Autor: Dr. Argemiro Luís Brum
A semana foi de fortes oscilações em Chicago, com o bushel voltando a superar os US$ 17,00 em alguns momentos, e se aproximando do recorde histórico naquela Bolsa. O fechamento desta quinta-feira (10) ficou em exatos US$ 17,00/bushel (contrato março), para o primeiro mês cotado, contra US$ 16,80 uma semana antes. Lembrando que o mercado já considera o contrato de maio/22 como o primeiro mês, sendo que este fechou o dia 10/03 em US$ 16,86/bushel.
A continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia, com o aumento das sanções econômicas dos países ocidentais contra a Rússia, aliado aos bloqueios comerciais motivados pelo próprio conflito, e mais a redução constante nas projeções da safra de soja sul-americana, e particularmente a brasileira, devido à seca, fazem o mercado disparar e se manter em níveis elevados. O farelo, por exemplo, se aproximou dos US$ 500,00/tonelada curta em Chicago, algo pouco visto nas últimas décadas, enquanto o óleo de soja voltou a bater seu recorde histórico ao atingir a 80,07 centavos de dólar por libra-peso no dia 09/03 em Chicago.
Somou-se, ainda, a tudo isso o anúncio do relatório de oferta e demanda do USDA, no último dia 09/03, o qual apontou uma redução nos estoques finais estadunidenses de soja, para o corrente ano 2021/22, com os mesmos ficando agora em 7,77 milhões de toneladas, embora o volume colhido na última safra tenha permanecido em 120,7 milhões. Em termos mundiais, a produção total foi reduzida em 10 milhões de toneladas, ficando agora projetada em 353,8 milhões, enquanto os estoques finais mundiais recuaram para 90 milhões de toneladas. Isso se deve ao fato de que o relatório reduziu a safra brasileira, que está sendo colhida, para 127 milhões de toneladas, lembrando que no Brasil os diferentes analistas projetam uma safra ainda menor, ou seja, algo entre 120 e 125 milhões de toneladas. Também foram reduzidas as safras da Argentina e do Paraguai. Os argentinos deverão colher 43,5 milhões de toneladas (os analistas argentinos apontam uma produção ainda menor, ao redor de 40,5 milhões de toneladas), enquanto os paraguaios colheriam apenas 5,3 milhões de toneladas. Em sendo assim, a totalidade da safra sul-americana, do corrente ano, não deverá ultrapassar as 180 milhões de toneladas, quando as expectativas iniciais apontavam mais de 212 milhões a serem colhidas. Por enquanto, tem-se na região uma quebra de pouco mais de 15%, podendo aumentar na medida em que a colheita avança. Enfim, o relatório indicou importações chinesas recuando mais três milhões de toneladas, para ficarem em 94 milhões no ano 2021/22. Com isso, o preço médio aos produtores de soja dos EUA, no corrente ano comercial, está calculado, agora, em US$ 13,25/bushel, ou seja, cerca de US$ 3,50 abaixo do que Chicago vem atualmente praticando.
Portanto, passado o conflito armado no Leste Europeu, mesmo com os efeitos irreversíveis da seca na América do Sul, o potencial de recuo nas cotações em Chicago é bastante grande. Especialmente se os EUA confirmarem aumento em sua área cultivada com a oleaginosa a partir de maio próximo.
Enquanto isso, aqui no Brasil, embora o Real tenha se valorizado, mesmo diante do conflito russo-ucraniano, voltando à casa dos R$ 5,00 por dólar durante a semana, os preços da soja continuaram subindo diante dos fatores adversos já citados. Pela primeira vez na história, o preço nominal da média gaúcha atingiu a R$ 200,00/saco, chegando a R$ 202,22/saco. Ao mesmo tempo, nas demais praças nacionais tais preços oscilaram entre R$ 179,00 e R$ 200,00/saco.
Com o forte aumento nos preços do barril de petróleo no mercado mundial, puxados pela guerra, os valores do óleo de soja dispararam diante de uma maior demanda pelo mesmo. Começa a haver redução nas exportações de óleo de girassol pela Ucrânia, enquanto o óleo de palma está escasso na Indonésia, como já comentamos em semanas passadas. Diante disso, o interesse pelo biodiesel, à base de óleo de soja, volta a crescer no mercado.
Toda esta conjuntura mundial e nacional eleva igualmente os prêmios nos portos brasileiros, os quais chegaram entre US$ 1,50 e US$ 1,65/bushel, em Paranaguá, para o período de março a junho do corrente ano.
Dito isso, a colheita brasileira está estimada, agora, entre 120 e 125 milhões de toneladas, conforme os diferentes organismos de estatística, traders e órgãos públicos no país, lembrando que no início do plantio se projetava até 144 milhões de toneladas.
Já a comercialização desta nova safra avançou para algo entre 48,5% e 55% do total agora esperado, contra a média histórica, para esta data, de 50,4%. Para a futura safra 2022/23 as vendas antecipadas alcançam 7,1% do que se espera colher. (Safras & Mercado e Ag Rural)
Diante de perdas ao redor de 24 milhões de toneladas em relação ao esperado, no Brasil, a produtividade média para este ano deverá cair para 50,4 sacos/hectare no país, sendo esta a mais baixa deste a safra de 2015/16.(cf. AgRural)
Especificamente no Mato Grosso, a colheita atingia a 90,5% da área no início da presente semana, contra a média histórica de 82,9% para esta época. A safra de soja naquele Estado deverá atingir a um recorde de 39,5 milhões de toneladas, com produtividade média acima de 60 sacos/hectare pela primeira vez na história. Em se confirmando dita produção, a mesma será 9,5% superior ao colhido no ano anterior pelo Mato Grosso. Tal performance ajuda a aliviar as grandes perdas ocorridas no sul do país.
Neste sentido, no Rio Grande do Sul novas estimativas dão conta de uma produção final entre 8,9 e 9,5 milhões de toneladas, com perdas superiores a 50% em relação ao esperado. (cf. Emater) Estamos diante da pior safra desde 2012, quando o Estado teria colhido apenas 6,5 milhões de toneladas segundo a Conab. Por sua vez, há regiões em pior estado. O Noroeste gaúcho, por exemplo, vem conseguindo, na região de Ijuí, apenas 12 sacos/hectare de produtividade média, representando uma perda de 80% em relação ao esperado. Em outras tantas regiões há produtores que nem se animam a colher suas lavouras, pois economicamente não vale à pena, tamanho é o estrago causado pela seca.
Já no Paraná, a colheita deverá ficar em 11,6 milhões de toneladas, com quebra ao redor de 42% em relação ao esperado. A colheita neste Estado chegava a 54% da área neste início de semana. (cf. Deral)
Enfim, as exportações brasileiras de soja, em março, devem somar 13,8 milhões de toneladas segundo a Anec, alterando as projeções indicadas na semana anterior, que eram de 11,8 milhões. Lembrando que em março do ano passado o volume exportado chegou a quase 15 milhões de toneladas. A Anec ainda projeta exportações de 1,78 milhão de toneladas em farelo de soja para o mês de março, contra 1,27 milhão em março do ano passado.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).