Uma das plantas daninhas mais preocupantes em lavouras de trigo é o azevém (Lolium multiflorum), planta conhecida no Sul do Brasil, por sua versatilidade como planta forrageira na formação de pastagens, mas que, em meio a cultura do trigo ou de outros cereais inverno, assume o papel de planta daninha.
Quando associado a outras espécies de plantas daninhas, a exemplo do nabo-forrageiro, o azevém pode causar reduções de produtividade superiores a 50% no trigo, dependendo da densidade populacional das plantas daninhas e estádio do desenvolvimento do trigo (Luz et al., 2017).
Por pertencer a mesma família do trigo (Poaceae), o controle químico do azevém em trigo apresenta um número limitado de opções. No entanto, além disso, um dos principais fatores que torna o controle dessa planta daninha extremamente complexo é sua resistência a determinados herbicidas.
O primeiro caso de resistência do azevém a herbicidas no Brasil foi relatado em 2003, ao herbicida glifosato (inibidor da EPSPs). Em 2010, casos de resistência simples e múltipla foram relatados, respectivamente aos herbicidas inibidores da ALS (iodosulfuron-metil-Na) e aos herbicidas EPSPs e ACCase (cletodim e glifosato) (Heap, 2023).
E não para por ai, nos anos de 2016 e 2017, novos casos de resistência do azevém a herbicidas foram relatados no Brasil, em 2016 aos herbicidas inibidores da ACCase e ALS (clethodim e iodosulfuron-methyl-Na) e em 2017 aos herbicidas inibidores da EPSPs e ALS (glifosato, iodosulfuron-metil-Na e piroxsulam) (Heap, 2023).
Figura 1. Evolução dos casos de relato da resistência do azevém a herbicidas no Brasil.

Levando em consideração em há certa dificuldade em posicionar produtos para o controle pós emergente do azevém em trigo em função da seletividade dos produtos, é essencial buscar alternativas de manejo que contribuam para a manutenção da eficiência e funcionalidade dos herbicidas atuais.
Visando o manejo da resistência do azevém a herbicidas, um fenômeno tem dificultado esse manejo. O custo adaptativo (“fitness cost”) pode ser compreendido como efeitos pleiotrópicos negativos que um indivíduo sofre ao adaptar-se a um novo ambiente (neste caso a pressão de seleção do herbicida), em comparação ao seu ambiente original (HRAC-BR, 2023).
Esse fenômeno pode proporcionar elevado impacto no desenvolvimento das plantas resistentes. Na ausência de pressão de seleção pelo herbicida, os indivíduos suscetíveis se sobressaem sobre os resistentes pela maior capacidade competitiva (HRAC-BR, 2023).
Dentre os principais efeitos pleiotrópicos em populações resistentes, o HRAC-BR destaca a redução da capacidade de acúmulo de biomassa, do potencial de produção de sementes, da taxa de germinação e a modificação do ciclo de desenvolvimento em populações resistentes se comparadas às suscetíveis, ou seja, através da expressão de efeitos pleiotrópicos, o azevém resistente tem demonstrado capacidade adaptativa.
Visando garantir a manutenção da eficiência e eficácia de controle dessa planta daninha, estratégias de manejo alternativas necessitam ser adotadas, a exemplo do estabelecimento da lavoura “no limpo”, do controle entressafra das plantas daninhas e do emprego de herbicidas pré-emergentes.
Vale destacar que as alternativas de herbicidas pré-emergentes para o trigo são restritas atualmente aos herbicidas registrados pendimetalina, piroxasulfona, flumioxazina; trifluralina e s-metolacloro; ou em fase de pesquisa como: bixlozona (isoflex) e cinmetilina (Rizzardi, 2021).
Embora haja poucas opções, se bem empregados, os herbicidas pré-emergentes podem contribuir significativamente para o manejo do azevém em trigo, reduzindo a matocompetição dessa daninha com o trigo no período inicial do desenvolvimento da cultura, e até mesmo, reduzindo os fluxos de emergência do azevém.
Veja mais: Controle químico do azevém
Referências:
HEAP, I. THE INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE, 2023. Disponível em: < http://www.weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 05/07/2023.
HRAC-BR. SAIBA MAIS SOBRE Lolium multiflorum. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, 2023. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/saiba-mais-sobre-lolium-multiflorum >, acesso em: 05/07/2023.
LUZ, A. C. P. et al. INTERFERÊNCIA DA CONVIVÊNCIA DE POPULAÇÕES DE AZEVÉM E NABO NOS COMPONENTES DE RENDIMENTO DO TRIGO. Anais do 9º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – SIEPE, 2017. Disponível em: < https://guri.unipampa.edu.br/uploads/evt/arq_trabalhos/13914/seer_13914.pdf >, acesso em: 05/07/2023.
RIZZARDI, M. A. HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES EM TRIGO: UMA TENDÊNCIA QUE VEIO PARA FICAR. Up. Herb: Academia das Plantas Daninhas, 2021. Disponível em: < https://upherb.com.br/int/herbicidas-pre-emergentes-em-trigo-uma-tendencia-que-veio-para-ficar#:~:text=O%20uso%20de%20herbicidas%20pr%C3%A9,na%20p%C3%B3s%2Demerg%C3%AAncia%20da%20cultura. >, acesso em: 05/07/2023.
RIZZARDI, M. A. MANEJO QUÍMICO: COMO CONTROLAR O AZEVÉM NO TRIGO? Up. Herb: Academia das Plantas Daninhas, 2023. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/int/como-controlar-o-azevem-no-trigo >, acesso em: 05/07/2023.
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