Os nematóides representam uma ameaça para a produtividade da cultura da soja, trata-se de vermes microscópicos encontrados em diversos ambientes, inclusive nas próprias plantas. Conhecidos como fitonematoides, esses parasitas atacam principalmente as raízes das plantas hospedeiras, podendo causar danos severos e comprometer o rendimento da lavoura. No Brasil, as perdas anuais por fitonematoides estão estimadas em mais de 35 bilhões de reais (Dias-Arieira et al., 2022).
De maneira geral, os fitonematoides se alimentam das plantas através de seu estilete bucal. Ao atacar as raízes, eles inserem esse estilete nas células, removendo o conteúdo celular e impedindo a absorção de água e nutrientes pela planta (Agro Bayer Brasil, 2022).
Além de ocasionarem diversos danos às plantas parasitadas, os nematoides participam de complexos de doenças de diferentes formas. Eles podem criar portas de entrada para outros patógenos, modificar a rizosfera, favorecendo o crescimento de outros agentes patogênicos, atuar como vetores de viroses, bactérias e fungos, e alterar a suscetibilidade do hospedeiro a outros patógenos por meio da indução de alterações fisiológicas (Grigolli & Asmus).
De acordo com Dias et al. (2010), mais de 100 espécies de nematoides, envolvendo cerca de 50 gêneros, foram associados ao cultivo da soja em todo o mundo. No entanto, os nematoides considerados mais prejudiciais à cultura são os formadores de galhas (Meloidogyne spp.), o de cisto (Heterodera glycines), o das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o riniforme (Rotylenculus reniformis).
Meloidogyne spp.
Os autores destacam que nas lavouras de soja atacadas por nematóides de galhas, é comum observar manchas em reboleiras, onde as plantas ficam pequenas e amareladas. As folhas das plantas afetadas geralmente apresentam manchas cloróticas ou necroses entre as nervuras, caracterizando o que é conhecido como folha “carijó”. Nas raízes, é possível observar galhas em números e tamanhos variados, dependendo da suscetibilidade da cultivar e da densidade populacional de nematoides no solo.
Figura 1. Sintomas causados pelos nematóides-das-galhas em lavoura de soja: A – Lavoura de soja, com reboleira, apresentando folhas carijós; B – Formação de nodosidades nas raízes, galhas.
Heterodera glycines
O nematóide de cisto da soja penetra nas raízes das plantas, prejudicando a absorção de água e nutrientes. Isso resulta em plantas de porte reduzido e clorose na parte aérea, o que caracteriza a doença conhecida como nanismo amarelo da soja. Os sintomas geralmente aparecem em reboleiras próximas a estradas ou carreadores. Normalmente, as plantas de soja acabam morrendo. No entanto, em regiões com solos mais férteis e boa distribuição de chuva, os sintomas na parte aérea podem não ser evidentes. Portanto, o diagnóstico definitivo requer sempre a observação do sistema radicular (Grigolli & Grigolli, 2018).
Figura 2. Nematóide de cisto da soja Heterodera glycines: cistos e nódulos nas raízes de soja.
Pratylenchus brachyurus
O nematóide das lesões radiculares, conforme Seixas et al. (2020), é amplamente disseminado no Brasil. Apesar da intensidade dos sintomas apresentados pelas lavouras de soja atacadas por P. brachyurus depender de alguns fatores, como a textura do solo, é comum observar, de forma aleatória, reboleiras onde as plantas ficam menores, mas permanecem verdes. Nas plantas parasitadas, as raízes geralmente apresentam-se parcial ou totalmente escurecidas devido ao ataque às células do parênquima cortical, onde o patógeno injeta toxinas durante o processo de alimentação.
Rotylenculus reniformis
O R. reniformis, por outro lado, é mais comum na cultura do algodão, embora também possa provocar danos na cultura da soja. Os sintomas provocados por esse nematoide diferem daqueles causados por outros tipos. Nas lavouras de soja afetadas, observa-se uma expressiva desuniformidade, com extensas áreas de plantas subdesenvolvidas que frequentemente se assemelham a problemas de deficiência mineral ou de compactação do solo (Seixas et al., 2020).
