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Manejo de pragas com fungos entomopatogênicos

O manejo integrado de pragas (MIP) se fundamenta na aplicação de várias abordagens de controle, incluindo a utilização de plantas resistentes, inseticidas seletivos aos inimigos naturais, medidas culturais, uso de parasitoides, predadores e patógenos. O controle biológico com entomopatógenos refere-se à utilização de microrganismos como fungos, vírus, bactérias, nematoides e protozoários no controle de pragas (Valicente, 2009).

A estratégia do manejo integrado de pragas com a utilização de fungos entomopatogênicos (FE) é considerada uma importante ferramenta a ser utilizada em conjunto com outras estratégias de manejo, ela possui o propósito de reduzir as populações de pragas a níveis considerados economicamente viáveis. Além disso, esses agentes de controle desempenham um papel importante no manejo de populações de insetos resistentes ao controle químico, contribuindo ao proporcionar melhora na eficiência de produtos já disponíveis (Potrich et al., 2022).

Os fungos entomopatogênicos realizam o controle biológico de forma “silenciosa” ou “pouco visível”, conforme destacam Potrich et al. (2022), por se tratar de microrganismos, muitas vezes, os sintomas de seu ataque nas pragas podem ser pouco perceptíveis. Sendo que o principal indicativo de ataque é a morte do inseto, no entanto, por ser um agente biológico, durante o processo de ação dos fungos entomopatogênicos, podem ocorrer sintomas como a redução da alimentação e oviposição dos insetos atacados.  As características principais de atuação dos fungos ao infectar a praga são induzir a redução da alimentação do hospedeiro, provocando a lentidão nos movimentos, além disso, o corpo do inseto atacado tende a inchar e fica coberto pelo fungo (Gravena, 2015).

Conforme destaca Gravena (2015), os fungos entomopatogênicos invadem os insetos ao penetrar em suas cutículas ou “pele”, uma vez no interior do inseto, eles se multiplicam de forma muito rápida. A morte do inseto é ocasionada devido a destruição e a produção de toxinas pelos fungos. Os fungos produzem esporos, os quais são dispersos pelo vento, chuva, bem como pelo contato com outro insetos, potencializando a disseminação e infecção na área em que estão presentes. A umidade relativa do ar e a temperatura são fatores que influenciam o processo de infecção, os fungos entomopatogênicos necessitam de umidade elevada e temperaturas amenas para propiciar a infecção no hospedeiro (Valicente, 2009).

Figura 1. Representação esquemática do ciclo de infeção do fungo Beauveria bassiana.

Fonte: Di Domenico (2019) apud. Potrich (2022).

Os principais gêneros de fungos comercialmente disponíveis no mercado para o controle de pragas na cultura da soja incluem Beauveria spp., Metarhizium spp. e Isaria spp.

O Beauveria bassiana é frequentemente utilizado em conjunto com outras espécies do gênero Beauveria, em formulações como monoinseticidas, destinados ao controle de várias espécies de insetos-praga, entre elas a Bemisia tabaci, Dalbulus maidis, Diabrotica speciosa, Euschistus heros, entre outras. Além disso, o Beauveria bassiana apresenta vantagens de possuir uma ampla gama de hospedeiros e pode ser produzido em larga escala com relativa facilidade (Potrich et al., 2022).

Silva (2021) destaca que todas as culturas que apresentem uma praga-alvo podem receber a aplicação de produtos que contenham Beauveria bassina em sua formulação como ingrediente ativo, a autora destaca que esses bioinseticidas possuem um amplo espectro de ação, controlando uma vasta gama de pragas em diferentes estádios de desenvolvimento.

Figura 2. Ninfa de percevejo-marrom (Euschistus heros) infectado por Beauveria bassiana.

Foto: Renan Quisini (2022).

O gênero Metarhizium é composto por várias espécies de fungos, no entanto, o Metarhizium anisopliae e Metarhizium rileyi se destacam devido a eficiência no controle de pragas na cultura da soja. O Metarhizium anisopliae é conhecido por causar a chamada “doença-verde” nos insetos, sendo utilizado para o controle de vários insetos em diferentes culturas agrícolas.

O M. rileyi é conhecido por desencadear epizootias e controlar populações de lagartas de várias espécies de lepidópteros na cultura da soja, sendo um exemplo de controle biológico natural quando em condições adequadas para seu desenvolvimento. No entanto, devido às dificuldades associadas à multiplicação desse fungo em laboratório e à formulação que permita manter sua viabilidade até ser aplicado no campo, até 2022 não havia produtos comerciais registrados à base de M. rileyi (Potrich et al., 2022). No entanto, em 2022 o Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas da Secretaria de Defesa Agropecuária, oficializou o registro de 46 defensivos, dentre eles um à base de Metarhizium riley, Cepa CCT7771 aprovado para uso na agricultura orgânica (MAPA, 2022).

