Embora seja considerada uma das doenças de final de ciclo da soja (DFC), a mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, pode manifestar-se ainda nas fases iniciais de desenvolvimento da cultura, desde que haja inóculo e condições ambientais favoráveis ao patógeno. O fungo é considerado policíclico, ou seja, possui mais de um ciclo ao longo do desenvolvimento da soja, o que dificulta seu controle efetivo, resultando em novos fluxos da doença.

Os sintomas iniciais da doença caracterizam-se por pequenas pontuações pardas cercadas por um halo amarelado, que evoluem para manchas circulares de coloração castanho-clara a castanho-escura, podendo atingir até 2 cm de diâmetro. Comumente, apresentam uma pontuação central mais escura, conferindo o aspecto típico de “alvo”. Em cultivares suscetíveis, a infecção pode resultar em intensa desfolha, além da formação de manchas pardo-avermelhadas nas hastes e vagens, podendo também infectar raízes (Soares et al., 2023).

Figura 1. Sintomas da mancha alvo em folhas de soja, com lesões arredondadas, centro escuro com presença de um ponto escuro, e bordas escurecidas em diferentes tonalidades (anéis concêntricos).
Fonte: GODOY et al., 2020; GODOY et al., 2021b.

De acordo com Soares et al. (2023), o desenvolvimento da mancha-alvo é favorecido por condições de alta umidade relativa do ar e temperaturas amenas, variando entre 18 °C a 32 °C. Além disso, o fungo apresenta ampla gama de hospedeiras, incluindo espécies nativas e cultivadas, o que favorece sua sobrevivência e dificulta a erradicação da doença. Trata-se ainda de um patógeno amplamente distribuído, ocorrendo em praticamente todo o território nacional.

Considerando que condições de elevada umidade tendem a favorecer o desenvolvimento da mancha-alvo, o pós fechamento das entrelinhas da soja, e o adensamento do dossel da cultura em conjunto com alta umidade, podem a acelerar os casos de infecção e danos proporcionados à cultura. Normalmente, por concentrar uma maior umidade e menor circulação de ar, os terços médio e inferior da planta tendem a ser mais afetados pelo desenvolvimento da mancha-alvo, e portanto são os mais prejudicados pela doença.

Atrelado a isso, há uma maior dificuldade em acessar os terços médio e inferior da planta para a aplicação de fungicidas, o que compromete a eficácia do controle, resultando em danos à cultura. Dentre os principais danos ocasionados pela mancha-alvo em soja, destaca-se a redução da área fotossintética da planta (dano ocasionado pelas lesões), resultando na redução da capacidade fotossintética da planta, e consequentemente redução da produção e translocação de fotoassimilados para os grãos, impactando negativamente a produtividade da cultura. Em casos mais severos, os danos ocasionados pela mancha-alvo podem até mesmo causar a desfolha prematura das plantas, comprometendo a produção.

Figura 2. Escala diagramática para avaliação da severidade da mancha alvo da soja.
Fonte: Soares et al. (2009)

Grigolli & Grigolli (2019) destacam que a partir de 25% a 30% de severidade da doença, já é possível observar perdas significativas de produtividade da soja. Dependendo da suscetibilidade da cultivar e severidade da doença, perdas de produtividade de até 40% podem ser observadas em soja, caso as devidas medidas de controle não sejam adotadas (Godoy et al., 2023).

Ao avaliar a relação entre a severidade da mancha-alvo e a redução da produtividade da soja, Molina et al. (2019) observaram que esse efeito pode estar condicionado a cultivar e ao grau de severidade da doença. De acordo com os resultados observados pelos autores, pode-se dizer que em lavouras com produtividade média de 3.500 kg ha⁻¹, cada aumento de 10% na severidade da mancha-alvo pode resultar em perdas próximas de 168 kg ha⁻¹. Contudo, a magnitude desse impacto depende do nível de suscetibilidade da cultivar. Em materiais considerados tolerantes, a redução é estimada em cerca de 77 kg ha⁻¹, ao passo que, em cultivares suscetíveis, as perdas podem atingir quase 300 kg ha⁻¹.