Estratégias de manejo e controle de nematóides
O controle de nematóides é considerado bastante complexo, tornando necessária a implementação de um manejo integrado para um manejo eficiente. Segundo Favoreto (2019), um dos aspectos essenciais quando se trata do manejo de nematoides é a tomada de decisão. Até o momento, não existe um índice considerado seguro para classificar as populações como baixas, intermediárias ou altas. Isso se deve aos danos variáveis causados à cultura, os quais dependem de uma série de fatores, como o sistema de cultivo adotado e as espécies de nematoides presentes na área.
O controle de nematoides requer a correta identificação do mesmo. Em áreas infestadas, é essencial implementar a rotação de culturas, realizar a correta lavagem de equipamentos e controlar o tráfego na lavoura para evitar a disseminação para áreas não infestadas. O manejo adequado do solo também é fundamental, e todas essas medidas devem ser adotadas em conjunto para garantir a eficácia do controle.
Além disso, recomenda-se o uso de cultivares resistentes, que é considerado o método mais econômico e eficaz para o controle de nematoides. Conforme destacado por Arias et al. (2022), a redução da população de nematoides no solo é o principal benefício da utilização de cultivares resistentes, uma vez que estas impedem ou reduzem a reprodução do patógeno nas raízes das plantas. O controle biológico também é uma estratégia promissora, podendo ser associado às demais práticas de manejo.
Veja mais: Como o controle de plantas daninhas auxilia no manejo de fitonematoides?
Referências:
AGRO BAYER BRASIL. CONHECA OS PRINCIPAIS NEMATOIDES DA SOJA. Agro Bayer Brasil, 2022. Disponível em: < https://www.agro.bayer.com.br/conteudos/conheca-os-principais-nematoides-da-soja >, acesso em: 23/04/2023.
ARIAS, C. A. A. CONTRIBUIÇÃO DO MELHORAMENTO GENÉTICO DA SOJA PARA O MANEJO DE DOENÇAS E PRAGAS. Bioinsumos na Cultura da Soja, cap. 3. Embrapa, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/234840/1/Bioinsumos-na-cultura-da-soja.pdf >, acesso em: 23/04/2023.
DIAS, W. P. et al. NEMATOIDES EM SOJA: IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE. Embrapa, circular técnica, 76. Londrina – PR, 2010. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPSO-2010/30766/1/CT76-eletronica.pdf >, acesso em: 23/04/2023.
DIAS-ARIEIRA, C. R. et al. MANEJO BIOLÓGICO DE NEMATOIDES. . Bioinsumos na Cultura da Soja, cap. 20. Embrapa, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/234840/1/Bioinsumos-na-cultura-da-soja.pdf >, acesso em: 23/04/2023.
FAVORETO, L. et al. DIAGNOSE E MANEJO DE FITONEMATOIDES NA CULTURA DA SOJA. Informe Agropecuário, v. 40, n. 306, p. 18-29. Belo Horizonte – MG, 2019. Disponível em: < https://www.researchgate.net/profile/Mauricio-Meyer/publication/344755488_Diagnose_e_manejo_de_fitonematoides_na_cultura_da_soja/links/5f8e38c7a6fdccfd7b6e844e/Diagnose-e-manejo-de-fitonematoides-na-cultura-da-soja.pdf >, acesso em: 23/04/2023.
GRIGOLLI, J. F. J.; ASMUS, G. L. MANEJO DE NEMATOIDES NA CULTURA DA SOJA. Nematoides da Soja, cap. 9. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/985986/1/cap.9.pdf >, acesso em: 23/04/2023.
GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO DE NEMATOIDES NA CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção Safra 2017/2018, Fundação MS, cap. 7. Maracaju – MS, 2018. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/httpswww.fundacaoms.org_.brpublicacoestecnologia-e-producao-safratecnologia-producao-soja-2017-2018.pdf >, acesso em: 23/04/2023.
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