Figura 3. Percevejo-marrom (Euschistus heros) (Hemiptera: Pentatomidae) infectado por Metarhizium anisopliae.

Foto: Rodrigo Mendes Antunes Maciel (2022).

A espécie Isaria fumosorosea é um fungo de crescimento rápido que produz colônias de coloração branca, passando a uma coloração purpura a tons de rosa a medida em que se desenvolvem. Essa espécie apresenta distribuição mundial, sendo considerado um agente de controle em expansão no controle biológico, principalmente devido ao controle de mosca-branca (B. tabaci).

Além de ser considerado um agente de controle, a I. fumosorosea também possui potencial de produzir toxinas como a proteína IF8 e beauvericina, que desempenham um papel importante ao auxiliar no processo de infecção do hospedeiro pelo fungo (Potrich et al., 2022).



Conforme destacado por D’Alessandro (2015), estudos indicam que a aplicação de conídios de I. fumosorosea em populações de B. tabaci tem potencial de causar a morte de 60 a 80% de adultos, e mais de 70% de ninfas dessa praga. A autora destaca que a eficiência de controle utilizando esse fungo em condições de campo está relacionada principalmente com a tecnologia de aplicação e o momento de aplicação no controle da mosca-branca.

Figura 4. Percevejos-marrom (Euschistus heros) (Hemiptera-Pentatomidae) infectados por Isaria fumosorosea.

Foto: Adair V. Carneiro (2022).

O controle de pragas por meio de fungos entomopatogênicos é uma alternativa de controle biológico que pode proporcionar uma série de benefícios ao sistema produtivo ao integrá-lo como uma ferramenta do manejo integrado de pragas, dado o potencial de controle de várias espécies de insetos-praga em diferentes culturas de interesse agrícola.

No entanto, é importante considerar as condições ideias para a aplicação de produtos à base de fungos na lavoura, visto que uma série de fatores podem interferir na eficiência desses produtos. Ao proporcionar a condições ideais, é possível garantir o desenvolvimento do fungo para que possa efetuar um controle eficiente das pragas na lavoura, minimizando assim, o emprego de controle químico e tornando o sistema produtivo mais sustentável.


Veja mais: Controle Biológico de Pragas



Referências:

D’ALESSANDRO, C. P. FUNGO Isaria fumosorosea É USADO NO CONTROLE BIOLÓGICO DA MOSCA-BRANCA. Revista Campo e Negócio, 2015. Disponível em: < https://revistacampoenegocios.com.br/fungo-isaria-fumosorosea-e-usado-no-controle-biologico-da-mosca-branca/ >, acesso em: 31/10/2023.

GRAVENA, S. OS FUNGOS NO CONTROLE DE INSETOS. Revista Cultivar, 2015. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/os-fungos-no-controle-de-insetos >, acesso em: 31/10/2023.

MAPA. NOVOS PRODUTOS DE BAIXO IMPACTO PARA O CONTROLE DE PRAGAS TÊM REGISTRO PUBLICADO. Ministério da Agricultura e Pecuária, Defesa Agropecuária, 2022. Disponível em: < https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias-2022/novos-produtos-de-baixo-impacto-para-o-controle-de-pragas-tem-registro-publicado >, acesso em: 31/10/2023.

POTRICH, M. et al. MANEJO DE PRAGAS COM FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS. Bioinsumos na cultura da soja, cap. 23. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/234840/1/Bioinsumos-na-cultura-da-soja.pdf >, acesso em: 31/10/2023.

SILVA, M. R. COMO UTILIZAR Beauveria bassiana PARA UM CONTROLE EFICIENTE DE INSETOS NA LAVOURA. Mais Soja, 2021. Disponível em: < https://maissoja.com.br/como-utilizar-beauveria-bassiana-para-um-controle-eficiente-de-insetos-na-lavoura/ >, acesso em: 31/10/2023.

VALICENTE, F. H. CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS COM ENTOMOPATÓGENOS. Informe agropecuário, v. 30, n. 251, p. 48-55. Belo Horizonte – MG, 2009. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/59837/1/Controle- biologico.pdf  >, acesso em: 31/10/2023.

Foto de capa: Daniel Sosa-Gómez.

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Equipe Mais Soja
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