Figura 3. Regressão linear ajustada geral e intervalo de confiança de 95% (área sólida preta e área sombreada cinza) e linhas específicas do estudo (linhas cinzas) para relações entre o rendimento da soja e a severidade da mancha-alvo para 41 estudos de fungicidas realizados no Brasil nas safras de 2012 a 2016 (Molina et al., 2019).
Adaptado: Molina et al. (2019)

Molina et al. (2019) destacam que, para o presente estudo, a perda estimada de produtividade com 50% de severidade da mancha-alvo variou de 8% a 42%, sendo que, a cultivar também demonstrou efeito significativo sobre a intensidade da redução da produtividade devido à mancha-alvo, que variou de 11% a 42%, dependendo da cultivar.

Tem em vista o impacto econômico que a mancha-alvo pode ocasionar em soja, adotar estratégias de manejo que possibilitem um controle efeito da doenças é determinante para a manutenção do potencial produtivo da cultura. Considerando que há variação entre cultivares de soja quanto a suscetibilidade á doença, o uso de cultivares resistentes é uma das principais estratégias de manejo da mancha-alvo, aliada ao tratamento de sementes com fungicidas, a rotação de culturas com espécies não hospedeiras, o controle químico com o emprego de fungicidas e a rotação de fungicidas no programa fitossanitário.

Visando um controle químico eficiente, é importante atentar para o posicionamento dos fungicidas. Mesmo considerando a necessidade de controlar outras doenças na área de cultivo, é importante inserir fungicidas com eficácia comprovada de controle da mancha-alvo no programa fitossanitário. Um dos fungicidas com aptidão para isso é o EXCALIA MAX, fungicida com ingredientes ativos pertencentes aos grupos das carboximadas e triazóis, e registrado tanto para o controle da mancha-alvo em soja, como também para outras doenças da cultura, como ferrugem-asiática, mancha-parda, crestamento foliar e podridão dos grãos e sementes (anomalia das vagens).

Atualmente, 168 produtos apresentam registro junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) para o controle da mancha-alvo em soja (Agrofit, 2025). Em meio a essa diversidade de opções, adotar um bom posicionamento dos fungicidas no programa fitossanitário é crucial para o sucesso do manejo. Nesse sentido, deve-se buscar fungicidas com boa performance no controle da mancha-foliar em soja, mas que também demonstrem controle satisfatórios de outras doenças.

Sobretudo, assim como o posicionamento de herbicidas no programa fitossanitário, o momento de aplicação desempenha papel determinante no sucesso do controle, e para tanto, deve-se intensificar o monitoramento da lavoura, especialmente sob condições ambientais adequadas para o desenvolvimento da mancha-alvo. Além disso, é crucial adotar medidas integradas de manejo como as supracitadas, possibilitando não só o aumento da produtividade, como também rentabilidade e sustentabilidade da lavoura.

Referências:

AGROFIT. CONSULTA DE PRAGA/DOENÇA. Ministério da Agricultura e Pecuária, 2025. Disponível em: < https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons >, acesso em: 14/08/2025.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA MANCHA-ALVO, Corynespora cassiicola, NA CULTURA DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, circular técnica, 194. Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1154756/1/Circ-Tec-194.pdf >, acesso em: 14/08/2025.

GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO DE DOENÇAS NA CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção: Safra 2018/2019, cap. 6, Fundação MS. Maracaju – MS, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 14/08/2025.

MOLINA, J. P. E. et al. EFFECT OF TARGET SPOT ON SOYBEAN YIELD AND FACTORS AFFECTINGTHIS RELATIONSHIP. Plant Pathology, 2019. Disponível em: < https://bsppjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/ppa.12944 >, acesso em: 14/08/2025.

MOLINA, J. P. E. et al. META-ANALYSIS OF FUNGICIDE EFFICACY ON SOYBEAN TARGET SPOTAND COST–BENEFIT ASSESSMENT. Plant Pathology, 2019. Disponível em: < https://bsppjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/ppa.12925 >, acesso em: 14/08/2025.

SOARES, R. M. et al. ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA AVALIAÇÃO DA SEVERIDADE DA MANCHA ALVO DA SOJA. Tropical Plant Pathology, v. 34, n.5, 2009.Disponível em: < https://www.scielo.br/j/tpp/a/ZMwg39dYKTvktLHLpZ8pgdt/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 14/08/2025.

SOARES, R. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa Soja, Documentos, n. 256, ed. 6, 2023. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1158639 >, acesso em: 14/08/2025.

Foto de capa: Maurício Stefanelo – Ceres Consultoria

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