancha alvo da soja.
A mancha-alvo danifica a folha, reduzindo sua capacidade fotossintética e, consequentemente, a produção, acúmulo e translocações de fotoassimilados para os grãos. Molina et al. (2019) observaram uma correlação negativa entre a produtividade da soja e a severidade da mancha-alvo na cultura, podendo resultar em perdas de produtividade superiores a 40% em casos mais extremos.
Considerando produtividades médias de soja de 3500 kg ha-1, para cada 10% de incremento de severidade da mancha-alvo, tem-se a redução de aproximadamente 168 kg ha-1. Entretanto, essa redução da produtividade pode variar em função da suscetibilidade da cultivar. Para cultivares consideradas tolerantes a mancha-alvo, essa redução de produtividade é de aproximadamente 77 kg ha-1, enquanto, para uma cultivar suscetível, a perda de produtividade pode chegar a quase 300 kg ha-1 (Molina et al., 2019, apud. Assoni).
Os resultados obtidos por Molina et al. (2019) evidenciam perdas de produtividade variando entre 8% e 40,5%, dependendo da severidade da mancha-alvo em soja. Foi observado um coeficiente de dano de 0,48% −1 (kg ha −1 de soja por incremento percentual da severidade da mancha-alvo, com base em uma produtividade livre de doença de 3.564 kg ha −1 ), o que corresponde a uma perda potencial de produtividade de 24%, com 50% de severidade de mancha-alvo. Sendo assim, o controle químico é essencial para reduzir perdas de produtividade da soja, em decorrência da incidência da mancha-alvo.
Avaliando e eficiência de fungicidas no controle da mancha-alvo em soja, Godoy et al. (2023) observaram que, dentre os tratamentos avaliados, os, que continham fungicidas sítio-específicos associados a fungicidas multissítios apresentaram as menores severidades de mancha-alvo em soja, destacando a importância do emprego dos fungicidas multissítios no manejo dessa doença.
Conforme resultados obtidos pelos autores, as maiores produtividades foram observadas para os tratamentos com bixafem + protioconazol + trifloxistrobina (Fox Xpro) e Mancozebe (Milcozeb) (4.419 kg ha-1), fluxapiroxade + protioconazol (Blavity) e mancozebe (Manfil) (4.310 kg ha-1), mancozebe + protioconazol + picoxistrobina (4.308 kg ha-1), azoxistrobina + Mancozebe + protioconazol (Evolution) (4.307 kg ha-1) e protioconazol + mancozebe (Armero) (4.274 kg ha-1). Em comparação a maior produtividade, os autores observaram que a redução de produtividade ocasionada na testemunha pela incidência da doença foi de 15,8% (tabela 1).
Sendo assim, fica evidente a necessidade de controlar a mancha-alvo, utilizado um adequado posicionamento de fungicidas. No entanto, vale lembrar que o manejo dessa doença tem início ainda no período pré-soja, com a rotação de culturas não hospedeiras, com o uso de sementes sadias e o tratamento de sementes com fungicidas apropriados.
Tabela 1. Severidade da mancha-alvo (SEV), porcentagem de controle em relação à testemunha sem fungicida (%C), produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (%RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos. Média de 17 locais para severidade e 13 locais para produtividade. Safra 2022/2023.
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Referências:
ASSONI, G. Mancha-alvo e os impactos na safra 19/20 da soja. BASF. Disponível em: < https://agriculture.basf.com/br/pt/conteudos/cultivos-e-sementes/soja/Mancha-alvo-e-os-impactos-na-safra-1920-da-soja.html#:~:text=Para%20a%20cultivar%20de%20soja,et%20al.%2C%202019). >, acesso em: 06/02/2024.
GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA MANCHA-ALVO, Corynespora cassiicola, NA CULTURA DA SOJA, NA SAFRA 2019/2020: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 159, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1123555/1/Circ-Tec-159-de-2020.pdf >, acesso em: 06/02/2024.
GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA MANCHA-ALVO, Corynespora cassiicola, NA CULTURA DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 194, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154756/1/Circ-Tec-194.pdf >, acesso em: 06/02/2024.
HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, Documentos, n. 256, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 06/02/2024.
MOLINA, J. P. E. et al. EFFECT OF TARGET SPOT ON SOYBEAN YIELD AND FACTORS AFFECTINGTHIS RELATIONSHIP. Plant Pathology, 2019. Disponível em: < https://bsppjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/ppa.12944 >, acesso em: 06/02/2024.
MOLINA, J. P. E. et al. META-ANALYSIS OF FUNGICIDE EFFICACY ON SOYBEAN TARGET SPOTAND COST–BENEFIT ASSESSMENT. Plant Pathology, 2019. Disponível em: < https://bsppjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/ppa.12925 >, acesso em: 06/02/2024.
PIVOTTO, A. RESPONSIVIDADE DE CULTIVARES DE SOJA AO CONTROLE QUÍMICO DA MANCHA ALVO. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Trabalho de Conclusão de Curso, 2023. Disponível em: < https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/32988/1/sojacontrolemanchaalvo.pdf >, acesso em: 06/02/2024.
SOARES, R. M.; GODOY, C. V.; OLIVEIRA, M. C. N. ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA AVALIAÇÃO DA SEVERIDADE DA MANCHA DA SOJA. Tropical Plant Pathology, 2009. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/tpp/a/ZMwg39dYKTvktLHLpZ8pgdt/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 06/02/2024.
Foto de capa: Maurício Stefanelo – Ceres Consultoria