Tema de discussão frequente na agricultura, o manejo do Fósforo (P) divide opiniões, especialmente se tratando de modos de aplicação dos fertilizantes fosfatados. Por ser considerado um nutriente praticamente imóvel no solo (Pereira, 2009), com uma complexa dinâmica de baixa mobilidade, é consenso que o Fósforo deve ser aplicado preferencialmente via sulco, principalmente em sistemas de cultivo onde há a necessidade de se realizar a correção dos teores nutricionais de P no solo.

Em virtude da grande quantidade requerida de P para correção em alguns solos, a adubação em cobertura seguida pela incorporação do fertilizante no solo é uma recomendação de manejo, em solos com disponibilidade de P muito baixa, em que são necessárias doses superiores a 100 kg ha-1 de P2O5 (Sousa et al., 2016), especialmente se tratando da implantação do sistema plantio direto, aproveitando o momento da calagem e correção de outros nutrientes quando necessário.

A capacidade do solo em adsorver Fósforo é em média 1.000 vezes superior que a adubação fosfatada geralmente aplicada em culturas agrícolas, resultando que em condições naturais, normalmente se tenha uma tendência a deficiência de Fósforo Vilar & Vilar (2013). Dessa forma, a adubação fosfatada torna-se essencial safra após safra, não somente para suprir o requerimento nutricional da cultura, mas também para adequar os níveis nutricionais no solo.

Existe uma relação conhecida entre os níveis de Fósforo no solo (muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto), com o rendimento das culturas agrícolas, em especial as produtoras de grãos. Pode-se dizer que o limite entre os níveis médio e alto é considerado o ponto crítico para a obtenção de boas produtividades, sendo possível observar respostas positivas de rendimento em função do aumento dos teores de Fósforo no solo.



Figura 1. Representação de uma curva de calibração de resposta de plantas em termos de rendimento relativo em função dos teores de P disponível no solo, adubação fosfatada requerida para as diferentes classes de disponibilidade do nutriente no solo.

Adaptado: CQFS-RS/SC (2004), apud. Rheinheimer et al. (2020)

Embora a recomendação do modo de aplicação de fertilizantes fosfatados seja baseada principalmente na aplicação desses fertilizantes em linha (no sulco), Estudos conduzidos pela Fundação MT demonstram que dependendo das condições do solo, em especial dos níveis de fósforo, a adubação de P a lanço pode não apresentar resultados de produtividade tão discrepantes em relação a adubação em linha.

Conforme resultados observados em quatro safras analisadas, Semler et al. destacam que os níveis de P no solo exercerem influência sobre as respostas produtivas da soja em função do modo de aplicação do fertilizante fosfatado, sendo que em áreas com níveis muito baixos, baixos, médios ou adequados obrigatoriamente a adubação fosfatada deve ser realizada no sulco (Semler et al.).

Em áreas corrigidas quimicamente com níveis altos ou muito altos, vindos de um bom sistema convencional no passado, e com bom sistema de plantio direto atualmente, devem ser considerados outros fatores: regularidade climática, cobertura vegetal permanente e ausência atual ou de qualquer possibilidade a longo prazo de escorrimentos superficiais que possam ocasionar erosões. Caso a área atenda todos os critérios citados é possível adotar a prática de adubação fosfatada em superfície sem prejuízos, porém é fundamental que haja a interpretação correta caso a caso, pois outras particularidades podem afetar o posicionamento (Semler et al.). Cabe destacar que nas áreas analisadas pelos autores, o solo apresentava inicialmente teor alto de P na camada de 0-10 cm.

Figura 2. Produtividade de soja por quatro safras (2016/17 a 2019/20). Centro de Aprendizagem e Difusão- CAD Parecis.

Fonte: Semler et al.

Embora a adubação fosfatada em superfície não seja considerada uma recomendação ortodoxa, com base nos resultados apresentados por Semler et al., pode-se dizer que em algumas situações em específico (níveis altos ou muito altos de P), essa pode ser uma alternativa de manejo, principalmente se tratando de solos leves, sobretudo pelo efeito residual dos altos níveis do nutriente no solo. Conduto, não se deve desconsiderara o acompanhamento dos níveis de P no solo, sendo recomendada a análise química da fertilidade do solo, safra após safra para adequação dos níveis de P e demais nutrientes quando necessário.

Referências:

PEREIRA, H. S. NUTRIENTES: FÓSFORO E POTÁSSIO EXIGEM MANEJOS DIFERENCIADOS. Visão Agrícola, n. 9, 2009. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA9-Fertilidade04.pdf >, acesso em: 08/09/2022.

RHEINHEIMER, D. S. et al. CICLO BIOGEOQUÍMICO DO FÓSFORO, DISGNÓSTICO DE DISPONIBILDIADE E ADUBAÇÃO FOSFATADA. Porto Alegre, 2020. Disponível em: < https://www.researchgate.net/profile/Danilo-Dos-Santos/publication/345729958_Ciclo_biogeoquimico_do_fosforo_diagnostico_de_disponibilidade_e_adubacao_fosfatada/links/5fabf9b2a6fdcc331b949caa/Ciclo-biogeoquimico-do-fosforo-diagnostico-de-disponibilidade-e-adubacao-fosfatada.pdf >, acesso em: 08/09/2022.

SEMLER, T. et al. MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA (FÓSFORO) EM SOLOS LEVES RESULTADOS CAD PARECIS. Fundação MT, Aprosoja Mato Grosso. Disponível em: < http://www.aprosoja.com.br/download/bJFjbzXxq3 >, acesso em: 08/09/2022.

SOUSA, D. M. G. MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA PARA CULTURAS ANUAIS NO CERRADO. Embrapa, Circular Técnica, n. 33, 2016. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/154889/1/CT-33.pdf >, acesso em: 08/09/2022.

VILAR, C. C.; VILAR, F. M. COMPORTAMENTO DO FÓSFORO EM SOLO E PLANTA. Revista Campo Digital, v. 8, n. 2, dezembro, 2013. Disponível em: < https://www.researchgate.net/publication/267209917_Artigo_de_Revisao_-_COMPORTAMENTO_DO_FOSFORO_EM_SOLO_E_PLANTA_-_PHOSPHORUS_BEHAVIOR_IN_SOIL_AND_PLANT >, acesso em: 08/09/2022.

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